Por Bruno Anselmi Matangrano
Mês passado, tive a oportunidade de visitar no Museu do Louvre, em Paris, a exposição infantil Mitos Fundadores — De Hércules a Darth Vader. Uma exposição simplesmente genial! As instalações eram totalmente adaptadas para crianças, com painéis interativos e folhetos com atividades de fato interessantes.
Ao lado de cada objeto exposto, painéis coloridos traziam textos bastante completos, mas em linguagem acessível e divertida. O catálogo — igualmente pensado para os pequenos leitores — apresentava duas versões: uma com menos textos, mais ilustrada e com informações simplificadas para os menorzinhos, e outra mais elaborada para os leitores grandinhos (que, como eu, certamente ficaram com um baita sorriso em poder comprá-lo e levar para casa).
Mas se, por um lado, tudo fora montado na expectativa de um público mirim, os itens expostos, por outro, eram coisa de gente grande: esculturas antigas de civilizações indígenas, vasos e estátuas gregos, telas modernas a óleo, bonecas artesanais orientais, além de um minidocumentário sobre a saga Star Wars e o capacete do líder do lado sombrio da Força. Tudo exposto lado a lado, com o mesmo respeito, com a mesma importância. E o mais legal de tudo isso era ver os francesinhos — com idades entre 5 e 8 anos — andando livremente pelos corredores da Petite Galerie anotando em seus panfletos, curiosos, as informações que descobriam ao ler, com entusiasmo, as plaquinhas que contavam sagas heroicas, de personagens como Hércules e Circe, culminando na saga de Luke Skywalker.
Era tudo tão mágico e as crianças pareciam estar se divertindo tanto que, obviamente, fiquei pensando: por que algo assim não é feito no Brasil? A resposta logo me veio à mente: o problema é que, infelizmente, muitos professores e outros intelectuais ainda têm preconceito com a cultura pop e não veem que com isso cada vez menos crianças brasileiras se interessam por história, leitura, museus, etc. Em suma, cada vez menos as crianças gostam de estudar, tendo sua curiosidade natural sufocada por uma completa falta de empatia ou traquejo, seja dos pais, seja dos educadores, ou mesmo de figuras que, a princípio, podem parecer distantes, como os curadores de museus. Isto porque, enquanto na Inglaterra Harry Potter e Senhor dos Anéis já são incorporados em muitos currículos e tratados com o respeito e a importância que de fato merecem, em terras tupiniquins ainda se acha que faz algum sentido enfiar Machado de Assis (que é excelente, e divertidíssimo, diga-se de passagem, se apreciado, tal como um bom vinho, em seu tempo certo — o que varia de pessoa para pessoa) goela abaixo de adolescentes de 14 ou 15 anos, cujas referências são totalmente outras...
A educação no Brasil, como tem sido praticada, não funciona, mas insistimos no erro. E então me pergunto, por que não fazer — tal como fizeram os curadores da exposição do Louvre — a ponte entre o novo e o clássico para não apenas lhes despertar o interesse, como também para mostrar que afinal o mundo de antes e o de agora não são assim tão diferentes? Por que não mostrar o percurso de hoje para o ontem para que, com suas próprias pernas, cheguem aos clássicos, na História, na cultura dita erudita? Usar videogames, filmes, séries de TV ou histórias em quadrinhos para ensinar literatura, mitologia, filosofia ou história é mais do que possível. Já é uma realidade em muitos lugares. E o Brasil só perde enquanto não abraça esta nova forma de fazer e ver o mundo...
A chamada cultura pop está aí e já é consumida de toda forma, independentemente do desdém de alguns, por que então não a abraçamos como aliada e paramos de bobagem? Assim, quem sabe um dia, teremos brasileirinhos tão interessados em museus como os francesinhos que vi no Louvre aquele dia, lendo e anotando, com real desejo de aprender.
* BRUNO ANSELMI MATANGRANO - AUTOR DE ‘CONTOS PARA UMA NOITE FRIA’ (LLYR), É PESQUISADOR, EDITOR, TRADUTOR, ESCRITOR E DOUTORANDO PELA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)