ARTIGO

“JESUS DA GENTE”

“JESUS DA GENTE”

Por Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales

Por Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales

Publicada há 4 anos

O carnaval encerrou-se, o direito de ser feliz, não. Por isso, o “Jesus da Gente”, do pobre, excluído, discriminado e lascado, continua sendo cantado por quem sonha ser libertado. É o Jesus que ama, diferente daquele que reprime, aliena e condena. Ele mesmo disse aos fariseus que lhe pediam para calar os seus discípulos que o aclamavam: “Se eles se calarem, as pedras gritarão” (Lc 19,40). Se estes se calarem, Deus deixará de ouvir o grito de seu povo, que lhe clama em pranto, mesmo com dança e com canto? Jamais!

Felizmente, esse clamor emerge, também, da Igreja no Brasil, de modo especial na Quaresma que se inicia, por meio da Campanha da Fraternidade, a ela integrada. Quaresma é tempo oportuno para mudanças profundas. A sociedade se arma. A bondade proposta por Deus, desarma. Os mecanismos de morte se proliferam. A Igreja, inspirada no Evangelho de Cristo, promove a vida. Por isso, sua Campanha da Fraternidade, este ano, tem como tema a vida, como dom de Deus. Daí nosso compromisso em defendê-la.

O lema dessa Campanha, “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34), é a referência feita por Jesus à misericórdia do Bom Samaritano que socorreu o ferido à beira do caminho. Ele se fez próximo, foi compassivo e solidário. Essa Campanha é muito importante diante da vida, hoje, igualmente destruída, neste país com alto índice de miséria, desemprego, abortos, homicídios, feminicídios, suicídios, mortes por acidentes de trabalho e trânsito, degradação ambiental e descuido com a saúde pública.

A vida nesse contexto torna-se cada vez mais banalizada. Muitos, utilizando-se de mecanismos de poder, apropriam-se de mais recursos, lesam direitos, difundem preconceitos, promovem a cultura do ódio, nutrem conflitos e reprimem os que lutam pela justiça social e o bem comum. Cresce nesse caos, o individualismo e a indiferença. A vida perde sentido. Em resposta a esse desafio, a Igreja convida a sociedade toda a mudar de rumo, inspirando-se no amor misericordioso proposto e testemunhado por Cristo.

Essa Campanha da Fraternidade, além de propor ações em defesa da vida dos humanos, desde a fecundação até o seu fim natural, assume como desafio promover o cuidado de nossa “Casa Comum”, na perspectiva da ecologia integral, proposta pelo Papa Francisco. Sua Exortação Apostólica Pós-sinodal, “Querida Amazônia”, publicada no último dia 2 de fevereiro, se mostra muito oportuna neste contexto. Nessa breve Exortação, o Papa formula quatro grandes sonhos que a Amazônia lhe inspira:

“Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida. Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana. Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas.”  O Papa apresenta, afinal, seu sonho eclesial:

“Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotarem e encarnarem de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos.” Na Amazônia plurirreligiosa, diz o Papa, “os crentes precisam encontrar espaços para dialogar e atuar juntos pelo bem comum e a promoção dos mais pobres”. Segundo ele, une-nos a fé em Jesus Cristo, o mandamento novo que Jesus nos deixou e a luta pela paz e a justiça. Enfim, na Amazônia e em toda parte se faz presente e nos encoraja o “Jesus da Gente”.

Jales, 26 de fevereiro de 2020

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