Da Redação
Quatro companhias de diferentes países chegam a Rio Preto para o Festival Internacional de Teatro (FIT), que acontece entre 6 e 15 de julho. Grupos da África do Sul, Portugal, Colômbia e Polônia trazem seus olhares sobre o teatro e expõem a relação entre o fazer teatral, a cultura e questões particulares dos seus locais de origem. O primeiro espetáculo internacional da programação é As Criadas, da Polônia. Para fortalecer ações de intercâmbio cultural entre a Polônia e o Brasil, a prod.art.br, em parceria com o Instituto Adam Mickiewicz atuando sob a marca Culture.pl, propôs a criação de uma obra em parceria com elenco e equipe brasileiras. Para tanto, o diretor Radoslaw Rychcik montou a clássica peça de Jean Genet como forma de discutir os problemas sociais e humanos que o texto aborda.
Nascido em 1981 em Ciechanów, Rychcik é um jovem diretor cuja reputação internacional alcançou grande projeção em apenas alguns anos. Em cena, o trio de atrizes brasileiras, formado por Bete Coelho, Denise Assunção e Magali Biff, interpretou duas irmãs que trabalham como empregadas e planejam matar a patroa. A trama de fundo policial é plataforma para os diálogos-jogos do cotidiano de ambas no embate com Madame. Em xeque, a crueldade da opressão nas relações domésticas, conflito de classe familiar ao Brasil. Neste trabalho, Radosław Rychcik volta a atuar com Michał Lis e Piotr Lis, da banda The Natural Born Chillers, profissionais capazes de criar uma atmosfera específica para suas peças, executada por músicos brasileiros. Quem ainda integra a equipe é a jovem videoartista polonesa, também figurinista e atriz Hanna Maciąg, responsável pelo cenário e figurinos. A estreia mundial da peça será no FIT Rio Preto no dia 7 de julho, sexta, às 19h, no Teatro do Sesc, voltando a ser apresentada nos dias 8 e 9, sábado e domingo, no mesmo horário. Os ingressos estão esgotados. Nos dias 13 e 14 de julho, quinta e sexta, Albert Khoza encena o solo And So You See, criado por Robyn Orlin, da África do Sul.
Nascida em Joanesburgo em 1955, Orlyn é uma coreógrafa controversa e provocadora, e tem trabalhado nos limites da performance, arte e dança nos últimos 20 anos. Suas obras são sempre políticas e relacionadas com seu país-natal, que comemorou em 2014 vinte anos de democracia; e isso a faz questionar, passadas essas duas décadas, sobre como estão situados, na atualidade, os assuntos que interessam ao seu trabalho, como o racismo, a homofobia, a liberdade, a identidade. Em And So You See, Orlin propôs uma colaboração com Albert Ibokwe Khoza - uma figura imponente que levanta questões sobre a mistura de gêneros - que pertence a uma geração mais jovem. Ambos têm algo em comum: vivenciam o teatro, a dança e a arte em geral como armas de memória, luta, consciência e mudança. Robyn Orlin usa diferentes mídias (texto, vídeo, artes plásticas) em seus espetáculos e sempre trata os assuntos com extravagância e humor. Na montagem, um corpo lúdico e irônico atravessa estados de transformação, decadência e brilho em sua jornada pelos sete pecados capitais. O espetáculo tem apresentação marcada para as 19h no Teatro Municipal Paulo Moura e ainda há ingressos disponíveis. De Portugal, o coletivo Má-Criação traz As Cidades Invisíveis com os atores Alfredo Martins, Paula Diogo e Rafaela Jacinto. Em conjunto com o dramaturgo e encenador brasileiro Alex Cassal (do grupo Foguetes Maravilha - RJ), transformou-se o livro de Ítalo Calvino num espetáculo teatral destinado ao público jovem.
A partir da manipulação de objetos, os atores se deixam levar pelas correntes rumo a um destino que ainda não conhecem e relembram os nomes das 55 cidades descritas por Ítalo Calvino no seu livro As Cidades Invisíveis. Identificadas com nomes de mulheres, como se fossem pessoas, as cidades são protagonistas de histórias em que se confundem o real e o imaginário, o cotidiano e o impossível, construídas num território sem fronteiras – essas linhas que unem mas que também separam países, pessoas e culturas. "As Cidades Invisíveis" será encenada nos dias 14 e 15 de julho, às 19h, Teatro do Sesc. Não há mais ingressos disponíveis para esta apresentação. A última companhia internacional a subir aos palcos do FIT é o grupo Mapa Teatro, da Colômbia, com o espetáculo Los Incontados - Un Tríptico /Os Incontados: Um Tríptico, que será apresentado nos dias 13, 14 e 15 de julho, às 20h30, no Ginásio do Sesc.
A obra encerra a trilogia desse grupo transgressor de fronteiras de linguagem. O projeto é uma alegoria aos dispositivos da violência que assola a história de seu país desde a metade do século 20. O Mapa Teatro é um laboratório de artistas dedicados à elaboração transdisciplinar na criação artística. Com sede em Bogotá desde 1986, foi fundado em Paris, em 1984, por Heidi e Rolf Abderhalden Elizabeth, artistas visuais e performers colombianos. Desde o início, o grupo traça o seu próprio mapeamento no campo das artes vivas, num ambiente propício à transgressão geográfica, linguística e artística. Para Fagner Rodrigues, da Cia. Cênica, de Rio Preto, a presença dessas companhias no festival é uma oportunidade única.
"É uma importante experiência de troca de linguagem e de formação, além do aprendizado passado pelo espetáculo em si. Eu me formei vendo espetáculos no FIT. Então conhecer essas pessoas, saber a realidade dos países delas, é uma oportunidade única. Em relação aos espetáculos, Los Incontados é o que tenho mais expectativa, por conta da sua estrutura. Os espetáculos latino-americanos sempre chamam minha atenção", afirma. Além do contato com trabalhos internacionais, o festival oferece ao público um leque de produções nacionais e alguns trabalhos de companhias de Rio Preto. O FIT Rio Preto é promovido pela Prefeitura de Rio Preto e Sesc São Paulo e será realizado de 6 a 15 de julho.
