A verdade é uma arma poderosa contra o vírus e a desinformação é amiga da pandemia.
Não se pode comparar a gripe A, causada pelo vírus H1N1 e que se espalhou pelo mundo em 2009, com a atual pandemia do novo coronavírus, o SARS-CoV-2 que causa a COVID-19, como alguns postaram nas redes sociais.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de mortalidade do H1N1 foi estimada em 0,026%, ou seja, 26 para cada 100 mil casos. Já a do SARS-CoV-2 é de 3,7%, ou seja, 3.700 para cada 100 mil casos. Em outras palavras, dependendo da idade e estado geral de saúde da pessoa, um afetado pela COVID-19 tem 142 vezes mais chances de morrer do que uma pessoa com gripe A (informação extraída do portal Agência Lupa, especializada em checar se uma notícia postada na internet é verdadeira ou falsa).
Além disso, o H1N1 é menos transmissível às pessoas do que o SARS-CoV-2. O H1N, assim como o SARS-CoV-2, também se transmite pela tosse, espirros, contato direto com as pessoas infectadas e suas secreções respiratórias que carregam o vírus (por isso é importante higienizar bem as mãos com álcool gel ou água e sabão e isolar as pessoas doentes). Porém, de acordo com a OMS, um indivíduo com H1N1 é capaz de infectar de 1,2 a 1.6 pessoas. Um estudo do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) apontou que uma pessoa com SARS-CoV-2 é capaz de infectar 2,79 pessoas (informação extraída do portal Agência Lupa, especializada em checar se uma notícia postada na internet é verdadeira ou falsa).
A verdade é uma arma poderosa contra o vírus e a desinformação é amiga da pandemia.
É verdade que as estatísticas demonstram que um idoso (acima de 60 anos), especialmente com doenças de base como diabetes, problemas cardíacos e hipertensão arterial, possui uma chance maior de sucumbir a esse novo coronavírus do que jovens ou crianças saudáveis. No entanto, a OMS alertou, no dia 18 de março, que a COVID-19 não é uma doença que ataca somente os idosos.
O próprio diretor executivo da OMS, Michael Ryan, assim declarou: “Não é uma doença somente dos idosos. Pessoas mais jovens experimentam doença menos severa, mas temos que observar todos, até os casos mais leves. Todo caso suspeito deve ser testado. Se mostrar sintomas deve ser testado. Na Coreia do Sul, apenas 20% das mortes tiveram como vítimas pessoas idosas” (trecho extraído de matéria publicada no portal da Agência Brasil no dia 18/03/2020).
Embora as crianças desenvolvam sintomas mais leves quando afetadas pelo novo coronavírus, há registros de casos graves e até de morte na China, destacou a chefe da divisão de Doenças e Zoonoses da OMS, Maria Van Kerkhove, em matéria publicada no portal da Agência Brasil no dia 18/03/2020.
A verdade é uma arma poderosa contra o vírus e a desinformação é amiga da pandemia.
Por conta dessa pandemia “pipocaram” notícias falsas e sensacionalistas nas redes sociais. É importante destacar que essa prática se constitui crime e brinca com algo extremamente sério que é a pandemia de COVID-19. Há casos de cidadãos indicando medicamentos para conter o vírus. Na verdade, não há medicamentos que combatem a doença. O afetado deve ficar em isolamento por alguns dias (especialistas recomendam mínimo de 14 dias) e os casos mais graves devem ser internados em UTI de hospitais.
Por conta dessa pandemia muitos estão defendendo o relaxamento de algumas medidas restritivas impostas à população, como a quarentena decretada no estado de São Paulo. Eles alegam impactos devastadores na economia.
De fato! Os efeitos serão terríveis para a economia nacional como desemprego em massa e todas as suas consequências, por exemplo. Nesse caso estamos diante de um dilema: se a quarentena se estender, prejudicará inexoravelmente a economia do país, mas se a população não fizer quarentena, há o risco de ocorrer o pior dos cenários, ou seja, muitos perderão a vida e, por conta disso, teríamos que fazer quarentena do mesmo jeito, talvez em um tempo ainda maior e com impactos mais severos na economia.
Há o temor de acontecer o cenário da Itália. Em fevereiro, apenas um mês atrás, quando o “país da bota” registrava 17 mortos e 650 infectados, as autoridades italianas relaxaram a quarentena, preocupadas com os efeitos negativos da pandemia na economia e no turismo daquele país. Resultado: até o dia 27 de março de 2020, a Itália registrou mais de 80 mil casos e inacreditáveis 9.143 mortes. O premier italiano, Giuseppe Conte, teve de mudar rapidamente de estratégia e impor aos italianos uma severa quarentena. Até drones estão sendo utilizados para monitorar o deslocamento das pessoas em todo território italiano.
Ah! Mas alguém pode dizer: “a maioria dos mortos italianos são idosos, e lá, a população deles é proporcionalmente maior do que a brasileira”. Esse argumento pode ser questionado, uma vez que os especialistas italianos analisaram que, além da alta população de idosos, o alto índice de mortes pelo novo coronavírus na Itália também se deveu as dificuldades dos italianos em geral de respeitar a quarentena. Lembrando que muitos jovens infectados são assintomáticos e transmitem facilmente o vírus as pessoas, incluindo os idosos.
Alguém, ao ler o artigo até aqui (pois sei que ele está extenso e não sei se todos terão a paciência de ler até o final), pode se perguntar: e daí, você tem alguma solução para essa celeuma? Digo que não, mas cabem as nossas autoridades políticas um pacote de medidas para tentar amenizar, o máximo possível, os terríveis impactos que já estão acontecendo em nossa economia. E qualquer que seja a solução, ela certamente exigirá do poder público a abertura de seus cofres, como por exemplo, a liberação de fundos para a transferência de renda aos mais pobres, aumentar a rede de proteção social, liberação de créditos a juros baixos para as empresas, suspensão de alguns impostos e de cobrança de dívidas dos entes federativos (tudo com o objetivo de ajudar as empresas a manter os empregos de seus funcionários), dentre outras medidas.
Também cabem aos brasileiros observarem as recomendações das autoridades médicas e sanitárias e não ficarem absorvidos, como verdadeiros zumbis, pelas falácias e mentiras propagadas pelas famosas “fake news” nas redes sociais.
O momento é de união para que essa pandemia, que vem nos ensinando muitas lições, cesse o mais rapidamente possível.
No rescaldo de seus efeitos devastadores, tomara que as pessoas aprendam muitas de suas lições. Aprendam a valorizar mais o aperto de mãos, o beijo, o abraço e o carinho de nossos familiares (gestos afetuosos que só podem ser realizados mediante um contato mais próximo). Aprendam a valorizar mais a companhia de nossos amigos em uma festa, em uma mesa de bar, em um churrasco. Aprenda a valorizar mais um passeio e a prática de esportes ao ar livre, a liberdade de ir e ir pelas ruas e praças de nossas cidades, uma simples viagem e todas as outras coisas que nos foram restringidas ou proibidas durante o tempo da quarentena. Aprendam a ser mais solidários uns com os outros.
E lembre-se! A verdade é uma arma poderosa contra o vírus e a desinformação é amiga da pandemia.
CARLOS EDUARDO MAIA DE OLIVEIRA Professor EBTT no Instituto Federal de São Paulo, Câmpus Votuporanga. Biólogo, Cirurgião-Dentista, Mestre em Microbiologia e Doutor em Geologia Regional.