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Cadeirante faz diário de viagens para inspirar deficientes a conquistar autonomia
Cadeirante faz diário de viagens para inspirar deficientes a conquistar autonomia
Morador de Indiaporã, Flávio Sant'anna, convive com a falta de mobilidade desde o carnaval de 1996 após acidente em um mergulho nas águas do Rio Grande
Morador de Indiaporã, Flávio Sant'anna, convive com a falta de mobilidade desde o carnaval de 1996 após acidente em um mergulho nas águas do Rio Grande
Flávio se tornou cadeirante após acidente ocorrido em um mergulho nas águas do Rio Grande
Breno Guarnieri
Com o objetivo de chamar a atenção de autoridades e moradores de Fernandópolis e região sobre as dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência física, o corretor de imóveis Flávio Sant'anna, de 47 anos, percorre boa parte dos municípios do noroeste paulista. Flávio, morador de Indiaporã, se tornou cadeirante após acidente ocorrido em um mergulho nas águas do Rio Grande, no carnaval de 1996, que o deixou tetraplégico. À reportagem de O Extra.net, Flávio salientou que o objetivo das viagens às várias cidades é revisitar amigos PCD's, conhecer novas histórias, suas dificuldades, além de identificar e documentar nos municípios a falta de infraestrutura adequada para locomoção, acessibilidade e inclusão.
O EXTRA: Como está sendo a sua experiência neste tipo de iniciativa? O que você espera como principal resultado da sua ação?
FLÁVIO: A experiência tem sido muito boa, pois tenho reencontrado amigos que por causa da pandemia há muito tempo não os viam. Espero que com o passar dos dias, com minhas visitas, publicações nas redes sociais e com a cobertura da imprensa que tem me apoiado bastante eu consiga trazer para o centro das discussões a necessidade de acessibilidade e Inclusão da Pessoa com Deficiência, pois tenho percebido que as pessoas estão deixando de se preocupar com este assunto. A causa PCD tem sido menos discutida do que nos anos 90 e início deste século.
O EXTRA: Quais as dificuldades que você encontra, em termo de acessibilidade, na região?
FLÁVIO: Tenho ouvido muitas pessoas com deficiência por onde tenho andado e assim como eu, elas têm reclamado da falta acessibilidade nas calçadas e ruas, além de reclamarem, principalmente, da falta de acessibilidade em lojas, e locais de uso público em geral. Outro foco de reclamação é o transporte das pessoas com deficiência e seus acompanhantes quando precisam se locomover para tratamento médico, principalmente, quando este tratamento é fora do município de sua residência, uma vez que esse transporte na maioria das vezes é feito em ambulâncias, que não é o meio de locomoção adequado.
O EXTRA: Transporte, é fácil encontrar ônibus adaptados que te dê tranquilidade de usar o serviço de transporte público?
FLÁVIO: Sou de Indiaporã e pelo município ser pequeno (cerca de 4.000 habitantes) não possuímos transporte coletivo urbano (circular). O município conta com ambulâncias e ônibus para transportar a população para as cidades de Fernandópolis, Votuporanga e São José do Rio Preto, que precisam realizar exames e tratamento médico, porém, os veículos não são adaptados, fator que dificulta bastante o transporte adequado da pessoa com deficiência.
O EXTRA: Você ficou tetraplégico após um infortúnio mergulho nas águas do Rio Grande, em Indiaporã. Como você avalia a segurança no local que recebe inúmeros visitantes?
FLÁVIO: Como o próprio nome diz Rio Grande e essa grandeza impossibilita termos segurança em sua totalidade. A segurança só seria possível nas prainhas e balneários, lugares de maior visitação do público em geral e que não existe. Na maioria das vezes os acidentes como o meu, acontecem fora destes locais. Nossa região é muito quente e muitos procuram o Rio para o lazer, onde são registradas inúmeras ocorrências de acidentes com vítimas nas águas dos rios, córregos e represas da região. Defendo a ideia de que o poder público dos municípios, que ficam às margens do rio, deve realizar campanhas de conscientização à população acerca dos perigos que o Rio esconde em suas águas.
O EXTRA: De forma geral, a sociedade brasileira é tolerante com os deficientes físicos?
FLÁVIO: Se considerarmos que tolerância é o ato de tolerar ou até mesmo suportar, somos suportados. Vivemos em uma sociedade em que a pessoa diferente daquilo que é considerado normal ou até mesmo perfeito é reconhecida como incapaz, é marginalizada e sofre preconceitos.
O EXTRA: O que poderia ser feito para melhorar esse quadro?
FLÁVIO: Na minha opinião, devemos começar as mudanças na base familiar na qual os pais devem ensinar seus filhos a respeitarem as pessoas "diferentes" e multiplicarmos estes ensinamentos nas escolas. O melhor seria ainda se nossos governos investissem na acessibilidade para que as pessoas com deficiência fossem realmente incluídas na sociedade, exemplo partindo de cima. Assim teríamos um Brasil muito melhor para todos.
Flávio durante visita aos amigos PCD’s em Jales, Fernandópolis e Dolcinópolis