ENTREVISTA ESPE
'Cirqueria' resgata o amor pela arte circense
'Cirqueria' resgata o amor pela arte circense
Encontro acontecerá em Fernandópolis e coordenador conta com detalhes sobre esse projeto inovador
Encontro acontecerá em Fernandópolis e coordenador conta com detalhes sobre esse projeto inovador
Por Josanie Branco
A atividade artística, seja qual for, abrange a habilidade em usar o cérebro para alterar, renovar, recombinar o aspecto da vida, da experiência acumulada. É expressar nossas vivências, nossos sonhos, conforme os sentidos e descobrir novas formas, segundo as quais a sociedade pode ser construída. A arte é uma das maneiras mais eficazes para manifestação de novas tendências e até mesmo para criar conceitos e inserir novas maneiras de abrir a percepção do ser, em relação ao mundo, a vida, ao amor e também as relações humanas.
O circo é uma das expressões artísticas que sobreviveram a todas as revoluções culturais, políticas e sociais pelas quais a humanidade passou. Com uma história milenar, os circos são feitos por companhias que envolvem desde mágicos e palhaços até acrobatas. Durante o Império Romano, por exemplo, grupos de pessoas ganhavam a vida fazendo apresentações na rua, nas casas de famílias nobres ou até mesmo em arenas destinadas às apresentações (anfiteatros). Na Idade Média, grupos de malabaristas, artistas de teatro e bufões (comediantes) viajavam pelas cidades da Europa com suas apresentações.
Porém, foi somente em 1769 que o circo ganhou o formato que temos atualmente. Neste ano, o inglês Philip Astley organizou as apresentações circenses, destinando também uma tenda de lona para as apresentações. Estas seriam itinerantes (com mudança constante do local de apresentação).
Atualmente, embora enfrentem um período de crise na atualidade, os circos ainda fazem sucesso, principalmente no interior do Brasil e na próxima semana, entre os dias 5 a 7 de agosto, a atmosfera do circo toma conta de Fernandópolis com a realização do 1º “Cirqueria”, com a participação de palhaços de diversos cantos do estado. Em entrevista a este “O Extra.net”, o coordenador do encontro, Rafael Guerra de Aquino, conta com detalhes sobre o evento e sua importância para a cultura regional.
EXTRA: O que é o “Cirqueria” e qual o objetivo desse projeto?
RAFAEL: O “Cirqueria” é um encontro de Artes Circenses, que tem como objetivo o compartilhar de saberes, aprimorando técnicas dos grupos e promovendo um encontro de artistas e a cultura do circo em toda a região, trabalhando as múltiplas linguagens do circo. O evento contará com a participação de grupos locais e de cidades da região, como Presidente Prudente, Hortolândia e Campinas.
EXTRA: Como será realizado o “Cirqueria”?
RAFAEL: Ao todo serão apresentados seis espetáculos, que acontecerão em três locais diferentes: Associação Comunitária Maria João de Deus, Shopping Center e Praça da Matriz. O evento é organizado pela Mirabolante Companhia, Grupo Palhaços de Plantão, Irmãos Silva e Lunática Trupe, em parceria com o Shopping Center Fernandópolis. No dia 05, às 15h, acontece o Gran Circo Paradas (Mirabolante Companhia), na Associação Comunitária Maria João de Deus. Já às 20h, Picadeiro Livre (Mirabolante Cia., Palhaços de Plantão e Irmãos Silva), no Shopping Center Fernandópolis, No sábado, dia 06, às 11h, Saltimbembe Mambembancos (Grupo Rosa dos Ventos-Presidente Prudente), na Praça da Matriz e às 18h, Palhaços, bagagens e suas viagens (Cia. Mais Maior de Circo-Campinas), no Shopping Center Fernandópolis, onde em seguida, às 20h, também será palco de Forfé (Cia. Moscas Volantes- Hortolândia). Nos dias 06 e 07 também acontecerá a Construção de Brinquedos (Cia.Mais Maior de Circo-Campinas), no Shopping Center Fernandópolis. Toda a programação será aberta ao público que poderá contribuir espontaneamente com o ‘chapéu’, dando o que puder, se quiser e como puder dar.
EXTRA: Você é considerado um doa maiores artistas da cidade e região. Como você avalia o crescimento da cultura no interior?
RAFAEL: É notório que nos últimos anos a região tem se destacado no desenvolvimento de eventos culturais como o ‘Meu nome é Jão’ em Fernandópolis, o Festival Regional de Violeiros, em Santa Fé do Sul e o Fliv, I Festival Literário de Votuporanga. Também em nossa cidade o EuRiso e o I Encontro Internacional de Palhaços que já foi realizado em três edições - um encontro que tem se destacado internacionalmente e atraído artistas do mundo todo, além de um público cativo.
EXTRA: Como é feita, em nossa cidade, a descoberta de novos talentos artísticos?
RAFAEL: Temos uma Mostra Estudantil de Teatro na cidade com mais de 20 anos de existência, despertando interesse nas crianças e jovens. O interesse, sobretudo, nas artes cênicas, mas também trabalham com música e dança, enfim, a partir da Mostra já surgiram atores, cantores e bailarinos que hoje atuam profissionalmente tanto na cidade quanto nas capitais, em teatro, cinema e televisão. Nossa Orquestra de Sopros, a Osfer, desenvolve há anos um excelente trabalho e a Orquestra de Violas também tem despertado muitos talentos. Nós com o EuRiso também temos plantado muitas sementes, que devem dar ótimos frutos.
EXTRA: Sobre o Palhaços de Plantão, também um projeto seu, como são desenvolvidos os trabalhos?
RAFAEL: O Palhaços de Plantão tem por objetivo unir a arte do palhaço a questões da saúde e atuar em locais de tratamento, reabilitação de pessoas de todas as idades. Fazemos visitas regulares a hospitais de Fernandópolis e Votuporanga e atuamos esporadicamente em outros locais, como Centro Dia do Idoso, lares residenciais, etc.
EXTRA: Você sempre esteve ligado a atividades e projetos culturais, como surgiu esse interesse?
RAFAEL: Minha primeira apresentação como ator foi em 1993 no Colégio Coopere, após isso, em 1996, participei com o mesmo espetáculo e na mesma escola da 2ª Mostra Estudantil de Teatro, a partir daí comecei a atuar de maneira mais profissional com o S.O.S. Teatro de Fernandópolis de 1996 a 2003, passando pela Cia. Azul Celeste de São José do Rio Preto de 2000 a 2003 e na Cooperativa Arquetípica de Teatro, também de Rio Preto em 2005. O Palhaços de Plantão, na época Doutores da Graça, surgiu em 2000, quando entrei na faculdade para cursar enfermagem, em 1998, quando tive minha profissionalização como ator em carteira, venho estudando o palhaço e a arte de fazer rir, daí que surgiram a Lunatika Trupe, uma companhia fundadora do EuRiso e a Mirabolante Companhia.
EXTRA: Como é ser um palhaço na ficção?
RAFAEL: A arte do palhaço é um ofício muito difícil, apesar de parecer simples, fazer rir não é apenas o papel do palhaço, de acordo com um de nossos mestres, Márcio Libar, o palhaço precisa fazer graça, e a graça só acontece quando pelo menos dois eus desprovidos de qualquer preconceito se conectam, então não existe mais o outro é sim um encontro de eus, ou deus, e isso contagia a todos que estão presentes, o palhaço tem a função de se conectar com o outro de maneira sublime.
EXTRA: Você se imagina longe dos palcos?
RAFAEL: Não consigo viver sem arte, por mais cansativo e desgastante que seja, por mais difícil que possa ser, essa é minha essência. Uma artista que esteve no EuRiso, Espuma Bruma, disse uma frase que me identifico profundamente "Que para ser melhor artista é preciso ser melhor pessoa" e se a arte mudou a mim, pode certamente mudar o mundo e trazer mais generosidade e menos preconceito ao mundo.