ELEIÇÕES 2022

Cada povo tem os políticos que merece: Lula não...

Cada povo tem os políticos que merece: Lula não...

Por: O. A. SECATTO

Por: O. A. SECATTO

Publicada há 2 anos

Cada povo tem os políticos que merece: Lula não... 

Por: O. A. SECATTO

“Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.”

Nelson Rodrigues


Era uma vez uma comunidade de rãs. Por ódio ao sapo, elegeram a cobra como presidente. Algumas por protesto; outras por identidade de pensamentos (até então confessados apenas ao espelho ou aos íntimos). Todas sabiam o que a cobra sempre dissera e fizera. Seu rastro de maledicências e morte estava todo registrado. Mas o ódio ao sapo era tanto que cegou grande parte das rãs - e havia outra parte considerável que queria ser como a cobra. Achavam-na forte, poderosa, pia e sincera: uma enviada de Deus. Esqueciam-se, porém, de que não possuíam presas.

A cobra não escondia sua verdadeira natureza. Matava uma rã de vez em quando; e na sequência contava qualquer mentira, elogiava em si qualidades que sabia não ter e, cobrada pela morte desta ou daquela rã por parte da comunidade, fazia-se de vítima e se dizia perseguida. E a parte das rãs com déficit cognitivo que sempre acreditava em qualquer coisa que a cobra dissesse partia, então, em sua defesa. E culpava a própria rã morta pela ação cruel da cobra.

Em pouco tempo a cobra começou a trazer outras cobras para auxiliá-la no governo. “São todas indicações técnicas”, assegurava. Nunca sabiam fazer o que era necessário ao bem-estar da comunidade das rãs. E não faziam mesmo. Toda uma variedade de sortilégios prejudiciais à comunidade, contudo, faziam com excelência. E sem nenhuma culpa. Quando alguma outra cobra matava uma rã, a cobra - e suas rãs - perguntavam: “Mas o que foi que a rã fez para ser morta? Hein? Com certeza fez alguma coisa...”

Próximo ao fim do mandato e querendo reeleger-se, para surpresa de ninguém com cérebro, a cobra havia pouco a pouco deteriorado as relações da comunidade com suas instituições, atiçando suas cobras e rãs alienadas contra as instituições que ainda lhe resistiam (pelo simples fato de cumprir a lei), atacando-as pública e diariamente, pondo em dúvida o processo eleitoral que elegeu a ela mesma e tentando nos bastidores qualquer apoio concreto para o seu discurso de golpe - pois não seria fácil reeleger-se, apesar da histeria coletiva de sua massa de rãs, que atacavam parentes e amigos em defesa da cobra, qualquer que fosse o absurdo que ela falasse.

Uma parte das rãs tinha plena consciência do perigo da cobra; outra estava alienada; outra, ainda, relutava a formar um grupo único contra a barbárie e o caminho certo à morte da sua ainda frágil democracia, mesmo que discordassem em tantos outros assuntos.

Quando as rãs relutantes perceberam, haviam deixado as que se opunham à cobra em número insuficiente para mudar o rumo das coisas. Muito divididas ainda, sucumbiram à organização das ensandecidas rãs suicidas, que riam enquanto eram mortas pelas cobras.

Já era tarde demais.

***

Povo armado de voto jamais será escravizado por miniaturas vis e desprezíveis de ditadorzinhos incompetentes, inseguros e covardes. Não é questão de oferecer a outra face, mas lutar o bom combate democrático: nas urnas, com voto consciente e nunca numa pessoa mesquinha, execrável. Quem permanecer no assento da inércia e da omissão vai acabar oferecendo não apenas a face, mas os joelhos, as costas e a nuca: ditadores em geral protegem apenas a si mesmos e a seus filhos; o resto só continua protegido enquanto tem alguma utilidade. Todos os outros serão descartados em algum momento.

Nesta eleição, infelizmente, vamos ser obrigados a escolher o “mal menor”. No fundo, neste momento todos têm lado: um democrático e outro autoritário, desumano, corrupto, baixo. Quem não é petista nem defensor do Lula provavelmente torceu por uma candidatura alternativa à Presidência da República, mas nenhuma surgiu com chance de ir para o segundo turno, como se viu.

Ninguém pode a esta altura ter a desfaçatez de defender que o PT e seus governos foram um exemplo irretocável de honestidade e que não houve corrupção. E parte do que estamos vivendo é decorrência da chance que o PT no poder teve e em parte desperdiçou, atiçando tão vivamente esse antipetismo que está aí até hoje. Às vezes ele parece cegar as pessoas tanto quanto qualquer afinidade com a extrema direita autoritária e perigosa. São vários os motivos da corja reacionária, dentre eles, também, o próprio ódio aos pobres, que nunca antes haviam tido tanta atenção do Estado.

No próximo dia 30 de outubro de 2022, entretanto, o atual presidente não é uma opção.

Lula não é ingênuo. Mas hoje, ao menos para aqueles que não lhe têm apreço, é o “mal menor” por nunca ter ameaçado as instituições e a democracia como o atual presidente ameaça.

E quem, tendo um mínimo de instrução e humanidade, ainda hoje apoia alguém como o Bolsonaro, após quatro anos não só das coisas pavorosas que ele disse (e já dizia há trinta anos), mas do que ele fez - e abertamente ameaça fazer -, não pode invocar o benefício da dúvida ou da ingenuidade. Não dá para tapar o sol com a peneira. Ter apreço por liberdade, família, valores qualquer pessoa decente tem. Mas realmente acreditar que o Bolsonaro - e tudo de ruim que vem com ele - remotamente representa esses valores de há muito não é “questão de opinião”, mas pura alienação.

Parece-me que o lema “eu abraço o capeta mas não voto no Lula” - apesar de hoje ser praticamente uma expressão literal - não pode ser uma opção, seja humana, cristã ou civilizatória.

Lula não era o que muitos queriam - e tinham direito de querer alguém diferente, que não fosse como os dois, que já tiveram mandato -, mas hoje é a única alternativa humana e democrática.

***

PS 1: Em todo o texto acima, no caso específico do Estado de São Paulo, troque “Lula” por “Haddad” e “Bolsonaro” por “Tarcísio”. A lógica é a mesma.

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PS 2: Torcemos para que a previsão do Nelson Rodrigues seja para um futuro muito, muito distante ainda...

Imagem: Ilustração



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