Gustavo Jesus
Fernandópolis em 1968 (Foto: Acervo Estadão)
Como já foi explanado em textos recentes, em especial do Zé Renato, aqui no Extra.net, 1968 foi um ano marcante para a história do Brasil e do mundo. Na França, estudantes e trabalhadores fizeram protestos que pararam o país e repercutiram no mundo inteiro, enquanto no Brasil, os militares apertaram ainda mais a Ditadura Militar, evocando Atos Institucionais que tiraram ainda mais liberdade e o direito de manifestação política no país.
Esses fatos levaram o jornalista Zuenir Ventura a escrever o livro "1968: o Ano Que não Terminou", devido as implicâncias dos acontecimentos daquele ano no mundo contemporâneo. Se o Brasil e o mundo tiveram suas razões para considerar 1968 um ano "inacabado", em Fernandópolis a história não é diferente.
O ano é o último do mandato do então prefeito Percy Semeghini (PSP) e, além dos conturbados acontecimentos na esfera política, reserva a criação de dois dos maiores eventos culturais da história da região, a Exposição Agropecuária de Fernandópolis e a 1ª Semana Universitária. A relação política do fatídico ano - que teve de tentativa de golpe a infarto do prefeito -, norteou as relações de poder em Fernandópolis por muitos anos.
Briga política acirrada
O mandato do então prefeito Percy Semeghini foi um dos mais tumultuados da história da cidade. Cheio de processos e tensões envolvendo a Câmara e o poder Executivo, suas implicações históricas influenciaram o destino da cidade até os dias atuais, implicando diretamente na vida política e no desenvolvimento econômico da cidade. Se as brigas entre Vila Pereira e Brasilândia fizeram parte da formação do município, o prosseguimento das contendas mostrou que a questão era muito mais profunda e extrapolava a cada eleição o campo geográfico.
Um exemplo de prejuízo ao crescimento está no dia em que diretores da gigante da industria farmacêutica Bayer estavam na cidade para analisar a possibilidade da instalação de uma fábrica e, no mesmo dia, boa parte dos vereadores da cidade foram presos por terem votado favorável à manutenção do prefeito no cargo. Os executivos da multinacional se foram e a possibilidade da instalação de uma grande industria também.
Semeghini x Pacheco
Após 12 anos de domínio da dupla Rolim/Pacheco, políticos apoiados basicamente por PSD/PSB/PR, nas eleições de 1963, Semeghini, candidato pelo PSP, venceu as eleições contra Leonildo Alvizzi, apoiado pelo governo. A vitória dá início ao mandato mais turbulento que um prefeito enfrentou na história de Fernandópolis.
Desde 1965, com uma Ação Popular movida por um parente de Pacheco, que já era deputado estadual, Semeghini sofreu oposição ferrenha na Câmara. Em 13 de maio de 1966 foi cassado pela Justiça, reavendo o mandato apenas em 27 de outubro daquele ano. Mesmo assim, os vereadores que o reconduziram ao cargo foram presos, o que mostra o teor das discussões naquele momento.
Após idas e vindas, finalmente o mandato chega ao seu último ano. Semeghini começa 1968 de licença, mas ao tentar voltar, um Requerimento redigido pelo vice-prefeito, Jacob da Vigorelli e aprovado pela Câmara, impede que o prefeito volte ao cargo até que acabassem os recursos na Justiça. O "golpe" mantém o prefeito eleito fora do cargo até abril, quando um habeas corpus reconduz Semeghini ao cargo. Escancarando as tensões que passava desde que assumirá a Prefeitura, em 13 de junho o chefe do Executivo sofre um infarto enquanto viajava.
Toda a celeuma entre prefeito e oposição se dava pelo fato do grupo político dominante na época não ter aceitado a vitória do político do PSP. As brigas nos Tribunais fizeram com que a cidade recebesse a alcunha de "Processópolis", das rivais Jales e Votuporanga. O racha surtido na época perdurara até pelo menos 1992, com a eleição de Luiz Vilar, o primeiro nome que não recebeu diretamente como herança a participação política de Percy (que apoiou a eleição de Antenor Ferrari de 1973 a 1976) e Pacheco (Leonildo Alvizzi de 1969 a 1972, Milton Leão de 1977 a 1982 e de 1989 a 1992 e Newton Camargo de 1983 a 1988).
Tempos recentes
Apoiado por Camargo, Vilar sai da Prefeitura para ceder lugar à Armando Farinazzo, pachequista na juventude, mas já sem tanta influência do clima político da época. A vitória de Camargo em 2000 foi significativa por mostrar que os confrontos ainda que sem a influência dos seus nomes originários ainda existia, já que Vilar havia se voltado contra o padrinho ainda quando prefeito.
Em 2004, a eleição de Rui Okuma consagra um nome que havia conseguido aglutinar várias composições políticas da cidade em volta de um nome. Sua morte prematura escancara novamente o racha político com o então diretor Luiz Vilar deixando a Prefeitura quando Ana Bim, ligada politicamente a figura de Camargo, assumiu a cadeira. A sucessão entre um e outro deram a Fernandópolis a nulidade de oportunidades para a manutenção de mandatos que pregassem a mesma direção, remetendo aos histórico de brigas da formação do município. 1968 foi o auge da briga política - por vezes em sentido literal -, entre uma eterna disputa de dois lados que perdurou por décadas, seja com a briga entre Percy e Pacheco, seja nos grupos políticos formados depois.
Exposição e Semana Universitária
A Exposição que começou na quinta-feira, 17, também teve sua origem em 1968. O prefeito e empresários da cidade se organizaram para, na ideia inicial, expor produtos agrícolas produzidos na cidade. A festa, de caráter basicamente econômico à época, fui idealizada devido a crise que o setor passava. O sucesso da primeira edição fez com que ela fosse realizada de forma ininterrupta desde então.
Outro movimento cultural marcante daquele ano foi a Semana Universitária.
Estudantes que estavam fazendo faculdade em outras cidades se organizaram nas férias. O objetivo era o congraçamento da classe universitária e a formação de um ambiente universitário na cidade. Na programação estava agendada apresentação de grupos teatrais, conferências sobre temas variados e a participação de representantes de alunos de faculdades de todo o estado de São Paulo em jogos esportivos.