LÁSTIMAS
"A maior tristeza é não ter me despedido", lamenta neta de vítima da Covid-19
"A maior tristeza é não ter me despedido", lamenta neta de vítima da Covid-19
Sr. Américo pediu para tia ficar com a cachorra, antes de ser internado
Sr. Américo pediu para tia ficar com a cachorra, antes de ser internado
A professora Daiane junto ao avô Américo, vítima fatal da Covid-19. Foto: Arquivo pessoal
Da Redação/Karolina Granchi/SBT Interior
Com voz suave e tom de pesar, a professora Daiane Ciccone Cesarino, que mora na capital paulista, ainda se recupera da grande perda que ela e sua família tiveram no início do mês.
Daiane é neta do sr. Américo Ciccone, de 85 anos, morto por covid-19 após ser infectado pela doença em Catanduva (SP).
Ela não poupa palavras ao lamentar a perda de um ente querido para uma doença silenciosa e que vem dilacerando vidas e famílias por todo o mundo.
Seu avô, Américo Ciccone, de 85 anos, morreu no dia 6 de abril, vítima da covid-19, em Catanduva, a 57 quilômetros de São José do Rio Preto, no noroeste paulista. A doença silenciosa já matou mais de 3,3 mil pessoas no Brasil e 192 mil no mundo.
Américo é a segunda vítima morta pelo novo coronavírus na cidade.
VIDA NORMAL
Até o dia 23 de março, quando o isolamento social foi decretado pelo governo do Estado, a rotina dele era a comum de de um idoso – ia ao médico, pagava as contas na lotérica, fazia as compras do supermercado e passeava diariamente com a cachorrinha Lessie, sua companheira fiel, que ganhou de presente da neta.
“Era a paixão da vida dele. Antes de morrer, quando foi para o hospital, ele pediu para a minha tia ficar com ela”, conta Daiane.
Os primeiros sintomas surgiram na semana do dia 31 de março, com febre e fraqueza. Preocupados, os familiares mais próximos levaram Américo em um laboratório particular, onde o teste deu positivo para dengue. Américo não apresentava tosse, coriza e nem falta de ar forte. O tratamento para dengue foi iniciado.
“Ele não tinha falta de ar e, como o teste deu positivo para dengue, iniciamos o tratamento para isso, mas tudo foi muito rápido e poucos dias depois ele começou a piorar”, relata a professora, que acompanhou todo o procedimento à distância, já que ela, o marido e a filha moram em São Paulo e preferiram não viajar em respeito ao isolamento social.
SINTOMAS, INTERNAÇÃO E TRISTEZA
No dia 3 de abril, Américo acordou muito mal. “Ele acordou com muita dor no corpo e disse para o meu irmão que iria morrer”, lamenta a professora.
Américo foi levado pelo neto rapidamente até a Upa (Unidade de Pronto Atendimento) da cidade, mas já estava com a oxigenação baixa.
“Ele foi muito bem atendido pelos profissionais da Upa, somos muito gratos a todos eles. Assim que foi constatado que a oxigenação dele estava baixa, já deram o encaminhamento de internação com suspeita de covid-19”, diz.
O paciente foi internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), na ala especializada para pacientes com covid-19. Américo foi sedado e ficou respirando na ventilação mecânica, mas não resistiu.
“A minha maior tristeza foi não ter me despedido do meu avô. Alguns veículos publicaram a notícia falsa de que meu avô tinha recebido visita de parentes de São Paulo. Eu e minha família não fomos a Catanduva nem antes e nem depois de sua morte, estamos respeitando o isolamento social. Esses comentários são injustos, magoam a gente. Meu avô morreu sozinho, nem meu irmão e minha mãe, que moram lá (em Catanduva), puderam se despedir dele”, desabafa.
O corpo do senhor Américo Ciccone foi enterrado sem velório, no cemitério Montenhor Albino, em Catanduva.
“Se as pessoas soubessem o quanto essa doença silenciosa é fatal e a dor que ela causa em todas as vítimas, ninguém banalizaria essa doença e nem compartilharia fake news. Não é brincadeira, essa doença mata, é muito triste”, finaliza.
Fonte: www.https://sbtinterior.com/