O médico e o policial. Um Conto de Waldo Vieira

O médico e o policial. Um Conto de Waldo Vieira

Leia também: Familiares e amigos. Por: Emmanuel / Chico Xavier

Leia também: Familiares e amigos. Por: Emmanuel / Chico Xavier

Publicada há 4 dias

MINUTINHO

Familiares e amigos

Por: Emmanuel / Chico Xavier

No torvelinho das preocupações em torno dos familiares queridos, pausemos, de algum modo, para enxergá-los, não com os olhos da afeição possessiva, e sim na posição de criaturas de Deus, como são, tanto quanto nós.

Queríamos talvez que eles crescessem pelos nossos padrões; no entanto, possuem caminhos outros pelos quais chegarão às mesmas fontes da fé em que se nos apoia a existência.

Desejávamos pensassem pelas ideias que nos orientam a estrada, mas trazem consigo vocações e tendências, ideal e visão muito diversos daqueles que nos caracterizam a marcha.

Aspirávamos a tê-los no mesmo trabalho que mais se nos adapta à maneira de ser; todavia, nem sempre se destinam a fazer aquilo que nos compete realizar.

Anelávamos situá-los nos figurinos de felicidade que nos parecem mais justos e aconselháveis; entretanto, permanecem guiados pelo Governo da Vida para outros tipos de felicidade que ainda não chegamos a conhecer.

Imagem: Ilustração. Fonte: Vectzeez

Às vezes, não nos conformamos ao vê-los sofridos ou inquietos, porém, é forçoso considerar que, como nos ocorre, estarão carregando débitos e compromissos que, nem nós e nem eles, resgataremos sem dificuldade ou sem dor.

Por tudo isso, aprendamos a observar nos entes amados criaturas independentes de nós, orientadas frequentemente, noutros rumos e matriculadas em outras classes, na escola da experiência.

E, acima de tudo, reconhecendo quão importante se faz a liberdade para o desempenho das obrigações que nos foram assinaladas, saibamos respeitar neles a liberdade que igualmente desfrutamos, perante as Leis do Universo, a fim de crescerem e se aperfeiçoarem na condição de livres filhos de Deus.

CRÔNICA

O médico e o policial

Por: Adaptação de Conto de Waldo Vieira

– Se possível, acelere um pouco a marcha. Era o abnegado médico, Dr. Militão Pacheco, que rogava ao amigo que conduzia o veículo. E acrescentava: – O caso é urgente!

O companheiro ao volante aumentou a velocidade, mas, daí a momentos, um policial sinalizou. O motorista atendeu com dificuldade e, talvez por isso, o carro chocou-se com a motocicleta do guarda. Porém sem consequências. O policial, porém, não estava num dia feliz e o Dr. Pacheco e o amigo receberam uma saraivada de palavrões.

Notando que não reagiam, o funcionário fez-se mais duro e declarou que não se conformava simplesmente com a multa. Ambos os infratores estavam detidos. 

O Dr. Pacheco deu-lhe razão e informou que realmente seguiam com pressa porque precisavam socorrer um menino sem recursos, rogando, humildemente, para que a autuação com a autoridade superior fosse adiada.

– Se o senhor é médico – disse o policial, com ironia -, deve proceder disciplinadamente, sem sair do regulamento. Para ser franco, se eu pudesse, meteria os dois, agora, no xadrez.

Embora o amigo estivesse rubro de indignação, o Dr. Pacheco, benevolente, fez uma proposta: o guarda deixaria, por alguns instantes, sua moto, e seguiria com eles no carro, mantendo vigilância. Depois do socorro ao doentinho, segui-lo-iam para onde quisesse. Havia tanta humildade na súplica, que o fiscal concordou, embora repetisse asperamente os insultos.

– Aceito – exclamou -, e verificarei por mim mesmo. Ando saturado de vigaristas. E creiam que, se estão agindo com mentira, hoje dormirão na Cadeia.

A motocicleta foi confiada a um colega de serviço e o policial entrou, seguindo em silêncio. Rua aqui, esquina acolá, dentro em pouco o carro atingiu modesta residência na Lapa, em S. Paulo. Os três entram por grande portão e caminham até encontrar um esburacado casebre nos fundos. Ao ver o menino torturado de aflição nos braços de infeliz mulher, o bravo fiscal da lei, com grande assombro dos circunstantes, ficou pálido e com os olhos rasos de água. O petiz agonizante e a jovem senhora sem recursos eram o seu próprio filhinho e a sua ex-esposa que ele havia abandonado dois anos antes…

O texto é de livre manifestação do signatário que apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados e não reflete, necessariamente, a opinião do 'O Extra.net'.

últimas