CULTURA!

A FOTOGRAFIA

A FOTOGRAFIA

Publicada há 7 anos

Por Isabela Zarda



Dizem por aí que quem procura sempre acha. Hoje vejo que é verdade. Ela não era meu foco; contudo, foi como achar uma faísca de fogo, no escuro da floresta. Até mesmo igual ao nascer do sol, ela foi a luz em meio ao caos. Eu via uma moça nos seus vinte e poucos anos, na flor da idade. Descobrindo desejos e amores, presa nos seus pensamentos e andando quase sempre distraída. Também vi ao seu lado um jovem da mesma idade que parecia confortá-la com o olhar. Alto, cabelos negros, e os olhos acompanhavam a escuridão. Ela com um vestido que realçava suas curvas e as pernas elegantemente bem cruzadas, num banco de madeira de 1912. Era difícil ver os detalhes com tudo em preto e branco, entretanto, era nítido o amor que sentiam. Por um momento até eu quis viver aquele amor, aquela paixão, sentir aquela intensidade de sentimentos, o desejo à flor da pele. Estava tudo bem clássico, um banco rústico, iluminação fraca de candeeiros antigos, um muro de tijolinhos ao fundo e glicínias com uma cor aparentemente forte do lado, cujas flores forravam o chão. Ele vestia um colete e, por baixo, consegui ver o suspensório, sem contar a boina, tornando-o mais cavalheiro. Ali fora retratado o verdadeiro amor, o amor do companheirismo, da amizade. O brilho nos olhos do casal, iluminava mais que as estrelas. Tão jovens e já entregues a uma paixão, descobrindo os perigos e também as loucuras. No colo da moça havia um livro, podia ser um romance barato ou um diário, que talvez tivesse como personagem principal o rapaz. Este também carregava no bolso um maço de cigarros, que com certeza servia para inspirá-lo a escrever poemas e serenatas a ela. Só que de repente algo quebrou aquela
magia. E bateu uma forte dor no peito, que rapidamente espalhou-se pelo meu corpo, como uma facada no coração da alma. Observando atentamente a fotografia que havia achado nas caixas empoeiradas do meu porão, já estava sonhando, mas caí em queda livre das nuvens quando uma frase escrita minusculamente chamou minha atenção. Letras falhadas pela precariedade, decifrei, forçando bem a vista, algo de que me arrependi profundamente. Quando dizem que palavra é faca de dois gumes, é totalmente real. Foram seis termos que me dividiram entre o sonho e a realidade, seis termos que atiraram à queima-roupa na minha imaginação: “Peça teatral, A Grande Mentira, 1933”.


 * ISABELA ZARDA, CURSANDO O PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO, É VENCEDORA DO CONCURSO DE REDAÇÃO TV TEM 2016



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