O Brasil chegou a um ponto de exaustão. Esse cansaço cívico nasce de uma manipulação insólita e detestável: enquanto nossos problemas mais urgentes — o desmonte da Educação Pública, a agonia da Saúde Pública, a Insegurança individual e social, o Desmatamento que queima nosso Futuro, a Desindustrialização que nos torna dependentes… — se aprofundam, nossos símbolos nacionais são sequestrados. Foram capturados por grupos políticos personalistas e oportunistas, transformados em estandartes de facções, e não da Nação.
É preciso dizer o óbvio: acima das ideologias sectárias e dos projetos de poder, pulsa a Nação brasileira!
E a Nação é a materialização do seu Povo! Não como uma massa disforme ou uma simples soma de CPFs, mas como uma coletividade viva, um organismo onde as forças se complementam. Cada um de nós é um universo de potencialidades e, também, de fragilidades. A magia do tecido social, o que nos torna um povo, é a capacidade de entrelaçar essas individualidades.
Onde a minha limitação encontra a sua força, e a sua vulnerabilidade se ampara na minha, surge algo novo e maior: a verdadeira comunidade representada por nossos símbolos.
Por isso, o debate não pode ser reduzido a apenas “resgatar” a bandeira. É preciso mais. É preciso infundir nela um novo espírito, um significado que acolha o Brasil real de hoje e aponte para o Brasil que queremos ser. É preciso ressignificá-la.
Que o verde de nossa bandeira transcenda a imagem de nossas matas para celebrar a vida em sua totalidade: a biodiversidade que é nosso patrimônio, a urgência da sustentabilidade ambiental, a promessa da energia limpa. Que ele represente também o agronegócio pujante, mas em todas as suas formas — da agricultura familiar às grandes cooperativas —, guiado pela inovação e pelo mais profundo respeito ao chão que nos alimenta.
Que o azul, mais do que o reflexo do nosso céu anil, seja o horizonte infinito da promoção dos Direitos Humanos. Um azul que nos lembre do compromisso de garantir a cada pessoa, sem exceção, as condições para uma vida digna, para o florescimento de sua autonomia e de seu projeto pessoal e social.
Que o branco não seja apenas a ausência da guerra, mas o símbolo da Paz que se constrói ativamente, dia a dia. Uma paz que se traduz em bem-estar social e individual, em saúde mental, em segurança para sonhar e realizar.
E, finalmente, que o amarelo represente nossa riqueza mais preciosa. Não o ouro, ou as terras raras, que jaz inerte sob a terra, mas o ouro vivo que pulsa em nossa gente: a Diversidade. Cada pessoa, com suas capacidades, ideias, cores, sotaques e amores, é um vetor de imensa Criatividade. É no encontro das diferenças que a inovação acontece. A pluralidade é o motor da expansão social e econômica.
Uma sociedade que exclui é uma sociedade que se empobrece!
Quando pessoas são deixadas à margem por sua etnia, orientação sexual, origem social, nacionalidade, por terem uma deficiência física ou psicossocial, o amarelo de nossa bandeira desbota. Ele perde o brilho, fica pálido, anêmico.
Não podemos mais admitir a exclusão de nossos idosos, de nossos jovens periféricos, do povo negro, dos povos indígenas, da comunidade LGBTQIA+, das pessoas com deficiência. Cada voz silenciada é uma ideia perdida. Cada vida diminuída é um potencial desperdiçado.
A Inclusão Social é a mola mestra do desenvolvimento brasileiro. Não como um favor, mas como estratégia e Justiça. E ela só florescerá sobre alicerces de estruturas sociais Sustentáveis, Inclusivas e Justas, que façam da promoção dos Direitos Humanos e da Pluralidade sua razão de ser.
É preciso que o Brasil se encontre. É preciso incentivar a convivência entre os diferentes, para que nossas individualidades tão diversas possam, enfim, conhecer as vantagens únicas do saber coletivo.
Somente assim, nos libertaremos dos velhos e mofados preconceitos que acorrentam nossa nação à pobreza material e espiritual. A beleza que nos fará gigantes é a de enxergar no outro a parte que nos falta para sermos um Brasil inteiro.
André Naves é é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; Cientista Político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Comendador Cultural, Escritor e Professor.
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