Diz o compadre Geraldo de Mello que lá em aparecida do Taboado, as coisas não são como nos outros lugares. Ele jura de pés juntos que pra começar, o vento de lá é danado de persistente. Venta quase o tempo todo e na sua fazenda, todas as galinhas tem o rabo torto pro mesmo lado. O lado que o vento vai.
Ele conta que antigamente tinha um burro muito esperto e ligeiro que atendia por nome Ventania. Era um animal perfeito, mas ninguém se metia a besta de montá-lo, pois o trote do danado tirava o rim do lugar e o sujeito ficava andando torto uns dois meses.
Na carroça o bicho era muito traquejado. Nunca bateu com ela num mourão de cerca ou num esteio de porteira. Podia ser até em marcha a ré que o danado manobrava com perfeição. Os dois únicos problemas do Ventania eram os sustos que levava com qualquer papel ou vulto aparecesse no seu caminho. Ele empacava e dava um trabalhão para tirá-lo de lá. O outro problema era a preguiça do Ventania.
Quando o capataz Juca Lustroso ia pegá-lo no pasto era outra complicação. Cada vez o danado se escondia em algum lugar diferente, ora no meio de uma moita de capim, de arranha-gato ou dentro de uma grota. Não havia quem achasse o burro. Mas teve um dia que o Ventania fez o que parecia impossível.
Bem no meio no pasto tinha uma árvore enorme, com trinta metros de diâmetro de copa. Era um Óleo de Copaúva com galhos que chegavam bem rente ao chão.
Certo dia, o Juca Lustroso já pressentindo que o Ventania ia dar trabalho, levou umas espigas de milho como atrativo. Andou por todo o pasto, virou as moitas e grotas do avesso e nada. Bateu todas as cercas pra ver se tinha alguma arrombada e, cadê o Ventania?
Desanimado, o Capataz sentou sob a tal Copaúva, encostando-se no seu tronco. Qual não foi o seu susto quando viu, a uns três ou quatro metros, no alto da árvore, o danado do Ventania bem quietinho se equilibrando em dois galhos que partiam desde o chão!
O Ventania não era burro nem um pouco. O danado tinha aprendido a subir na árvore pra se esconder e não ter que ir trabalhar!