“Na televisão, nada se cria, tudo se copia”. Essa era versão do Chacrinha, o velho guerreiro, para a famosa citação do químico francês Antoine Lavoisier que afirma que “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Até Steve Jobs já disse que nada se cria tudo se copia, inclusive o I-Phone. Parece que quase tudo no mundo ultimamente é assim. Então não seria diferente para a turma da propaganda e do marketing, que importou dos Coitados Unidos, digo, Estados Unidos a famosa Black Friday.
Lá, a expressão é utilizada para denominar uma campanha de descontos no comércio que ocorre, anualmente, na quarta sexta-feira de novembro, logo após um dos principais feriados norte-americanos, o Thanksgiving Day (Dia de Ação de Graças).
Tratando-se de ponte ou feriado prolongado, como se costuma chamar por aqui, a maioria das empresas de lá dão folga aos funcionários, inspirando os grandes varejistas na idealização de um dia especial para uma ampla liquidação, como oportunidade para aumentar suas vendas.
Dentre as várias suposições para a origem do termo Black Friday (Sexta-feira Negra, em tradução livre), está a de ter sido criado pelos policiais da cidade de Filadélfia, no estado da Pensilvânia, em meados da década de 1960, para descrever os transtornos causados pela aglomeração de consumidores e seus automóveis no centro daquela metrópole.
Outra teoria sobre o uso da cor black, para referir-se à situação das finanças de um certo empreendimento, já que a expressão “estar no vermelho”, utilizada para indicar que uma empresa está no prejuízo, é traduzida similarmente para o inglês como in the red. Já a expressão de sentido oposto, “estar no azul”, tem seu equivalente em inglês como in the black. Dessa forma, Black Friday indicaria que as finanças de uma empresa estariam bem, ou seja, “no azul” (in the black), como resultado do aumento do faturamento em decorrência dessa campanha de descontos.
Outra razão para a campanha de liquidação é a renovação dos estoques das lojas, objetivando as vendas de final de ano, especialmente as do Natal.
Tal qual acontece com diversos eventos copiados do outras paragens distantes, também a Black Friday, como descrito, é uma questão cultural e, portanto, passa por adaptações em seu novo lar, já que, por aqui, as razões dos descontos não são exatamente as mesmas que as de lá.
Pelos motivos já mencionados, ou por falta de imaginação ou, ainda, porque palavras em inglês usadas em nossa língua parecem coisa chique, a expressão foi mantida na língua original, sem qualquer adaptação ao português.
No entanto, outras modificações foram feitas. Por conveniência financeira, ou melhor, de lucratividade, a sexta-feira black sábado e domingo e, em alguns casos, por osmose “cifrária”, esse único dia tornou-se negro a semana toda.
Por razão cultural, denominada lisura brasiliensis em latim vulgar, o desconto prometido nos produtos, em muitas lojas, acaba sendo de araque (palavra de origem árabe). Afinal, de brasileiro mesmo, só tem o jeitinho.
O jeitinho de querer ludibriar os consumidores com os milagres da superpromoção. É claro que tem muita promoção séria, mas é bom ficarmos atentos a outros tipos de armadilhas. Não é à toa que já adaptaram uma tradução para registrar esses casos: Black Fraude.
O fato tem sido alertado por meio da imprensa desde quando se começou a perceber que muitas lojas aumentavam os preços dias antes da alardeada liquidação para causar a impressão de grandes descontos na Black Friday.
Segundo o site Veja.com, nas últimas edições do Black Friday Tupiniquim, “as maneiras de enganar os consumidores ficaram mais engenhosas, inclusive com a criação de sites de compras falsos.” Na lista atual de endereços feita todos meses pelo Procon-SP, há centenas de sites que devem ser evitados, pois tiveram reclamações de consumidores registradas no naquele órgão, foram notificados, não responderam ou não foram encontrados.
Diz mais: “A publicação critica o evento no Brasil, destacando as fraudes e os problemas ocorridos nas edições anteriores, como falta de produtos, demora na entrega e, principalmente, descontos ‘falsos’”. E emenda: "’Se os brasileiros fizessem uma Black Friday direito, eles teriam pessoas acampadas em frente ao [shopping] Pátio Higienópolis quinta-feira à noite’, alfinetou o site. ‘Enquanto a Black Friday nos Estados Unidos é um dia de negócios, no Brasil ele é conhecido como o dia da fraude’".
Assim, a megapromoção, seja lá qual for o nome que se queira dar, antes de trazer qualquer benefício, tem gerado dois problemas. Mais uma vez, cria no exterior uma imagem negativa do Brasil e, internamente, prejudica os comerciantes sérios e honestos, tirando-lhes a oportunidade de melhoria no faturamento de suas empresas.
Talvez por isso, em época de Black Friday, é possível ver reportagens de uma grande rede de televisão mostrando de forma positiva as promoções oferecidas por várias empresas e o crescimento da confiança dos consumidores nessa superliquidação de produtos e serviços.
Até porque, os consumidores e seus órgãos de defesa, deveriam fiscalizar outras campanhas de promoção e concessão de descontos, já que tem loja fazendo tanta promoção durante o ano todo me fazendo achar que o preço normal é aquele com desconto e o preço fora da promoção é acréscimo abusivo.
Só sei que nesse campo a coisa é feia, ou negra. E não é só na sexta-feira. O que vale mesmo em qualquer época é pechinchar, chorar mesmo, até não dar mais ou até a esposa ficar com vergonha e sair de perto, como faz a minha