Por O.A. Secatto
Em casa. O escritor, na casa que foi de seu pai, Erico Verissimo
81 anos — sempre quis começar um texto com número, indamais sendo o ano do meu nascimento — ele esperou pela oportunidade de estar no Cultura! e, então, me dizem: “Você não pode começar o texto com ‘É o Verissimo, cara. É o Verissimo!’” Por que não? É o Verissimo, cara. É o Verissimo!
Luis Fernando Verissimo — ou só (mestre) Verissimo — fez 81 anos na terça-feira, dia 26, e esta edição é só dele.
Há quatro anos, nesta mesma época, ele dizia: “Nunca imaginei que chegasse aos 77 anos de idade... A velhice é muito ruim, mas é melhor que a alternativa.” Todos concordam, especialmente no caso dele: grande parte dessas décadas foi vivida com a popularidade e o reconhecimento de sua obra — alguns romances, contos, muitos cartuns, tirinhas e crônicas, incontáveis e deliciosas crônicas.
O filho de Mafalda e Erico Verissimo, marido da Lucia, pai da Fernanda, da Mariana e do Pedro, e avô da Lucinda continua sendo um dos escritores mais sofisticados e, ao mesmo tempo, mais populares do país. Criador de personagens como Ed Mort, a Velhinha de Taubaté, o Analista de Bagé, As Cobras e Família Brasil, Verissimo, como costuma contar, começou tarde no ofício da escrita. E iniciou em terreno diverso do de seu pai Erico: em 1967, já com 31 anos, começou a trabalhar no jornal Zero Hora e, em 1969, após cobrir as férias do colunista Sérgio Jockymann, conquistou sua própria coluna diária no jornal, incialmente escrevendo sobre futebol. No jornal Folha da Manhã manteve coluna diária de 1970 a 1975. Seu primeiro livro veio em 1973, quando lançou, pela Editora José Olympio, O Popular - Crônicas, ou Coisa Parecida, coletânea de textos já publicados na imprensa, o que veio a ser o formato da grande maioria de suas publicações. Em 1979, publicou Ed Mort e Outras Histórias, um de seus mais populares personagens. Mas foi em 1981 — quando eu nasci: vejam a importância — que o livro O Analista de Bagé, lançado na Feira do Livro de Porto Alegre, esgotou sua primeira edição em dois dias, tornando-se fenômeno de vendas em todo o país. No ano seguinte, passou a publicar uma página semanal de humor na revista Veja, que foi mantida até 1989.
Já em 1983, lançou um novo personagem: a Velhinha de Taubaté, definida como “a única pessoa que ainda acredita no governo”. No ano de 1989, começou a escrever uma página dominical para o jornal O Estado de S. Paulo, mantida até hoje, e para a qual criou o grupo de personagens da Família Brasil. Aos 70 anos de idade, completados em 2006, Verissimo consagrara-se como um dos maiores escritores brasileiros contemporâneos, tendo vendido ao todo mais de cinco milhões de exemplares de seus livros.
Em recente entrevista a Flavio Ilha, no site extraclasse.org.br, Verissimo falou um pouco de tudo — e também de sua demissão. Disse nunca ter escrito para si mesmo por nunca ter-se visto como escritor ou jornalista e, influenciado pelo estilo de Saul Steinberg, passou a variar entre texto e cartum em seu espaço: “Meu desenho era muito rudimentar, não tinha acabamento.” Confessou usar a internet praticamente só para consultar o Google: “Eu sempre parto do princípio de que ele sabe o que está dizendo, então eu confio nele. Temos uma relação saudável.”
Sobre seu texto e o prazer de escrever: “Eu escrevia muito mais no passado, tinha mais volume. Não sei se fiquei mais conciso ou mais preguiçoso, mas meu texto diminuiu bastante. (...) Concordo com o que diz o Zuenir Ventura, que não gosta de escrever, gosta de ter escrito.”
Sobre a demissão do jornal Zero Hora, amenizou: “Foi um processo normal. Apenas deixei de ter vínculo com a empresa, agora eles compram meu material da Agência Globo. Foi uma decisão administrativa, estão fazendo muito isso com os velhos, que têm salários mais altos. Mas não ficou nenhum trauma, não.”
Para este ano, revelou que a editora Companhia das Letras está organizando um volume de crônicas que estão sendo selecionadas pela roteirista e escritora Adriana Falcão. “Basicamente com as crônicas mais ficcionais, publicadas aos domingos no Estadão. As crônicas sobre política atualmente perdem a atualidade com muita rapidez.”
Poder contar com uma entrevista dessas é algo histórico para o jornalismo cultural de Fernandópolis e da região, principalmente para um suplemento cultural que ainda está em sua 21.ª edição. Valeu a pena.
Confiram abaixo a entrevista que o escritor gaúcho concedeu com exclusividade ao Cultura! O texto é breve. Brevíssimo, mas Verissimo.
(É o Verissimo, cara. É o Verissimo!)
• Você sempre menciona com um carinho especial o Antônio Maria. É o cronista preferido? Quais outras referências na crônica brasileira o influenciaram?
Daquele time de cronistas da época de ouro — Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Antonio Maria —, este último era o mais versátil, porque fazia humor, mas também podia ser sério ou lírico. Me identifico mais com ele.
• Uma vez você afirmou que “o Antônio Maria usava muito isso: a crônica para fazer qualquer coisa”. A Vanessa Barbara e o Antonio Prata, por exemplo, essencialmente cronistas, são exemplos atuais de autores com estilo natural de humor. Quem da nova geração de cronistas poderá manter — ou está mantendo — vivo esse estilo livre e bem-humorado da crônica?
O Antonio Prata e a Vanessa Barbara são excelentes exemplos da nova crônica brasileira. Eu incluiria nesse grupo o Gregorio Duvivier.
• Você já disse que “Até hoje ninguém definiu bem o que que é crônica, quando é que deixa de ser crônica e passa a ser ficção”. A crônica tende a continuar esse espaço livre para tudo?
O melhor da crônica é ser um gênero indefinido, o que permite ao cronista fazer o que quiser e chamar de crônica. Inclusive ficção.
• Arriscaria uma definição sua da diferença entre conto e crônica?
Conto pode ser mais longo do que crônica, que tem um espaço determinado. No fim o que diferencia uma coisa da outra é o tamanho.
• E qual é o papel do cronista? Existe um?
A função do cronista é a de entreter e eventualmente informar o leitor. E uma crônica também pode ser uma espécie de anotação na margem da História, ou do noticiário.
• Fazer humor é falar sério?
É ser sério na medida em que qualquer trabalho, jornalístico ou não, deve ser feito com seriedade, o que no caso é um sinônimo de profissionalismo.
• É famosa sua frase “Minha musa inspiradora é o meu prazo de entrega”. Além do prazo, a Lucinda também é musa inspiradora?
A Lucinda inspira sempre, mesmo sem fornecer material para a crônica. Apenas por existir.
• Como é escrever para crianças? Depois de três livros (“O santinho”, “O sétimo gato” e “As gêmeas de Moscou”), deu para pegar o jeito?
É difícil escrever para criança, ser acessível sem ser condescendente. Não sei se acertei o tom.
VER!SSIMAS
Autor:
Luis Fernando Verissimo
Editora:
Objetiva
(210págs.; R$ 44,90)
AS GÊMEAS DE MOSCOU
Autor:
Luis Fernando Verissimo
Editora:
Companhia das Letrinhas
(32págs.; R$ 34,90)
Prático.
Autógrafo por carimbo
Jazz.
Com o saxofone, companheiro inseparável
Musa 1.
Ao lado da atriz Patricia Pillar, sempre presente nos textos do Verissimo como o que há de melhor no mundo (junto com pudim de laranja)
Musa 2.
Com a neta Lucinda