HISTÓRIA

Verdade e mentira no sentido ético

Verdade e mentira no sentido ético

‘Essa atmosfera planetária é assustadora. Ainda no Brasil cresce um clamor, na voz dos mais ignorantes e reacionários, pela eleição de um defensor da ditadura’

‘Essa atmosfera planetária é assustadora. Ainda no Brasil cresce um clamor, na voz dos mais ignorantes e reacionários, pela eleição de um defensor da ditadura’

Publicada há 7 anos

Por Zé Renato 


O mês de abril sempre é lembrado pelo seu primeiro dia. Identificado como o “Dia da Mentira”. Não me recordo da razão disso. Também não me preocupo em descobrir. Há outras mentiras ligadas a essa época do ano muitas mais nefastas e destruidoras.


Primeiro: é o mês no nascimento de Adolf Hitler. Por si só, já é o bastante para maculá-lo. Não me aterei a discorrer acerca das razões de tal assertiva, na medida em que, suponho, é do conhecimento de todos — ao menos deveria sê-lo — o significado desse verme para a humanidade. Além desse ente — sim, prefiro “desontologizá-lo” — há sua “parição”: a excrescência do nazismo.


Segundo: o golpe militar no Brasil foi definitivamente sacramentado nesse dia. As águas de março fecharam o verão, disse Tom Jobim, a meu ver, de forma irônica com a “promessa de vida em meu coração”. Entendo como uma metáfora para o ocorrido. Thánatos passou a imperar.


Encontramo-nos no mês citado. O famigerado aniversariamente putrefato parece ter deixado uma terrível centelha de sua herança: a onda conservadora, quer dizer, reacionária, parece crescer e “florescer” mundo afora. Os ventos retrógrados sopram em todo o planeta.


A vitória de Trump nos Estados Unidos. O fortalecimento do chamado neonazismo, que de novo não possui nada, recrudesce em todo o velho continente. Particularmente: França, Holanda, Áustria, talvez sejam as maiores aberrações.
No Brasil, falo aqui de uma visão e leitura pessoais, o processo que culminou com a queda da presidente democraticamente eleita, além de ser um golpe, foi também temperado com essa onda reacionária e retrógrada. Haja vista os brados em favor de uma “intervenção militar”. Sim, súplicas de retorno da ditadura militar.


Essa atmosfera planetária é assustadora. Ainda no Brasil cresce um clamor, na voz dos mais ignorantes e reacionários, pela eleição de um defensor da ditadura. Participante da mesma, nunca escondeu suas preferências, ao bradar o uso indiscriminado da força contra todos aqueles que ousam discordar. Além de apologias homofóbicas e misóginas, chegou a declarar em pleno parlamento, referindo-se a uma colega política, vítima de torturas na ditadura: “Você não merece ser estuprada.”


Enoja-me ver jovens bradando e vestindo camisetas em seu apoio.


O que há de mentira nisso?


Se há, não tem a menor graça.


O primeiro de abril como um dia dedicado a “brincadeiras” e “pegadinhas” tem lá seu divertimento. Todavia, isso não é engraçado. É patético. Rir comigo, e não de mim, nos ensina o filósofo.


Meu maior temor são essas mentiras ganhando mais tonalidade de verdade. 


Adquirirem um grau de verossimilhança, passarem a reinar como real.


Não há como esquecer a chaga do nazismo: tudo começou com uma brincadeirinha com os judeus.

Internet. Montagem retrata o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) como Adolf Hitler 





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