Por Gil Piva 

O cenário agora é outro. Bem que esta frase poderia ser o começo de um livro. E talvez seja. A nova série da Globo, Dois Irmãos, baseada na obra homônima de Milton Hatoum, propõe isso ao levar o espectador para a Amazônia. Dirigida por Luiz Fernando Carvalho, a série faz parte de um projeto da Rede Globo: Projeto Quadrante.

Em síntese, o projeto se atém a duas prerrogativas: adaptar para a tv obras literárias regionalistas, e, conseguinte, reinventar sua programação e o estilo de suas minisséries. Já foram adaptadas para a tv obras como A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, e Capitu, de Machado de Assis — sempre sob o comando de Luiz Fernando Carvalho, que caiu na graça da emissora e do público pela novela Rei do Gado. Em O Rei do Gado, Carvalho arriscou a caminhar descalço ao filmar (em película mesmo) seus primeiros capítulos — detalhe que encarecia demasiadamente as gravações. Mais tarde, ele ainda faria da literatura um espaço aberto para a tv em a belíssima minissérie Os Maias. Os Maias pode não ter sido a primeira minissérie adaptada de uma obra literária para a tv, mas sem dúvida foi uma das mais marcantes, quando se pensa num caráter literário peculiar das gravações em si. A sutileza e a profundidade de cada tomada promoveram seu estilo e deram cara nova às minisséries, fato que fez com que muitos atores quisessem uma oportunidade de ser dirigidos por Carvalho. Dois Irmãos teve suas gravações interrompidas porque o próprio diretor precisou se dedicar a outro trabalho: a novela Velho Chico. A minissérie, que findou essa semana, teve dez capítulos, e provou que o tom erudito bem pode se mesclar com a

difusão televisiva sem desvalorizar o ecletismo que há entre literatura e entretenimento. Tudo indica que o próximo autor regionalista a ser agraciado para, talvez, encerrar o Projeto Quadrante seja o livro Dançar Tango em Porto Alegre, de Sérgio Faraco. 

Dois irmãos. Juliana Paes como Zana, a mãe dos gêmeos Yaqub e Omar