VENCENDO A CRIS

Após demissão do emprego, sorveteiro supera dificuldades vendendo picolés

Após demissão do emprego, sorveteiro supera dificuldades vendendo picolés

Aos 58 anos, Antônio Luis de Melo deu a volta por cima e afirma ter encontrado sua verdadeira vocação

Aos 58 anos, Antônio Luis de Melo deu a volta por cima e afirma ter encontrado sua verdadeira vocação

Publicada há 7 anos

Chapéu de palha, apito, um carrinho de mão e bom humor são os instrumentos de trabalho de “seu Antônio”



Por Livia Caldeira


Antônio Luis de Melo, 58 anos, está entre os 23 milhões de brasileiros que, nos últimos anos, sofreram com o desemprego e atualmente trabalham por conta própria. Vítima da crise, ele perdeu seu emprego de carteira assinada e deu início à atividade informal de sorveteiro. Todos os dias ele acorda cedo, pega seu carrinho de mão, coloca seu chapéu e toca o apito pelas ruas da cidade, vendendo picolés.


Natural de Pernambuco, “seu Antônio” conta que já trabalhou como carpinteiro, vigia noturno, porteiro, feirante e pedreiro, mas encontrou na profissão de sorveteiro sua verdadeira vocação. “É muito prazeroso conhecer pessoas novas todos os dias, com cada uma delas aprendo algo de novo. Gosto de fazer amizades, ouvir histórias, trocar experiências e jogar conversa fora. Esse contato humano e a aprendizagem diária é a melhor parte de ser sorveteiro”, afirma. Ele conta que trabalha mais de 8 horas e caminha em média 20 quilômetros por dia. “Não vou dizer que é moleza, mas vou rindo daqui, batendo papo dali e quando vejo o dia já está terminando e eu nem vi as horas passarem”, acrescenta.


“AMO FERNANDÓPOLIS”


O vendedor de picolés nasceu no estado do Nordeste, se transferiu para a cidade de São Paulo em busca de oportunidades de trabalho, mas depois se mudou para Fernandópolis, onde reside com sua família há quase dez anos. Questionado sobre os motivos que o trouxeram para a cidade, ele destaca a violência da metrópole. “Enquanto eu era solteiro, até gostava de morar em São Paulo, mas me casei e tive filhos. Foi então que comecei a ficar com muito medo de perdê-los para a criminalidade e optei por ter mais qualidade de vida em uma cidade do interior”, diz.

“Eu amo Fernandópolis, as pessoas aqui são muito receptivas e solidárias. Felizmente a violência ainda não chegou aqui, pude criar meus filhos com tranquilidade e serenidade”, justifica.



ORGULHO DA PROFISSÃO


Em meio a tantos escândalos de corrupção, o vendedor afirma se sentir ainda mais orgulhoso do modo como obtém sua renda mensal. “Tenho muito orgulho do que faço. Sustento minha família de forma digna e honesta, pensando no futuro dos meus filhos. Hoje, com 58 anos, posso dizer com alegria que nunca deixei faltar nada a eles e para isso nunca precisei fazer coisas erradas. Tenho muito orgulho sim da minha trajetória e durmo todas as noites com a consciência tranquila”, declara.


Ele contou à Reportagem que muitos já o questionaram sobre ter vergonha de sua profissão. Após uma pausa de reflexão, ele afirmou que a resposta dada a essas pessoas é sempre a mesma: “Vergonha eu teria se estivesse roubando, coisa que nunca fiz e nunca terei coragem de fazer”.


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