MINUTINHO
Conselhos de pai
Por: Andrey Cechelero
Meu filho.
Peço que seja educado com as pessoas.
Mas, antes... que queira ser.
Não atenda cegamente o meu pedido.
Entenda que assim como você, todos merecem bom tratamento.
Entenda que a delicadeza no trato, a gentileza nos pequenos gestos, nos fazem mais capazes de navegar em rios onde jamais a dureza e a rispidez de coração nos levariam.
Meu filho, peço que seja honesto, com qualquer um e com você mesmo.
Mas antes... que queira ser.
Não atenda cegamente o meu pedido.
Compreenda o seu compromisso com a verdade. Quanto mais próximo dela, mais feliz você será. Quanto mais apartado estiver, mais infelicidade trará aos seus dias.
Seja verdadeiro com você mesmo, com seus princípios. Quando estiver em grande dúvida, lembre-se de dar um mergulho nas águas da sua essência. As respostas estarão lá, na sua consciência.
Meu filho, peço que ampare o seu próximo.
Mas antes, que queira amparar.
Não atenda cegamente o meu pedido.
O próximo é tão importante quanto você mesmo. O outro é seu irmão, muito parecido com você, embora a convivência difícil por vezes queira apontar o contrário.
Toda nossa dificuldade em conviver com o outro está no fato de que ainda não convivemos bem conosco mesmo.
Ampare o amigo do caminho. Não deixe de perceber os que passam por você todos os dias e que muitas vezes guardam feridas imensas na alma.
Por vezes esperam apenas um bom dia, um sorriso, um pequeno gesto de alguém que se importe com eles.
Na maioria das vezes não é nada complexo, nada que vá lhe exigir muito tempo ou grandes conhecimentos. Tudo que o próximo deseja, quase sempre, é saber que alguém se importa com ele.
Não é assim também que você se sente?
Esta pequena carta é uma amostra do quanto eu me importo com você. E mais: o quanto esse importar me faz bem, o quanto ele é natural nos meus dias.
É assim no amor verdadeiro. Espero que você possa construir muitos em sua vida.
CRÔNICA
Remorso que corrói
Por: Com base no livro O caçador de pipas, de Khaled Hosseini
Ele tinha em torno de 13 anos, quando tudo aconteceu. Desde criança, tudo fizera para conquistar o amor de seu pai. Em vão.
Vez que outra, por uma vitória que fazia bem ao orgulho paterno, ele conseguia ser aninhado em seu colo.
E como ele desejava estar lá, naquele colo, mais vezes... Sentir a barba de seu pai roçar em seu rosto, sentir o calor daqueles braços.
Mas o pai parecia distante, alheio ao filho. E pior: o garoto percebia como eram malvistas algumas das suas fraquezas.
O pai queria um filho forte. E ele era um menino que tinha náuseas por pouca coisa: quando viajava, quando algo o incomodava, quando...
Adolescente, o que sentia na infância, recrudescera. Em todo esse processo, ele tinha um grande rival: o filho do empregado da casa.
Hassan era um servidor fiel. Quase da mesma idade de Amir, ele se levantava cedo para lhe preparar o café, a roupa, tudo que lhe fosse necessário.
Seguia-o aonde fosse, defendia-o dos garotos maus, que o desejavam agredir. Defensor leal, amigo fiel.
E Hassan parecia gozar das graças do pai de Amir. Quando iam passear, o pai sempre o levava com eles.
Amir desejaria estar só com o pai, desfrutá-lo sozinho. Mas Hassan sempre estava lá, forte, disposto, corajoso.
Então, Amir decidiu que era hora de acabar com a concorrência.
Pegou seu valioso relógio de pulso e algum dinheiro e colocou debaixo do colchão de Hassan.
Depois, foi dizer ao pai que aqueles pertences haviam sumido do seu próprio quarto. E que suspeitava de Hassan.
A acusação era grave e foi confirmada: tudo foi encontrado debaixo do seu colchão.
Perguntado, Hassan confessou: Roubei.
Amir entendeu que o amigo o estava salvando de uma situação terrível, pois se seu pai descobrisse a verdade, ele é que estaria em maus lençóis.
Amir se sentiu como um mentiroso, um traidor, um monstro. Contudo, se calou. A afeição de seu pai por ele estava em jogo.
Hassan foi embora e ele nunca mais o viu. O remorso, contudo, jamais o abandonou.
Ele não confiaria a ninguém o seu segredo, entretanto, passaria a sua vida remoendo a culpa.
Culpa da qual não pôde pedir perdão a Hassan, pois nunca mais o encontrou. E, toda vez que em sua vida algo ruim acontecia, a cena lhe vinha à mente.
Acreditava-se sendo castigado, sem ter direito à felicidade.
O texto é de livre manifestação do signatário que apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados e não reflete, necessariamente, a opinião do 'O Extra.net'.