MINUTINHO
Fazer o bem sem olhar...
Por: Clarius
Fazer o bem sem ostentação é grande mérito. A mais bela das ações. Ainda mais meritório é ocultar a mão que dá. Constitui marca de grande superioridade moral, aplaudível por Deus.
Não saber a mão esquerda o que dá a mão direita é uma mensagem que caracteriza admiravelmente esse tipo de benefício e o valoriza ainda mais sob o manto Divino.
Óbvio que qualquer tipo de conduta ativa é mais valorosa que nada fazer, que a ninguém beneficiar. Antes “doar com interesses outros” que ignorar a dor do próximo.
O problema é uma questão de beneficiários. Se a ação voluntária visa somente o bem do irmão sofredor, ela beneficia a ambos: doador e donatário; já se é motivada por outros sentidos (para “se aparecer” perante a mídia, a sociedade; para humilhar ainda mais o beneficiário; para demonstração de poder e força; em troca de favores políticos), certamente que só a um provém: àquele que recebe.
Quando, ao demais, se o benefício tem por objetivo maior atender à necessidade de um eventual desafeto, de alguém com quem ainda tenhamos “rugas”, contas a acertar, torna-se ainda mais meritório. Se não constranger o beneficiado, nem impor-lhe condições vexatórias ou ter motivações pessoais escusas, ainda melhor!
A criatura demonstra, com tal atitude, estar acima do comum da humanidade e, por consequência, sua colheita há de ser eivada de melhores frutos.
Pense bem! Sempre que possível fazer o bem sem olhar a quem e sem “segundas” intenções é a consagração, na Terra, de todos os Dez Mandamentos em uma singela frase: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Lembre-se que doar não é um ato entre você e o beneficiário. Doar é um ato de você para com Deus! Que essa lição não caia no seu esquecimento, e, tanto quanto possível, lhe sirva de inspiração e exemplo.
CRÔNICA
Além do tempo
Por: Redação do Momento Espírita
Seguiam a nossa frente. Passo lento, cadenciado. Mãos dadas. As cabeças nevadas e a lentidão do passo lhes denunciavam a idade avançada.
Um homem. Uma mulher. Um casal de velhos. De mãos dadas, enamorados. As mãos seguravam firme, como a dizer que um se constituía no apoio do outro. Assim no físico, assim no afeto.
Ficamos a imaginá-los, na esteira do tempo, jovens, rindo e correndo pelo parque, sob as bênçãos do sol. Brincando no lago, jogando água um no outro, gargalhando. Pudemos quase vê-los de forma nítida abraçados, quietos, olhando enlevados o concerto da primavera em flor, mãos entrelaçadas, cabeças apoiadas, tecendo sonhos e fantasias.
Terão imaginado quiçá que alcançariam esta idade, unidos?
São eles mesmos! Atravessaram os anos e prosseguem apaixonados. Casaram, tiveram filhos, passaram as mil dificuldades de educar, instruir e amar a prole, renunciando muito a benefício deles. Quando os filhos se foram, um a um, como aves de arribação, deixando o ninho para construir o seu próprio e eles ficaram sós, souberam retomar o enlevo dos primeiros dias.
O segredo dessa união sólida? O amor. Só o amor tem o poder de atravessar os anos e se tornar mais intenso. Só ele pode enfrentar com dignidade o encarquilhar das mãos, o aparecimento das rugas, o andar mais demorado. Somente ele, porque possui lentes especiais, que transcendem o físico e alcançam a alma.
Relação assim regida prossegue para além da vida corpórea. Um parte como flor que fenece ao vento gélido e fica aguardando o outro.
Enquanto espera o amado, a sua é a tarefa de amparar, zelar pelo que ficou nas estradas do mundo. Nas noites solidão, fala-lhe à intimidade do logo mais e insufla-lhe coragem para não se abater ante os percalços que lhe faltam vencer. Aguarda-o, no mundo espiritual, como o noivo espera a amada, em dia festivo. E quando finalmente chega o dia da partida, prepara-lhe a chegada e o retoma nos braços em suave amplexo demonstrando que o amor vence a dor, o sofrimento e a morte.
Imagem: Ilustração. Fonte: Reprodução / USP