O olhar sobre o cotidiano tem o foco direcionado com base na vivência de cada um, por isso não há como ser diferente que a pessoa tenha seus olhos guiados aos detalhes relacionados a sua profissão, com escrevi anteriormente em texto dedicado ao assunto.
A introdução é para fazer uma justificativa óbvia sobre o porquê muitos dos meus textos falam da origem das palavras e seu sentido no uso rotineiro atual, posto minha formação na área de humanos, mais especificamente em línguas, fato que também norteia as linhas e entrelinhas que se seguirão.
Além da justificativa, devo acrescentar minhas desculpas por martelar assunto tão repetido nas mídias, o coronavírus, ou a covid-19, no entanto abordando outros aspectos, talvez melhor dizendo, analisando o dito e o não-dito, além daquilo que se tem tentado dizer.
Os cuidados com a prevenção são os mais divulgados, recebidos com certa tranquilidade pela maioria, porém com restrições por outros. A esposa de um conhecido, depois de um dia de isolamento, ligou para ele reclamando que não aguentava mais ficar presa em uma casa de apenas quatrocentos metros quadrados, somente com uma sauna, pouco mais de duzentos canais de tv, uma mísera adega e, pasmem, sem piscina olímpica.
Certamente se tivesse sido confinada em um shopping center, não teria motivos para reclamar diante dessa senzala onde está aprisionada. Ainda bem que, ao que tudo indica, a casa não tem uma biblioteca, o que seria terrível, pois poderia ser obrigada a ler livros, desperdiçando o precioso tempo de ociosidade.
Continuam divulgando nas mídias para lavar sempre as mãos e não tossir na própria mão e, principalmente, na cara das pessoas. Achava que isso era um hábito normal e antigo. Será que ninguém fazia isso? Ou eu que não era normal?
O Isolamento no lar está sendo uma caixinha de surpresas. A família vivendo juntas no mesmo espaço por longo tempo é algo novo para sociedade atual, será preciso um tempo para adaptação. Tem esposa que já descobriu o nome completo do marido, marido que notou que a esposa cortou o cabelo e pais que se depararam com mais filhos em casa, além da quantidade que costumavam ver.
Outra coisa sobre a qual fiquei surpreso foi com pessoas conhecidas usando máscaras. Achei que diante de uma situação de pânico (desnecessário) ou do desenvolvimento de uma calipsefobia, finalmente iriam tirá-las. E, ainda, mais um fato inusitado. Nesses últimos dias percebi que, diferente do costumeiro, tem gente com mais álcool fora do corpo do que dentro.
O novo vírus, não bastasse todas as novidades que trouxe, também se mostra homofóbico, pois para ele só há dois gêneros, “o” coronavírus e “a” convid-19. O “corona” porque vírus é substantivo masculino. Até aí tudo bem, mas, descontente com sua solidão, criou a “Covid”, da sigla em inglês “coronavirus disease” (doença por coronavírus), portanto, doença, substantivo feminino.
Nada de novo, já que o feminino é especialista no sofrimento do homem a milênios. Se não acredita, veja a lista: A Peste Negra, a Cólera, a Tuberculose, a Varíola, a Gripe Espanhola, a Febre Amarela, A malária e a AIDS, dentre as principais. Havia me esquecido da primeira, a Eva.
E, por falar em término do paraíso, uma das principais recomendações no combate à Covid-19 é o distanciamento mínimo de dois metros entre as pessoas. Ou seja, o sexo está proibido, porque não deve ter alguém tão ultra bem-dotado assim. Os casados continuam a vida normal.
A pior e a melhor informação divulgada nas redes sociais foi de uma suposta terapeuta sexual “passando uma informação maravilhosa” de que “orgasmo, sexo e masturbação podem prevenir o coronavírus”, segundo um estudo desenvolvido pelo departamento de psicologia médica da Clínica Universitária de Essen, na Alemanha.
A melhor porque, já que estamos em casa mesmo sem nada para fazer, vale a tentativa. Há uma chance para os casados. A pior considerando que não traz qualquer esperança para alguns grupos de risco, especialmente para as pessoas acima de oitenta anos.
Também não sei se a produção de Viagra poderá ser aumentada com tantas outras prioridades do mercado farmacêutico para ganhar mais dinheiro. Mas seria uma boa desculpa para os laboratórios. Outro problema pode ser o desenvolvimento de tendinites, talvez mais em homens, na busca da prevenção da doença.
Não bastassem as informações falsas disseminadas nas redes sociais pelas antas de plantão, os proclamados por si mesmos como gênios autodidatas e os admiradores do apocalipse, tem gente querendo encontrar o culpado pela “criação” e propagação do coronavíurs.
O Trumpniquim e sua prole estão apontando o dedo para os chineses, tentando imputar a culpa pela existência do vírus à China, seguidos por muitos de seus acéfalos (quis dizer adeptos).
Já que a moda é o “corona”, o presidente deveria seguir outro exemplo de coroa, a Britânica. A Rainha Elizabeth deixou o palácio de Buckingham e foi isolar-se no castelo de Windsor.
Seria mais produtivo para o país e menos antidiplomático para o Brasil do que seguir o exemplo da coroa prateada americana, de cara bronzeada e olhos brancos, e continuar no púlpito falando palavras que sempre denotam significados com prefixos “anti” ou sufixos “fobia”.
Se tivermos que procurar culpados, deveríamos perguntar de quem é a culpa de um grupo familiar ter o poder de falar tantas asneiras, propagando a aversão alicerçada em inverdades, em nome da nação, envergonhando o povo brasileiro.
Agora, falando por mim, caso eu não morra de hiperorgasmia, da Covid-19, agredido pelas feministas ou de infarto, continuarei tentando escrever nossas reflexões semanais, como doses de remédio para as angústias humanas.
Se rir é o melhor remédio, a prevenção também o é. Tomemos os dois nessa crise, com mais doses diárias de prevenção, pois a falta de cuidado é mais nociva que a do saber, diz o provérbio.
Cuidem-se e vamos cuidar. O barco Planeta Terra é um só.