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Um mergulho no Velho Chico

Um mergulho no Velho Chico

Por Eduardo Baptistão - Ilustrador e Caricaturista

Por Eduardo Baptistão - Ilustrador e Caricaturista

Publicada há 7 anos

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Eduardo Baptistão


Não tenho problema nenhum em dizer que sou um noveleiro. Gosto de novelas desde garoto,quando assisti às antológicas Irmãos Coragem, Selva de Pedra, O Bem Amado, Gabriela,Saramandaia e Pecado Capital (sim,sou quase um ancião).


Quando entrei na faculdade e comecei a trabalhar fora, deixei de ver por muitos anos. Em 1990, entre um emprego e outro, passei um ano em casa trabalhando como freelancer. Coincidiu de estar passando Pantanal, na extinta Manchete, e então eu pude matar a saudade de acompanhar uma novela inteira.


Pantanal foi uma revolução na sua época. Deslocou o eixo da trama para uma região nunca antes mostrada em novelas, com paisagens belas e exóticas. Apoiada em um ótimo elenco e numa história muito bem contada, abalou as estruturas da hegemônica Globo, que acabou incorporando muito da estética de Pantanal nas suas produções posteriores.


Os 22 anos seguintes eu passei no interior do Estado (leia-se dentro da redação do Estadão), e nesse período não pude acompanhar nenhuma novela.


De três anos e meio para cá, de volta à vida de freelancer, eu me permiti voltar a esse prazer.


Estou acompanhando Velho Chico diariamente, desde o início (uma novela anunciada em forma de cordel pelo Xangai tinha de ser diferente, e era mesmo).


Não por coincidência, o autor é o mesmo de Pantanal, Benedito Ruy Barbosa. Velho Chico encantou desde o início pela estética deslumbrante, pela história cativante contada de maneira poética e num ritmo quase arrastado, oposto ao padrão atual das novelas. E veio com uma das melhores trilhas sonoras da história das novelas brasileiras (só não digo a melhor porque houve O Bem Amado,Gabriela e Saramandaia, trilhas de muito respeito).


Tudo isso que escrevi até agora foi pra falar do quanto me entristeceu a morte do Domingos Montagner. A tragédia é chocante por si, poderia ser qualquer pessoa. Mas o fato é que, depois de meses entrando diariamente na minha casa, fica a impressão de eu ter perdido um parente próximo.


E o que torna tudo ainda mais triste é a coincidência com a trama. Santo,o protagonista interpretado de forma magistral pelo Domingos, há apenas alguns capítulos havia sumido nas águas do São Francisco depois de levar três tiros.Como não há novela sem marmelada, ele foi resgatado por índios e, após ser tratado à base de ervas, sobreviveu sem nenhuma sequela.


Quando soube do sumiço do Domingos,fiquei torcendo para que ele fosse encontrado vivo numa tribo. A decepção é que na vida real não tem marmelada.

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