MEIO AMBIENTE

Usinas da região vendem créditos de carbono no mercado financeiro

Usinas da região vendem créditos de carbono no mercado financeiro

Usinas do setor sucroenergético da região Noroeste paulista estão certificadas a emitir e vender créditos de descarbonização

Usinas do setor sucroenergético da região Noroeste paulista estão certificadas a emitir e vender créditos de descarbonização

Publicada há 4 anos

Da Redação

Pelo menos 35 usinas de processamento de cana-de-açúcar da região noroeste Paulista estão certificadas pela Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), o que significa que estão aptas a emitir e comercializar Créditos de Descarbonização (Cbios) no mercado financeiro. Ao todo, cerca de 200 usinas e produtores de biocombustíveis estão autorizados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a oferecer os créditos e sete instituições financeiras do País podem escriturá-los.

Em vigor no Brasil desde dezembro de 2019, o Renovabio é uma política pública criada por lei como resultado do Acordo de Paris para estimular a presença do etanol e de outros biocombustíveis na matriz energética brasileira. A iniciativa visa reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa do setor de transportes.

Pelas regras do programa, as distribuidoras de combustíveis do País - Shell, Ipiranga, BR, etc - deverão comprar os CBios dos produtores/usinas para compensar as emissões relacionadas às vendas de combustíveis fósseis (gasolina, óleo diesel), atendendo à meta nacional de descarbonização estabelecida. O planejamento é para cada dez anos.

Atualmente, a meta 2020 é a negociação de 29,1 milhões de Cbios. Cada Cbio corresponde a uma tonelada de carbono que deixa de ser emitida no meio ambiente, dessa forma, a meta é que deixem de ser emitidos neste ano 29,1 milhões de toneladas de carbono. "Entretanto, essa meta está sendo avaliada e deve ser reduzida. A nova será anunciada neste mês pelo Ministério das Minas e Energia, já que a pandemia de coronavírus reduziu o consumo de combustíveis e quantidade de CBios comercializados no Brasil", explicou o economista-chefe da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Luciano Rodrigues.

Apesar da meta grandiosa para o ano, hoje há em oferta 3,8 milhões de Cbios na Bolsa de Valores (B3) - que comercializa o ativo. As negociações começaram em abril e, desde então, 82 mil Cbios foram comprados - 47 mil por distribuidoras de combustíveis, que são obrigadas por lei a fazê-lo - e outros 35 mil por outros interessados, que podem ter decidido neutralizar suas emissões, ou mesmo especular o ativo à espera da sua valorização. O preço médio nessas negociações ficou entre R$ 15 e R$ 50 por título.

Segundo Rodrigues, para que uma usina obtenha o certificado para emitir o Cbio, ela contrata uma empresa autorizada pela ANP, fornece toda uma gama de informações sobre seu processo produtivo que vai ser auditada, como por exemplo tipos de fertilizante, nível de co-geração, volume de exportações, produtividade, etc. Além disso, se está em dia com o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e se houve desmatamento em sua área de cana ou de seus fornecedores. "Cada usina tem um parâmetro, ou seja, a certificação define quantos litros de etanol têm de ser vendidos para que a empresa possa emitir um Cbio. Quanto mais eficiente ela for do ponto de vista ambiental, menos etanol precisa vender para reduzir uma tonelada de carbono."

O especialista explica que um dos aspectos interessantes do programa, entre outras coisas, é que os Cbios são títulos verdes, ou seja, significa que foi retirada uma tonelada de gás carbônico da atmosfera. "Ele valora o benefício ambiental quando se consome e se produz o biocombustível ao invés do combustível fóssil, além disso, vai estimular as usinas a melhorarem suas notas de eficiência energética".

Isso porque a certificação é válida por três anos, mas pode ser renovada anualmente caso seja de interesse da usina. Por exemplo, uma indústria que não tinha co-geração tinha uma nota de eficiência menor, portanto, conseguia emitir uma menor quantidade de Cbios e obter uma menor remuneração. Ao melhorar a certificação, tem a chance de obter uma melhor renda por isso. "O programa é um estímulo para que a produção se torne mais eficiente e contribua para a redução dos gases de efeito estufa", disse.

Tributos

O programa enfrenta um entrave - a tributação. Como não houve uma especificação para a incidência de tributos sobre o título ambiental, segundo Rodrigues, ele entra na regra geral e fica sujeito ao recolhimento de 34% de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e de 9,25% de PIS/Cofins quando é vendido pelas usinas na Bolsa de Valores. "Nosso pleito é para que as alíquotas sejam iguais às dos outros títulos. Esse é o primeiro título verde do Brasil. Não faz sentido ter 40,1% de tributos", disse. Os títulos mobiliários são tributados em 15% e os ativos financeiros vão de 23,5% até chegar aos mesmos 15%. Os percentuais desejados para o Cbio são na mesma ordem.

Fonte: Diário da Região

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