MINUTINHO
O homem triste
Por: Meimei
Você passou por mim com simpatia, mas, quando viu meus olhos parados, indagou em silêncio o porque vagueio pelas ruas.
Talvez por isso apressou o passo, e ainda que eu quisesse chamar, a palavra desfaleceu na boca.
É possível que você suponha que eu desisti do trabalho, no entanto, ainda hoje bati de porta em porta em vão.
Muitos disseram que ultrapassei a idade para ganhar o pão, como se a madureza do corpo fosse condenação à inutilidade.
Outros, desconhecendo que vendi minha melhor roupa para aliviar a esposa enferma, me despediram apressados, crendo que fosse eu um vagabundo sem profissão.
Não sei se você notou quando o guarda me arrancou da frente da vitrine, a gritar palavras duras, como se eu fosse um malfeitor vulgar. Contudo, acredite, nem me passou pela mente a idéia de furto.
Apenas admirava os bolos expostos, recordando os filhinhos a me abraçar com fome, quando retorno a casa.
Talvez, tenha observado as pessoas que me endereçavam gracejos, imaginando que eu fosse um bêbado, porque eu tremia, apoiado ao poste. Afastaram-se todos, com manifesto desprezo, mas, não tive coragem de explicar que não tomo qualquer alimentação há três dias.
A você, todavia, que me olhou sem medo, ouso rogar apoio e cooperação. Agradeço a dádiva que me ofereça em nome do Cristo que dizemos amar, e peço para que me restitua a esperança, a fim de que eu possa honrar com alegria o dom de viver.
Para isso, basta que se aproxime de mim sem asco, para que eu saiba, apesar de todo meu infortúnio, que ainda sou seu irmão.
CRÔNICA
A gratidão
Por: Autoria desconhecida
O homem, por trás do balcão, olhava a rua de forma distraída, quando uma garotinha se aproximou da loja e amassou o narizinho contra o vidro da vitrina. Seus olhos, da cor do céu, brilharam quando viu determinado objeto. Entrou na loja e pediu para vê-lo. Era o colar de turquesas azuis.
- É para minha irmã, pode fazer um pacote bem bonito?
O dono da loja, desconfiado, olhou para a garotinha, para seu vestido e sapatos, surrados pelo uso, e lhe perguntou:
- Mas quanto dinheiro você tem? Essa peça é cara. - afirmou.
Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho e foi desfazendo os nós. Colocou-o sobre o balcão e disse:
- Isto dá, não dá?... Eram apenas algumas moedas que ela exibia orgulhosa, que, sinceramente, nem de perto cobria o valor.
- Sabe. Eu quero dar este colar azul para a minha irmã mais velha. Desde que nossa mãe morreu, ela cuida da gente e não tem tempo para ela. Hoje é o aniversário dela e tenho certeza que ela ficará muito feliz com esse colar que é da cor dos seus olhos, disse a menina.
O homem, emocionado, foi para o interior da loja, colocou o colar em um belo estojo, embrulhou-o com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado com uma fita verde.
- Tome - afirmou. Mas leve-o com cuidado!
E a guria saiu feliz, saltitando pela rua abaixo.
Mais tarde, quando ainda não acabara o dia, uma linda jovem, de longos cabelos loiros e maravilhosos olhos azuis, adentrou a loja. Dirigiu-se ao vendedor colocando sobre o balcão o já conhecido embrulho, já desfeito, e indagou:
- Este colar foi comprado aqui?
- Sim, senhora - respondeu.
- E quanto custou?
- Ah, - falou o dono da loja, - o preço de qualquer produto da minha loja é sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o freguês...
A moça continuou:
- Mas minha irmã tinha somente algumas moedas... O colar é verdadeiro, não é? Ela não teria dinheiro para pagá-lo!
O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho, colocou nova fita e devolveu a jovem, dizendo:
- Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar... Ela deu tudo o que tinha!
O silêncio encheu a pequena loja, e duas lágrimas rolaram pela face da jovem, enquanto suas mãos retomavam o embrulho.
Então ela abraça a irmã, pega sua mão e torna ao lar.
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