ARTIGO

O impacto do tempo de setup na gestão de processos industriais

O impacto do tempo de setup na gestão de processos industriais

Por Pablo Dávalos

Por Pablo Dávalos

Publicada há 4 anos

O que entendemos por Setup? Quando estamos em chão de fábrica, costumamos responder que setup é a preparação de uma máquina ou equipamento. Existem outros profissionais que definem setup também como a troca de ferramentas necessária para realizar uma atividade ou processo. Para mim, a definição que faz sentido ao falar de Setup é: aquele tempo em que uma máquina, equipamento ou centro de trabalho fica parado entre o processamento da última peça de um lote e a primeira peça do próximo lote, de uma família de produtos diferente, isto é setup. Os Engenheiros e coordenadores de produção costumam se preocupar muito com alguns conceitos de tempo, definições que auxiliam no direcionamento da produção e no nivelamento de qualquer atividade manufatureira como: lead time, tempo de ciclo, takt time, tempo necessário para agregar valor ao produto final, entre outros mas raramente o tempo de setup é analisado minuciosamente.

O tempo decorrido entre a fabricação da última peça de um lote, até começar a primeira peça boa e aprovada de outro lote distinto, é o que deve se considerar tempo de setup. Na metodologia Lean Manufacturing, a lógica do pensamento enxuto de produção possui uma ferramenta que procura reduzir ao máximo o tempo de setup para otimizar a produção. Desenvolvida por Shigeo Shingo e aplicada pela primeira vez na Toyota Motors Company através do Sistema Toyota de Produção, a ferramenta SMED “Single Minute Exchange of Die”, sigla em inglês que pode ser traduzida como “a troca rápida de ferramentas”, quando bem aplicada em um sistema produtivo, permite a maior flexibilidade da Linha de produção para atender a diversidade de produtos e demanda, através da menor demora possível de tempo das máquinas ao serem ligadas ou realizem a troca de ferramentas. Em seu conceito original, o sonho e a meta de Shigeo Shingo ao utilizar esta ferramenta, era a redução do tempo de setup de qualquer máquina para um tempo cuja duração em minutos fosse de somente um digito, ou seja, o setup ideal deveria ser realizado em qualquer fração de tempo menor que 10 minutos. Acho que o Shigeo ficaria desapontado ao saber que alguns setups atualmente passam de uma hora para serem realizados em muitas industrias.

Desta modo não se pode falar de produção em pequenos lotes sem antes falar em ter um processo com setup baixo. Se o nosso setup é alto, e desejamos produzir em pequenos lotes, com toda a certeza o nosso produto unitário vai ficar absolutamente caro, pois o tempo de setup alto será diluído nesse produto. É por isso que procuramos reduzir o tempo de setup o quanto for possível, para combater um dos sete desperdícios do Lean: o tempo de espera. Mas dificilmente a produção irá aceitar isto de maneira amigável, pois muitas vezes acreditam que o gerente/coordenador está, como se diz popularmente, “pegando no pé da produção” quando a intenção única é fazer um bom trabalho para o bem de todos os envolvidos.

Parar a máquina, buscar material, trocar ferramentas, buscar ferramentas, limpar a máquina, demorar pra ligar máquina, regular a máquina. Toda aquela espera de vinte, trinta ou quarenta minutos de espera, é setup. É um desperdício pois é um tempo improdutivo, ou no mínimo podemos definir como uma atividade que esgota tempo e que não agrega valor ao produto final, mas infelizmente é necessária. Terminamos por aqui? Não, ainda temos as seguintes demoras: fazer a amostra da peça, regular novamente a máquina até obter o processamento necessário, fazer outra amostra de peça novamente, inspecionar e somente após algum tempo, soltar a produção do lote.. Uma infinidade de setup que exaure os recursos produtivos da Linha de Produção. O Setup não é somente troca de ferramentas, mas sim todo aquele tempo, aqueles minutos preciosos e demorados entre a última peça de um lote até começar a produção da primeira peça boa de um lote diferente. A indústria na qual trabalhamos, paga por todo esse tempo, e não é pouco. Pensem nisso, combatam o desperdício de tempo como se fossem seus únicos inimigos e poderemos ver juntos as melhorias e avanço operacional para as indústrias das quais fazemos parte do quadro de colaboradores.



Pablo Dávalos é Engenheiro de Produção e Analista de Planejamento e Controle da Produção. Master of Business Administration MBA – FGV em Gestão Industrial (em andamento). Green belt e Black Belt Six Sigma

últimas