ARTIGO

TRABALHO VALORIZADO E VIDA

TRABALHO VALORIZADO E VIDA

Léo Huber, Membro da Pastoral da Cidadania de Jales é mestre em História Social (PUC/SP) e professor do UNIJALES

Léo Huber, Membro da Pastoral da Cidadania de Jales é mestre em História Social (PUC/SP) e professor do UNIJALES

Publicada há 2 anos

O mês de setembro foi definido pela Associação Brasileira de Psiquiatria como o mês dedicado à conscientização da importância que a vida tem e ajudar na prevenção do suicídio. São apontadas muitas razões que levam ao suicídio. Entre as causas está a perda do sentido da vida, que está vinculada ao reconhecimento social que todos buscamos. 

Muito do reconhecimento social é conquistado pelo trabalho, pelo qual nos sentimos úteis e contribuindo para o bem comum. Contudo, a dignidade do trabalho tem sido colocada em segundo plano. O reconhecimento e realização pessoal por meio do trabalho não é comum na sociedade do mercado, em que o importante é o crescimento econômico e que para ser alcançado remunera mal a mão de obra. 

O setor de operações financeiras é um dos que melhor remunera sua mão de obra. Essa esfera tão valorizada na dinâmica econômica atual não produz, pelo contrário, alimenta-se do que os outros setores produzem. Já o trabalho produtivo, pouco valorizado e mal pago, resulta em exclusão, pobreza, falta de reconhecimento e termina promovendo a falta de amor próprio e autoestima, que afeta diretamente nossas relações com as pessoas. 

É normal compararmos nossa vida com a dos outros. Os bem sucedidos social e economicamente são apresentados como vencedores por seus méritos. O mérito não é uma fórmula que promove justiça social. A existência da pessoa vencedora por mérito já supõe a existência do vencido por falta de mérito. Mesmo entre os vencedores por mérito a disputa pelos melhores empregos é tão acirrada que resulta em depressão, ansiedade e raiva, o que leva, também estes, a uma epidemia de saúde mental e resulta em consumo de substâncias químicas para combater a ansiedade, ao abuso de bebida alcoólica e drogas ilegais, gerando condições propícias ao suicídio. 

A exclusão dos sem méritos, sem habilidades especiais, normalmente empregados nos serviços mais penosos e com piores salários, as deixam envoltos na dor e na invisibilidade social. A exclusão é uma pílula amarga, com sérias consequências. Não bastasse isso, essa maioria social, ainda, precisa suportar a arrogância dos vencedores, potencializando seu sentimento de fracasso e frustração. Envolvido nesta realidade dura e sofrida, não é difícil entender as razões que levam a pensamentos suicidas, por não verem razão ou sentido na vida. 

O evangelho de São João (Jo 10,10) narra que Jesus Cristo proclamou: “E vim para que todos tenham vida, e a tenha em abundância” e no evangelho de Mateus (15, 32) Jesus disse a seus discípulos: “Tenho compaixão desta multidão, porque faz três dias que está comigo, e não tem nada para comer”. O reconhecimento e a valorização de todo trabalho produtivo, desde o mais simples, é condição para que todos tenham vida. E a compaixão é um valor que precisamos incorporar em nossa vida. Assim, teremos uma sociedade menos doente, com tantos perdendo a referência do sentido da vida. 


Jales, 14 de setembro de 2022.

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