EDUCAÇÃO

Dia do Professor: histórias de três educadores que têm paixão pela profissão

Dia do Professor: histórias de três educadores que têm paixão pela profissão

Trajetórias de dedicação e estudo até chegarem à sala de aula

Trajetórias de dedicação e estudo até chegarem à sala de aula

Publicada há 2 meses

Da Redação

A profissão que forma todas as profissões: neste dia 15 de outubro, é comemorado no Brasil o Dia do Professor. Um ofício antigo, mas que sempre requer atualização e constante dedicação de quem se propõe a ensinar. Com papel importantíssimo na formação da sociedade, os mestres merecem todas as homenagens e agradecimentos. Para celebrar a data, a International Schools Partnership reuniu três histórias inspiradoras de profissionais que tem verdadeira paixão pela Educação.

Por meio de bolsas de estudos, Henrique conseguiu furar a bolha da comunidade em que vivia, Paraisópolis. Foto: Divulgação.

Henrique: vida transformada pela Educação

Henrique Paraizo de Melo, de 32 anos, nasceu e cresceu em Paraisópolis, comunidade com mais de 100 mil moradores vivendo entre ruas e vielas, em São Paulo. Por lá, o ensino superior não costuma ser uma realidade: apenas 34,3% dos moradores têm Ensino Médio completo ou superior incompleto, segundo pesquisa do Instituto Favela Diz. Henrique furou essa bolha e foi além.

O hoje professor de Ciências do Colégio BIS (Brazilian International School) tem uma origem semelhante à de muitos brasileiros: filho de pai nordestino e mãe paulistana, por muito tempo teve vergonha de dizer que morava na segunda maior favela da capital paulista.

“Meus pais são pessoas simples, mas sempre se esforçaram ao máximo para dar conforto e educação para mim e para minhas duas irmãs. Até hoje eles possuem um comércio dentro da comunidade. Mas hoje posso dizer com orgulho sobre minhas raízes”, conta.

A vida de Henrique mudou por conta da Educação: ainda criança, conseguiu uma bolsa de estudos em um colégio particular fora da comunidade, onde estudou até o Ensino Médio – uma oportunidade única da qual outros jovens de sua geração, incluindo suas duas irmãs, não tiveram acesso.

“Quando terminei os estudos, tive a certeza que gostaria de trabalhar com algo relacionado à educação, e decidi cursar Biologia. A decisão de virar professor veio da vontade de levar a educação para mais pessoas, e assim, ser um agente de transformação na vida dos meus alunos”.

Mais uma vez Henrique foi bolsista, conseguindo cursar Ciências Biológicas por meio do Prouni. “Posso dizer que a educação foi algo que mudou a minha vida e da minha família, e me deu mais oportunidades na vida”, afirma.

O educador começou na docência ministrando aulas para alunos de Ensino Médio da rede pública, no período noturno, um grande desafio para o recém-formado com pouca idade à época. Mas o que ele mais gostava mesmo era das aulas que dava de forma voluntária em um cursinho popular de Paraisópolis.

“Todo sábado eu tinha o compromisso inadiável com alunos das mais variadas idades que tentavam passar no vestibular para seguirem seus estudos no ensino superior. Querendo ou não, eu me via naqueles alunos, gente de origem simples que buscava novas oportunidades na vida por meio dos estudos”, relembra o professor.

Há três anos, Henrique foi indicado por uma professora para assumir as aulas no Colégio BIS, dessa vez para o sexto ano do Ensino Fundamental. “Confesso que no começo foi um choque, pois eu estava acostumado com alunos mais velhos, mas não demorou muito tempo para me acostumar com a fofura e energia das crianças. Me sinto realizado quando consigo trabalhar os assuntos científicos de maneira leve e descontraída, mas ao mesmo tempo agregando valores importantes durante as aulas. Alguns alunos me param tempos depois e contam que ainda lembram de algumas aulas que foram marcantes, isso realmente me deixa muito feliz”.

Além da realização profissional, a Educação proporcionou a Henrique a realização de alguns sonhos. “Pode parecer um pouco clichê, mas viajar de avião ou fazer uma viagem internacional era algo muito distante da minha realidade, mas que eu pude conquistar com o meu salário de professor”.

E teve outra conquista especial, familiar, que deixa Henrique emocionado. “Há poucos anos eu fui professor particular da minha mãe. Ela não teve a chance de finalizar os estudos, pois muito jovem precisou trabalhar para ajudar no sustento dos filhos. Então, me revelou o desejo de conseguir o diploma do ensino médio. Fiz questão de ajudá-la a estudar para uma prova e, com quase 60 anos, ela conseguiu o seu diploma. Foi muito simbólico poder retribuir um pouco do que ela fez por mim”, conta.

Quando Henrique não está vestido com a “skin de professor” - como dizem seus alunos – costuma se aventurar no meio musical. “A música sempre esteve presente na minha vida, desde pequeno tive influência da minha família e incentivo para aprender a tocar instrumentos. Quando eu era adolescente, fiz parte de bandas e orquestras, mas hoje levo a música mais como um hobbie, me apresentando em eventos e formaturas da escola, junto a outros professores e alunos”, finaliza.

Gillian Taveira Moraes Ichiama, de 39 anos: educadora, se dedica a estudar a primeira infância. Foto: Divulgação

Gillian: amor pelos pequenos

A sorocabana Gillian Taveira Moraes Ichiama, de 39 anos, está envolvida com a Educação desde pequena. Aos três anos, foi matriculada pela mãe em no CRIEI, centro de educação infantil municipal de sua cidade natal, no interior de São Paulo. Ela afirma que, hoje, trabalhar com os pequenos alunos da Escola Bilíngue Aubrick, na capital paulista, é uma forma de lembrar da infância, período do qual se recorda com muito carinho.

“Até hoje me lembro das brincadeiras vividas no tanque de areia e no gira-gira. Lembro-me também da árvore com flores rosas, chamada popularmente de Pata-de Vaca”, diz a educadora. O apreço pelo lúdico segue com Gillian, que sempre busca proporcionar experiências diferenciadas aos seus pequenos alunos.

A professora sempre estudou em escolas públicas, do infantil até o Ensino Médio. Ela, que tem algumas tias envolvidas na área da Educação, conta que sempre teve apoio dos pais e da família em suas escolhas.

Aos 17, Gillian formou-se em um curso de inglês que frequentou desde os 10. Em 2005, mudou-se com o marido Alexandre Toshio para o Japão – de lá, estudou Pedagogia à distância, com aulas presenciais aos finais de semana, pela da Universidade Católica de Brasília. Em 2006, começou a dar aulas em uma escola brasileira em Hamamatsu, no estado de Shizuoka, como professora de inglês. Com a crise que afetou os imigrantes no Japão, ela e o marido retornaram ao Brasil em 2009. Em 2013, começou sua trajetória na escola Aubrick, como professora assistente.

“Em 2014, fui convidada a assumir minha primeira turma de crianças entre 1 e 2 anos, e desde então tenho me dedicado a estudar a primeiríssima infância, com as crianças bem pequenas que chegam à escola. Ser professora de bebês e crianças bem pequenas têm sido um propósito de vida. É acreditar que as crianças precisam ser respeitadas e cuidadas”, afirma.

E não pense que Gillian parou na faculdade! Ela continuou se dedicando, fazendo cursos diversos sobre a Educação Infantil, como rotina, acolhimento, aprendizagens, inclusive participando como ouvinte de congressos sobre bilinguismo.

No ano de 2012, ela concluiu sua primeira especialização em Psicopedagogia. Entre os anos de 2013 e 2014, fez mais duas especializações em Educação Infantil e em Língua Inglesa. Em 2020, iniciou uma quarta especialização, em Educação Bilíngue. No período da pandemia, conheceu e passou a integrar um grupo de pesquisa sobre estudos acerca da infância da UFSCar - Sorocaba.

Em 2021, participou do seu primeiro congresso com uma comunicação oral pela UNIFESP, com o trabalho “A Organização de Contextos Significativos na Educação infantil: um Convite à Exploração. Multissensorial”, relatando experiências e vivências com as crianças na Aubrick. Mais recentemente, em 2022, ela cursou uma disciplina como ouvinte no programa de Mestrado da UFScar; e em 2023, ingressou no mestrado de Literatura e Crítica Literária na PUC- SP, com bolsa de estudos pela CAPES. Gillian também foi finalista do Prêmio Professor Porvir, partilhando práticas literárias com bebês e crianças pequenas.

A educadora gosta de apreciar as horas vagas na presença de suas filhas, Alícia Aimi, de 14 anos; e Manuela Maki, de 8. As duas ainda não mostram inclinação para a área da Educação, mas Gillian afirma que as apoiaria incondicionalmente caso decidam enveredar na profissão. Outro hobby da educadora é fotografar. “Encontrei na fotografia uma maneira de conseguir me expressar, de narrar minha concepção de infância, de como aprender a organizar os espaços e tempos das experiências das crianças. Assim, valorizo os percursos das aprendizagens das crianças pequenas por meio de múltiplas linguagens”, completa.

Gillian conta o que mais aprecia nas crianças: chegam ao mundo com o frescor da novidade e veem o mundo sob uma nova ótica e perspectiva. “Elas são muito generosas e me acolhem diariamente com sorrisos, gestos, choros, toques, e com suas linguagens pedem para estar comigo, encontrando segurança e dormindo no meu colo. A luta pelo respeito com a infância é diária. Está nas minúcias do cotidiano, talvez em atos que passam despercebidos, mas que são sentidos. O brincar é um direito e deve ser entendido como uma linguagem sofisticada, inteligente e criativa”, finaliza.

Matheus Lima, em meio aos seus alunos. Seu destino era trabalhar como professor. Foto: Divulgação

Matheus: amor por ensinar

O jovem Matheus Hisnauer, de 26 anos, sempre sonhou em ser professor. Nascido em Osasco, filho de uma família com poucas condições financeiras, ele participou, durante o 9° ano do Ensino Fundamental, do projeto “Janelas para o Futuro”, da Escola Internacional de Alphaville, que oferece aulas de inglês gratuitas para crianças e jovens, onde aprendeu o idioma.

Matheus sempre foi muito bom com números, e durante o ensino médio passou a nutrir o desejo de cursar licenciatura em Matemática na Universidade de São Paulo. Então, durante os anos anteriores ao momento do vestibular, passou a se dedicar a esse sonho. Mas ao chegar no 3º ano, a família acabou convencendo o jovem a mudar o rumo e trilhar uma carreira que, na visão dos pais, remuneraria melhor: engenharia elétrica.

“Eu cursava o ensino técnico em eletrotécnica, então de certa forma, estudar engenharia estava dentro de uma área que eu já tinha conhecimento, e da qual eu estava trabalhando, para ajudar no orçamento familiar”, conta o hoje educador. “Eu entendia a preocupação deles, mas estava estudando apenas para entregar o diploma para os meus pais no final da graduação, sem entusiasmo. Então, com bolsa de estudos do Prouni, cursei engenharia elétrica até o terceiro ano, quando decidi trancar o curso e decidi seguir meu coração”, relembra.

Matheus saiu do emprego da época – uma empresa do ramo de manutenção elétrica e automação, onde tinha um bom salário e vinha sendo promovido – e usou o dinheiro da rescisão de trabalho para pagar um cursinho preparatório. Dedicou-se muito, estudando durante a tarde, e permanecendo no cursinho até às dez da noite para estudar mais e praticar simulados. O esforço deu resultado: em 2019, ele foi aprovado na maior universidade pública do Brasil e segunda melhor da América Latina e pôde dar início ao seu sonho.

Em 2021, sua hoje esposa Ana Caroline, que também é educadora, participou de um processo seletivo para estágio em Língua Portuguesa na Escola Internacional de Alphaville. Meses depois de ser aprovada, ela ficou sabendo que a instituição estava com outra vaga aberta para estágio de Matemática.

Aprovado no processo seletivo para estagiário, Matheus iniciou sua primeira experiência como docente na escola onde aprendeu inglês anos atrás. O educador em formação foi evoluindo, contratado como professor assistente, depois professor titular, e tão querido que passou a ser pelos alunos, foi convidado por uma turma para ser paraninfo na colação de grau. Também foi convidado pela gestão da escola a integrar a equipe de tutores do programa institucional de "Convivência Ética, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização. Além disso, é o idealizador e professor responsável pelo Núcleo de Estudos Olímpicos da Escola Internacional de Alphaville, gerenciando a organização de mais de 20 olimpíadas do conhecimento científico para alunos do Ensino Fundamental ao Ensino Médio.

“Quando eu era adolescente e participei do projeto gratuito de aulas de inglês, "Janelas para o Futuro", da Escola Internacional de Alphaville, tinha a curiosidade de conhecer o último andar da escola, onde acontecem as aulas do High School. Coincidentemente, quando cheguei à instituição como professor, as classes em que lecionava eram no último andar. E hoje tenho a felicidade de saber que o meu filho Theo, que completa dois anos na semana do Dia do Professor, está matriculado na escola e vai andar pelos mesmos espaços onde o pai é muito feliz trabalhando com o que ama, a Educação”, acrescenta, orgulhoso.

Matheus afirma que o “ensinar” está em seu DNA desde muito cedo. Ele foi professor de ensinos bíblicos nas igrejas que frequentava, organizava grupos de estudos com seus colegas do curso técnico e da faculdade, e ainda deu aulas de reforço de matemática para alunos dos mais diversos tipos, de crianças a quem busca ser aprovado em concurso público.

“Como educador, o que mais gosto é empoderar o aluno, e fazer ele perceber do que é capaz. Tornar a matemática, uma disciplina que é um monstro para muitos, em uma coisa acessível, que o estudante pode praticar, melhorar, se aperfeiçoar. E ver um aluno que mal conseguia lembrar da tabuada conseguir resolver equações complexas”, finaliza.


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