AGRONEGÓCIOS

Secretaria de Agricultura mostra impactos da pandemia em dez produtos agropecuários paulista

Secretaria de Agricultura mostra impactos da pandemia em dez produtos agropecuários paulista

Análises são de 16 pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola

Análises são de 16 pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola

Publicada há 4 anos

Da Redação

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), fez uma análise dos impactos da Covid-19 no agronegócio paulista. A análise contou com a participação de 16 pesquisadores do IEA, que mostram o impacto da pandemia no setor de citros, cana-de-açúcar, amendoim, algodão, soja, trigo, café, feijão, leite e derivados e carne bovina.

"Por meio do acompanhamento das principais cadeias produtivas do Estado, o Instituto de Economia Agrícola (IEA) analisou importantes aspectos das exportações, do consumo e do comportamento do mercado, resultando em informações que contribuem na tomada de decisões dos diversos agentes envolvidos, mas que também nos ajudam a compreender os reflexos e as possíveis mudanças que a pandemia pode trazer ao setor no futuro", afirmou o secretário de Agricultura e Abastecimento Gustavo Junqueira.

Segundo os especialistas, o novo coronavírus traz reflexos nas exportações brasileiras, com o deslocamento das exportações para regiões de maior crescimento de renda, como a venda de milho e açúcar para o Oriente Médio em detrimento de países com maior crescimento populacional, alterações nos acordos internacionais e rescisões contratuais, além da necessidade de garantia do abastecimento doméstico.

Para os pesquisadores, a pandemia faz com que a sanidade animal e vegetal ganhe vulto, exigindo mais controle, monitoramento e fiscalização, pois é um tema cada vez mais exigido pela demanda externa e interna. O rastreamento e a certificação dos produtos agropecuários devem ser intensificados, assim como o uso de tecnologias digitais no campo. "O cenário que se estabeleceu nos últimos meses fez com que setores do agro que ainda não haviam se inserido na era digital iniciassem a transformação que será bastante notada no final da pandemia. O agronegócio paulista não estará no mesmo patamar no final da crise e incrementos de inovação serão notados em todos os segmentos", avalia Priscilla Rocha Silva Fagundes, diretora-geral do IEA.

Confira abaixo a análise do IEA para dez produtos agropecuários produzidos em São Paulo.

Citros para a indústria: São Paulo é o maior produtor e exportador de citros do mundo. Os pesquisadores percebem tendência na demanda internacional por sucos cítricos, principalmente, por esses produtos serem ricos em vitamina C. Há uma tendência de normalização do mercado chinês, porém, há problemas no mercado europeu na área de liberação das cargas nos portos e uma perspectiva de aumento de preços em Nova York, devido à alta do dólar. No mercado interno há aumento do consumo de NFC, o que traz oportunidades para pequenas extratoras e aumento de venda para o consumidor. Os estoques de passagem estão altos no mercado interno e há previsão de menor safra em 2020, o que tenderia a equilibrar os preços pagos a caixa de 40,8 kg da fruta.

Cana-de-açúcar: principal produto do agronegócio paulista, o cenário mundial, segundo os pesquisadores do IEA, influencia o mercado da cana-de-açúcar, devido à alta no valor do dólar, a queda dos preços do petróleo e açúcar em Nova York e a diminuição na demanda por combustível, devido à redução no deslocamento. A maior porcentagem do mix de produção deve ser destinado a produção de açúcar. O país é um dos maiores produtores e exportadores de açúcar. No período de melhor preço do açúcar parte das unidades industriais herdaram sua produção garantindo um melhor preço para seu produto.

Amendoim: Segundo os especialistas, o cenário mundial é de queda na produção e importação aquecida para o amendoim em grão. No cenário nacional, São Paulo responde por mais de 90% da produção e a safra de 2019/2020 foi 28,5% superior à safra passada. O risco para o setor está na redução das exportações, especialmente para os países europeus, e do consumo interno, puxada pelo adiamento das festividades juninas, reprogramação da indústria e a perspectiva da comercialização. A manutenção dos estoques e a queda nos preços comprometeriam a capacidade de investimento e a dinâmica econômica de regiões como Marília, Tupã, Presidente Prudente, Jaboticabal, Ribeirão Preto e Barretos. Há, porém, oportunidades, como a ocupação de novos espaços no mercado externo e a contribuição com políticas de garantia alimentar às populações vulneráveis e de abastecimento.

Algodão: O agravamento da pandemia do novo coronavírus se dá justamente no momento da colheita do algodão no Estado, que tem produção de 38,5 mil toneladas de algodão em caroço e 15 mil toneladas de algodão em pluma. Cerca de 70% da produção brasileira é destinada à exportação. No cenário mundial, há uma desvalorização cambial favorável para exportações de algodão, mas desfavorável para importações de têxteis e uma retomada gradual da economia chinesa. Entre os riscos, os pesquisadores apontam o consumo já estagnado pelo quadro recessivo e pelas importações de têxteis nos últimos anos, o elevado estoque de fibras no Brasil e no mercado internacional, o aumento da concorrência da fibra sintética, a revisão para baixo do consumo mundial e a recessão econômica global. Entre as oportunidades está o financiamento da comercialização da safra, que pode ser um instrumento de crédito ao cotonicultor paulista.

Complexo soja: Segundo os pesquisadores, a comercialização da soja transcorre normalmente sustentada pelas vendas antecipadas e pela desvalorização cambial. Efeitos da decisão chinesa de adquirir os grãos estadunidenses são amenizados pelos contratos antecipados. Se mantida, a decisão trará implicações à safra 2020/21. O recuo da demanda por farelo poderá ser atenuado pelas exportações de carnes ligadas à desvalorização do real em relação ao dólar. Para os especialistas do IEA, o desafio imposto é a garantia de disponibilidade interna de óleo de soja, devido ao crescimento na demanda sem que a oferta acompanhe. Esse comportamento reduz significativamente o estoque do derivado. O aumento do processamento do grão que implica diminuição da quantidade exportada é a forma de garantir suprimento desse item básico da alimentação brasileira.

Trigo: A produção paulista de trigo de 2020 deverá ter início em meados a final de abril, no aguardo de melhores condições de umidade do solo. As perspectivas de preços são boas, em função das altas taxas de câmbio. O trigo paulista representa cerca de 4,5% da produção nacional, mas tem competitividade, pela boa qualidade e pela proximidade do mercado consumidor - São Paulo consome cerca de 17% do total nacional.

Café: Tem produção alinhada ao consumo e estoques com ligeira redução. Durante a quarentena houve forte incremento do consumo no Brasil e nos principais mercados demandantes da bebida. A valorização do dólar no âmbito mundial favorece os cafeicultores que, no Brasil, devem colher uma safra recorde. Existe preocupação com a colheita, que deve se iniciar na segunda quinzena de maio, demandando maior planejamento da mobilização de força de trabalho com extremada segurança sanitária dos trabalhadores envolvidos. Segundo os pesquisadores do IEA, as cotações estão favoráveis à contratação de hedge, não se descartando as vendas no físico pois, em situações de incerteza, a melhor estratégia é reforçar o caixa do empreendimento agrícola. A oferta de contêineres regularizou-se no Porto de Santos, mantendo fluxo exportador sem restrições.

Feijão: Por ser um produto de cesta básica, a demanda de feijão deve-se manter. No cenário da pandemia da Covid-19, os pesquisadores alertam para a alteração do fluxo de parte das vendas destinadas a restaurantes para o consumo doméstico, que teve compras adiantadas para garantir o abastecimento domiciliar durante a quarentena. Entre as oportunidades da cadeia está a demanda crescente do mercado internacional por produtos básicos garantidores de segurança alimentar, o que seria favorável para o feijão. Por outro lado, para atender este mercado, é necessário a ampliação das variedades plantadas, mais consumidas no exterior.

Leite e derivados: A coleta de leite tem se mostrado normal na maioria das indústrias. Há problemas localizados em algumas regiões devido à queda na demanda por leite cru de pequenas queijarias por conta do fechamento de pequenos laticínios que atendiam restaurantes e fast foods. Houve redução no consumo de derivados como queijos e iogurtes. Por outro lado, aumentou o consumo de leite UHT e em pó. A alta dos preços do milho e da soja vêm impactando os custos de produção e os produtores enfrentam alguns problemas com frete. Apesar das dificuldades, os produtores podem traçar algumas estratégias, como a compra de insumos, a organização do setor e novas formas de comercialização.

Carne bovina: O Brasil é o maior exportador de carne bovina no mundo e a China está retomando suas compras. No cenário brasileiro pode haver fechamento de algumas plantas de grandes frigoríficos e a há a preocupação dos pequenos e médios produtores quanto ao consumo no mercado interno, que traz como consequência a redução da margem de lucro. Houve queda no consumo de restaurantes e fast foods e aumento nos custos de produção devido aos preços do milho e da soja. Já houve a retomada das exportações para a China e há preocupação com a concorrência com os Estados Unidos. O benefício das exportações deve ficar para os grandes frigoríficos. Há expectativa de redução dos abates e da demanda interna, com a preferência, no Brasil, pelo consumo de proteínas mais baratas, o que impacta os pequenos e médios frigoríficos. 


Fonte: Assessoria de Comunicação - Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

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