OPINIÃO

Artigo: Clericalismo: onde está o zelo pastoral?

Artigo: Clericalismo: onde está o zelo pastoral?

“A Igreja Católica em seus 2 mil anos não tem esquerda, nem centro, nem direita...”

“A Igreja Católica em seus 2 mil anos não tem esquerda, nem centro, nem direita...”

Publicada há 8 horas

Gostaria de iniciar com a fala mais emblemática de Nosso Senhor Jesus Cristo. Após ser entregue por Judas aos Romanos, Jesus está de frente a Pôncius Pilatos e após um angustiante interrogatório, após Pilatos explanar ao Cristo que ele tem poder de libertá-lo, Jesus olha bem no fundo dos seus olhos e diz: “Poder nenhum teria se não viesse do Alto”. Muitos podem politizar essa fala, mas essa fala de Cristo nos ajuda a refletir até mesmo sobre pequenos poderes, que nos cega e nos inibe de semear no mundo o genuíno evangelho do Messias!

A Igreja Católica em seus 2 mil anos não tem esquerda, nem centro, nem direita, nem vertente conservadora, nem ideológica, nem progressista! A Igreja é Igreja: Corpo Místico de Nosso Senhor que é remédio do mundo, sem se definir ou se encaixar na política do Mundo.

A Hierarquia é uma Vertical de Ascendência, ou seja, o Diácono, 1º Grau da Ordem Sacerdotal está mais próximo do laicato – é o serviço, é estar do lado das ovelhas, no meio das ovelhas ouvindo e sentindo de perto suas dores, angústias e agonias – esse serviço é tão primordial, que o Diaconato está estritamente ligado ao Episcopado, afinal é o Diácono que comunica ao Bispo mediante seu serviço as dores do povo por ele rebanhado. No 2º Grau da Ordem está o Sacerdócio, um Pai, que vive próximo de seu povo, lava sua alma com o Sangue do Próprio Jesus mediante o Sacramento da Reconciliação, dá-nos a Presença Real de Cristo com a Santa Eucaristia e é ele quem nos anuncia com alegria a Boa Nova, a Boa Notícia – a Verdade de Deus encarnada em nosso Meio. No 3º Grau da Ordem, o Sacerdócio Pleno, o Episcopado com a Missão de Governar, Ensinar e Santificar: é o Grande Pastor por Excelência, que dá a vida se preciso for pelo Rebanho, pelas Ovelhas e salvaguarda uma Tradição Viva de mais de 2 mil anos. O Romano Pontífice, não deixa de ser um Bispo, afinal, os Três Graus da Ordem são os aqui apresentados, a diferença é que como Sucessor Direto do Apóstolo Pedro, o Santo Padre nutre aqui nessa Terra a Igreja Militante, que contemplamos com nossas ações, obras e missões, a Igreja Padecente com nossos irmãos do Purgatório e a Igreja Triunfante, com os Anjos, Santos e Santas, a Beatíssima Virgem Maria e a Glória Excelsa do Eterno Pai no Céu.

Essa Hierarquia não compete se desintegrar e ficar na Planície dos Leigos – é como o campo das ovelhas: as ovelhas (aqui a representação dos leigos) fica numa área plana, onde pastejam em verdes gramas, em uma pequena colina se posiciona o pastor (Diáconos, Padres, Bispos e Papa) para cuidar e garantir a segurança das ovelhas – observem que a colina de onde o Pastor salvaguarda o Rebanho não pode ser Alto, porque até descer o lobo pode dizimar as ovelhas e nem distante, porque pode ocorrer a mesma tragédia. Assim é o clericalismo.

Autoridade é amor, autoritarismo é imposição! Um pai que não impõe respeito, a casa vira uma bagunça, o pai que é extremamente ríspido, duro, grosseiro e agressivo em gestos e palavras, mata qualquer possibilidade de amor que possa haver entre ele e seu filho: tudo é uma questão de equilíbrio.

O Papa Francisco não criticava o clericalismo como a Teologia da Libertação criticava, os teólogos da libertação também são contrário ao clericalismo, mas para descentralizar o Poder e depois da Aclamação Popular, obrigar os fiéis ficarem subjugados sob suas ideologias. Quantas vezes o Papa Francisco falava para os Pastores (Padres, Bispos especificamente) saírem das sacristias, enlamearem as batinas, acidentarem nas vielas e terem cheiro de ovelhas... É fácil ver as agonias e horrores do mundo num smartphone, num tablet, em tabloides, noticiários e depois tecer ideologias e mais ideologias sobre como curar as chagas do mundo, difícil é olhar nos olhos que choram, sentir a mão calejada, ouvir a voz que corta com tanto sofrimento atravessado na garganta, entender que ser humano não tem definição, que vida humana não se descreve, que dor humana não se comenta!

Um Pastor (especificamente padres e bispos) sabem onde o calo dói! O Papa Francisco nunca quis que a Vertical Ascendente da Hierarquia fosse fragmentada, mas assim como o Cristo conhecia de forma tão íntima a angústia da Cananeia, as dores existenciais de Zaqueu, as tormentas de Mateus, as feridas que o tempo e o mundo cravejaram no peito de Pedro, as cicatrizes e feridas abertas de Maria Madalena, a ansiedade de Marta, a multidão faminta que preferia se acomodar com a fome, que deixar de ouvir a Palavra de Deus – esse Cristo tão íntimo e próximo das misérias e fragilidades humanas, esse Cristo tem que transparecer na pessoa do Padre e do Bispo.

Jesus não deixou de ser Pastor! Jesus não deixou de ser Mestre! Jesus não deixou de ser o líder daquela multidão... Mas nem por isso faltou amor, zelo, cuidado e proximidade. 

Por fim sabemos que as ideias humanas falham, as ideologias fracassam miseravelmente, o pecado corrompe a alma – por isso não podemos deixar que ideia humana nenhuma norteie o pastoreio das ovelhas: a Verdade de Cristo tantas vezes vai incomodar, quantas vezes vai doer... Mas há cortes que sem costura, jamais serão curados!

Vanderlan da Silva é jornalista, teólogo e licenciado em Filosofia.

O texto é de livre manifestação do signatário que apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados e não reflete, necessariamente, a opinião do 'O Extra.net'.

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