Nestes dias fiquei surpreso com a matemática. No dia 31 de julho de 2.020 completei 38 anos de minha ordenação episcopal. Portanto, colocada no contexto dos 60 anos da Diocese de Jales, desses 60 eu tenho 38 como “Bispo de Jales”, seja “diocesano” ou “emérito”.
Fazendo o cálculo, tirando 38 dos 60, fica 22. Dos 60 anos celebrados pelo “jubileu de diamante”, só em 22 não estive presente. Dos 60 anos da Diocese de Jales, eu tenho 38 para contar! Quase dois terços.
Haveria, certamente, muitas histórias a contar. E sabemos como a história depende da maneira como ela é contada. Do ponto de vista pessoal, não vou me preocupar em fazer uma avaliação exaustiva de como participei desta história, cumprindo a missão que a Igreja me confiou. Deixo o julgamento nas mãos de Deus. Assim relativizo, tanto os elogios como as críticas. Na esperança de que a história da Diocese continue sendo uma referência positiva para a sua trajetória.
Sem a diocese de Jales, a cidade de Jales não teria o destaque que teve. No dizer do povo, “foi a Diocese que colocou Jales no mapa”.
Hoje me permito trazer, brevemente alguns episódios, que foram importantes, embora não divulgados totalmente. Limito-me a três acontecimentos: A Conferência de Santo Domingo em 1992, o Sínodo da América em 1997, e a Conferência de Aparecida em 2007.
A Quarta Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho foi realizada em 1992, em Santo Domingo, local da chegada dos primeiros europeus há 500 anos atrás.
Foi sobretudo a partir desta Conferência que passei a escutar a pergunta inevitável: “Adonde es Jales?” Onde fica Jales?”
Na Conferência de Santo Domingo a Igreja da América Latina tinha chegado ao ponto máximo a tensão a propósito da Teologia da Libertação. Para que esta tensão não fosse jogada para dentro da Conferência que estava sendo organizada, o Celam tomou uma decisão drástica: simplesmente proibiu os teólogos de participarem da Conferência. Não podiam sequer circular por perto do local onde se faziam os plenários.
Diante disto, que fizeram os teólogos? Discretamente, alugaram uma casa nas proximidades do local da Conferência, de onde poderiam acompanhar os debates, redigir suas sugestões, e colaborar com o andamento da Conferência.
Qual o desafio para que este plano pudesse funcionar? Encontrar um bispo que fizesse o indispensável trabalho de mediação entre a Conferência e os teólogos, acompanhando a Conferência e informando os teólogos a respeito dos assuntos em andamento.
Quem poderia ser incumbido desta tarefa? Apostaram no “Bispo de Jales”. Diante da importância da causa, aceitei a incumbência, e graças a Deus consegui desempenhar bem a missão recebida. Deu para possibilitar aos teólogos acompanharem tranquilamente a Conferência, e para os bispos contarem com a ajuda dos teólogos.
Esta mediação positiva entre Bispos e Teólogos acabou se tornando no fato mais importante de toda a Conferência.
No Sínodo da América, em 1997, aconteceu um fato curioso: no seu final foi feita a eleição dos dez membros da Comissão Permanente. Para as duas vagas reservadas ao Brasil, foram eleitos Dom Luciano, Arcebispo de Mariana, e Dom Demétrio, Bispo de Jales! Qual a explicação? Tinham-me incumbido de redigir uma síntese dos debates acontecidos em nosso grupo, e apresentá-la em plenário. Caprichei. E pelo visto gostaram. Na hora da votação vi que cochichavam o meu nome. Antes da apuração dos votos, já parecia certo o resultado.
Quando nos incumbem uma tarefa, é a oportunidade para prestar nossa contribuição.
Na Conferência de Aparecida, o clima era tranquilo e agradável. Também lá me incumbiram de secretariar um dos grupos. Os diversos textos redigidos eram entregues à Comissão de Redação, presidida pelo então Cardeal Bergoglio.
São pequenos fatos, que ajudam a compreender a história que vamos vivendo, e que pode se tornar muito densa e carregada de humanidade.
Jales, 14 de agosto de 2020.