ARTIGO

As antigas relações sociais

As antigas relações sociais

Por Carlos Eduardo

Por Carlos Eduardo

Publicada há 7 meses

Até alguns anos atrás, no início da noite e após um dia de trabalho, os vizinhos reuniam-se na calçada, sentados naquelas cadeiras de corda a conversar despretensiosamente, “jogando papo para o ar” ou “colocando a conversa em dia”. Claro! As fofocas do bairro eram a cereja do bolo naquelas reuniões. Que costume prazeroso, ajudava a reforçar as amizades.

Na zona rural ou em um grande quintal de uma casa urbana, as famílias e os amigos se reuniam para fazer pamonha. Era trabalhoso preparar pamonha. Descava-se o milho, extraiam-se os grãos do sabugo, cozinhavam o creme, embalava-o na folha do próprio sabugo e, depois, todos saboreavam o quitute e ainda levavam para suas casas para comer ao longo da semana.

O trabalho e a demora no preparo da pamonha tornavam esse procedimento oportuno, pois tinham tempo para conversar, contar histórias, interagir pessoalmente (algo cada vez mais raro hoje em dia). Enfim, a pamonha era um pretexto, o importante era a reunião, ou melhor, a união, a interação. 

Destaca-se que essa reunião também ocorria durante o abate de um porco na zona rural.

Esse costume de interagir pessoalmente, com certa frequência, com parentes e amigos ainda sobrevive entre as pessoas nesses rincões do Brasil. Gente simples que, além da simplicidade, tem amizades sinceras, sem formalidades fúteis, passando ao largo de cerimônias sociais entediantes.

Digo cerimônia porque, atualmente, para visitarmos um amigo ou um parente, nossa! Temos que agendar com antecedência, avisar, telefonar, opa, ninguém mais fala ao telefone hoje em dia, nem atende a ligação, tudo acontece via “WhatsApp”.

E por falar em “WhatsApp, já reparou que as conversas estão se restringindo cada vez mais neste aplicativo de mensagens? Conversas por meio de frases curtas, repletas de abreviações inexistentes na gramática e disparos de áudios com, no máximo, um minuto de duração. Tudo rápido, muito rápido. Ninguém tem paciência mais para ouvir um áudio um pouco mais longo, quanto menos falar ao telefone, menos ainda pessoalmente. Exige-se rapidez extrema. Parece que vamos tirar o “pai da forca”, como dizia um antigo ditado. Isso não é interação social de qualidade!

E por falar em interação social de qualidade, tenho a felicidade de conviver com o homem do campo que celebra a união da família e dos amigos recebendo-os em sua casa com verdadeira alegria, satisfação e hospitalidade. Para o camponês é uma honra receber os amigos em sua casa. Dificilmente passa um fim de semana em branco, sempre há pequenas festas e churrascos. É de se admirar!

A propósito! Há pouco tempo levei a minha mãe, professora aposentada, em um sítio no qual ela lecionou muito tempo em uma antiga escola isolada (escolas que ficavam na zona rural). A família, proprietária do sítio, recebeu a minha mãe como uma verdadeira celebridade, com toda hospitalidade do mundo. Que satisfação! Que tarde de sábado prazerosa que passamos lá! Essa hospitalidade e disposição em receber as visitas faltam hoje em dia nas pessoas da cidade e sobram nas pessoas simples do campo. Ainda bem!

Atualmente ninguém visita ninguém, cada um no seu “mundinho” egoísta e comodista. As pessoas ficam quase “vesgas” de tanto olhar na tela do celular e só faltam criar “raízes” no sofá “maratonando” nas séries viciantes de canais de “streaming” que só as fazem perder horas em frente a TV.

A interação pelas redes sociais, uma constante hoje em dia, não se compara com a relação social realizada pessoalmente. É fria, distante, não tem calor humano. É algo fugaz, pobre e mecânico, quando não descamba para brigas por conta dessa nefasta polarização política que vivenciamos no país.

O que está acontecendo com as relações sociais? Antes, a sala de visita era o cômodo mais requintado de uma casa, justamente para causar boa impressão naquele que nos visitava, deixando clara a satisfação em recebê-lo em nossa residência.

Hoje em dia nem existe mais este cômodo nas casas. Já repararam este detalhe? Claro! Nem recebemos mais visitas. Seria um desperdício, não é verdade? Que tristeza! Lamentável.

Deixemos um pouco o celular, os filmes e as séries nestes serviços de “streaming” e vamos conviver mais com os nossos amigos e os nossos parentes mais queridos. Convivência pessoal, não à distância. Convivência real, não virtual. Convivência de verdade.

Vamos resgatar os velhos costumes! Vamos resgatar as antigas formas de se relacionar com as pessoas. As antigas relações sociais.



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