Claudinei Cabre

Histórias do Tempo do Botinão

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Clube da memória

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Publicada há 9 anos


A história da imprensa escrita e falada de Fernandópolis é tão rica e fascinante que merece ser contada em capítulos. Também para que a coluna não se torne enfadonha, vamos salpicando os temas a cada edição. Hoje vamos falar um dos capítulos da história do rádio.


Tudo começou em 1955 como mostra a foto da inauguração da pioneira ZYR 90, Rádio Cultura de Fernandópolis, de Moacir Ribeiro, que ficou conhecido como “Moacir da Radia”, que chegou forte com um senhor elenco de artistas do rádio. A começar pelo lendário Nhô Cido, o primeiro animador sertanejo da história do rádio fernandopolense. Imitando um matuto, Nhô Cido também fazia desfilar pelo imaginário, uma legião de personagens, inclusive uma criação sua que ficou famosa, o personagem Cid Ribeiro, que muita gente achava que existia mesmo. 


Nhô Cido popularizou expressões como “poligrama, bicharedo de bão, cutuca a jurubeba e modão apaixonado”. Ele brincava fazendo rádio, às vezes ficava meia hora falando e interagindo com os ouvintes, sem tocar uma música e ninguém mudava de estação. Carismático, fez escola no rádio e era imbatível em seu horário, um verdadeiro fenômeno de audiência.


A Cultura reinava absoluta, até que na metade dos anos sessenta surgiu a Rádio Educadora Rural (hoje Rádio Santa Rita), fundada por Leodegário Fernandes de Oliveira, o Filhinho, que chegou forte marcando época e abocanhando uma importante fatia de audiência. Menino curioso, acompanhei de perto a montagem da antena da emissora, num grande terreno dentro da fazenda Cáfaro, na baixada da Avenida da Estação, logo abaixo da Santa Casa e do Colégio Coopere, na nascente do Ribeirão Santa Rita.


A Educadora entrava no ar trazendo um quadro de profissionais talentosos, do mais alto gabarito. A começar pelo técnico de som Antonio Luiz Vendrusco, o Careca, que era um tipo faz-tudo, meio que “Professor Pardal”, sempre resolvendo problemas e encontrando soluções inéditas para as complicadas transmissões externas ao vivo como comícios, solenidades e até jogos de futebol. Os técnicos de som Valdevir Romerae o Yoshio, também faziam parte desse time. Mas isso, é um capitulo a parte.


Do outro lado da técnica e sonoplastia, nos microfones daqueles anos dourados, vozes que encantaram uma geração, a começar por Ivo Fernandes, Wilton Marzochi, Adonai Mendonça, Joel Alves e Marcos Alberto, o Marcão. Por ali também passaram Cesar Filho (Alencar Scandiuzzi), Valter de Castro, Edio Alves de Oliveira, Valter Mazzon, Ezupério Vitor Martins, Antonio Sanches, Anésio Pelicione, Lenita Rocha, Amélia Rosa, Pedro Gobbi,Vovô H.J. Hipólito, J. Pereira, Itamar Teles e tantos outros talentosos comunicadores.


Lembro que numa determinada época, nas noites de sábado, o jornalista João Garcia Pelayo, o Franco, que foi dono dos jornais ‘O Imparcial’ e depois o ‘Na Hora’, marcou sua passagem na Educadora, onde apresentava um programa sempre homenageando uma personalidade local. Mas bom mesmo eram as manhãs de domingo, primeiro no Cine Fernandópolis e depois no Cine Santa Rita, onde acontecia a famosa “Gincana Chevrolet”, apresentada por Chiquito Machado, Anésio Pelicione, o Matinê e mais tarde, Cesar Filho. O auditório lotava e vinha abaixo durante o “Show de Calouros”, onde o sempre elegante Detefon, vestido à caráter, imperava absoluto.


Se a Educadora, tinha um grande time, Nessa época, quando o telefone era uma raridade, o rádio fazia com perfeição a ponteentre o povo da cidade, das cidades vizinhas e da roça, servindo como um correio ao vivo, levando recados, avisos e notícias. Ainda na Cultura, mais tarde dando continuidade ao trabalho de Nhô Cido, surgia Nhô Dito e por último, já nos anos 70, o rádio local revelava uma nova safra de talentosos animadores sertanejos como Nhô Sanches, o conhecido Compadre Sanches ao lado de Geraldo Rico e Delmo Marques que ainda estão aí, firmes na ativa.


Mas voltando lá atrás, nos tempos de ouro da ABÉ, a equipe de esportes da Cultura, comandada por Anésio Pelicione, o Matinê, revelando jovens talentos como Alaerte Vidali, Paulo Alves, João Mioto e Alcides Corsini, o Perú, era líder absoluta de audiência. Tempos depois, a Educadora montou um timaço imbatível, com uma programação esportiva que marcou época no rádio. A briga entre as duas emissoras era boa e a audiência local e regional era disputada palmo-a-palmo.


A Cultura também liderava em alguns horários como o programa “Roda Gigante”, apresentado por Deomir Bastos e havia ainda o programa do Tio Cândido. A Educadora não deixava por menos, dando o troco à altura com o Patrulha 1490, que mais tarde deu origem ao Rotativa no Ar. Naquela época, eu gostava de ouvir programa do Vovô H.J, voltado à colônia luso-brasileira, onde ele tocava os fados de Amália Rodrigues, algumas músicas de sucesso do jovem cantor luso Roberto Leal e contava as famosas “historinhas do Tempo da Carochinha” que carinhosamente dedicava às crianças, chamando todas de “meus netinhos”.


Pois bem, certa noite lá está o bom velhinho aposto, lendo ao vivo um dos “reclames” de promoção de uma famosa loja local. Narrou empolgado o texto todo, inclusive uma nota de rodapé que avisava; “Observação: este cliente pediu para cancelar o contrato de propaganda”. O sonoplasta ficou olhando prá ele, sem saber o que fazer. Vovô HJ abriu os braços e com toda sua santa naturalidade, sapecou: “Ô ralhos, então é bom esqueceire tudo que acabei de falaire, porque a loja......  acabou de cancelaireo reclame”. Bons e inesquecíveis tempos aqueles. Semana que vem tem mais. Até lá.




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