ARTIGO

A vida não é justa

A vida não é justa

Por Amaury César Soares

Por Amaury César Soares

Publicada há 6 anos

Todas as religiões nos ensinam que Deus é bom e justo. Entretanto, a vida não é justa. Neste nosso mundo, estamos acostumados a conviver com a injustiça. Pessoas boas, corretas, que sempre se conduziram pelo caminho do bem e da justiça, muitas vezes têm uma vida sofrida e cheia de dificuldades.

Paralelamente, pessoas que viveram à margem da lei e da justiça, que ficaram ricas à custa do sofrimento de outros, tiveram uma vida de fartura e plena de realizações. Não conseguimos entender porque tantos justos sofrem, enquanto pessoas más prosperam.

Se andarmos pelas ruas das grandes cidades, veremos, sem muita dificuldade, meninos e meninas, com três, quatro anos de idade, abandonados pelos pais, entregues à própria sorte. Nessa situação, têm que recorrer ao furto e a outros pequenos delitos para sobreviverem. Que chance eles têm de se tornarem pessoas de bem? Muito poucas.

Por outro lado, nos desdobramos para dar aos nossos filhos tudo de melhor que a vida tem a oferecer. Cuidamos de suas vidas com o maior zelo e cuidado. Fazemos de tudo para afastá-los do sofrimento e lutamos para que tenham um futuro seguro e promissor. Por que todos não têm as mesmas chances? Por que uns têm tantas oportunidades de sucesso e outros não têm nada?

O filhote de zebra mal saiu do ventre da mãe, ainda não conseguiu se levantar no meio da savana africana, é avistado por uma leoa, que se aproxima e o devora. A vida foi justa com aquele pequeno filhote de zebra, que mal chegou a nascer? É óbvio que não. A leoa foi má por fazer dele sua presa e matar sua fome? Também não. Ela precisa comer. É da sua natureza: Deus a fez assim. Deus criou o mundo assim.

A vida não é justa.

Em razão desta constatação, alguns duvidam da existência de Deus. Afirmam que, se Ele realmente existisse, não permitiria tal estado de coisas. As religiões procuram explicar a injustiça da vida (conciliando-a com um Deus bom e justo), muitas vezes com teorias que desafiam a lógica. A maioria delas não resiste a uma análise racional.

Eu acredito na existência de Deus. Não consigo aceitar que o universo seja pura obra do acaso. Que tudo isso se criou do nada. A nossa razão nos obriga a aceitar que existe uma inteligência subjacente a todo o funcionamento do universo. É tudo muito maravilhoso para ser obra do acaso. O acaso produz resultados caóticos, que não combinam com a “perfeição” do universo.

Assim, se acreditamos em Deus e acreditamos que Ele é justo, como explicar a injustiça que presenciamos em nosso mundo? Só podemos aceitar uma explicação que nos remeta a outra vida, ou a outras vidas. Assim, esta seria somente uma etapa de uma existência maior, um pequeno trecho de uma estrada mais longa. Dessa forma, talvez, as injustiças que presenciamos aqui, nesta etapa do caminho, possam ser explicadas ao longo de todo o percurso, do qual não temos conhecimento agora.

Acredito, portanto, que a morte não encerra a nossa existência. Acredito que nossa alma é imortal e a vida continua depois que deixamos nosso corpo. Talvez, um dia, possamos entender tudo: que as injustiças da vida não existem, que elas são o resultado da nossa visão limitada das coisas.

Amaury César Soares (professor, agente fiscal de rendas e advogado)

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