Histórias do T

Minha primeira Copa do Mundo na TV foi em preto e branco

Minha primeira Copa do Mundo na TV foi em preto e branco

Claudinei Cabreira

Claudinei Cabreira

Publicada há 7 anos



Amanhã á tarde a seleção brasileira estreia na Copa da Rússia, contra a Suíça e prepare seu coração porque o famoso “ferrolho suíço”, aquela defesa quase que intransponível ainda existe, e pior para nós, eles melhoraram muito no meio de campo e no ataque. Tanto que estão na sexta colocação do “rancking da Fifa”.Nos últimos jogos, ganharam todos, só perderam para Portugal. Isso é complicado. Então, como cantava Jair Rodrigues... “Prepare o seu coração”...


Mas voltando aqui para o nosso cantinho de Histórias do Tempo do Botinão, aposto sem medo de errar que muita gente já combinou ou está acertando os finalmentespara assistir o jogo de amanhã na casa de amigos. E é claro, todo mundo vai levar as famílias, os Noninhos, o Rex e até o papagaio de estimação. Daí, para o jogo virar um acontecimento, é só combinar as coisas e criar aquele clima de “Aqui é Brasil”. Acredito também que o pessoal,teve o caprichode colocar na sala ou na varanda, uma baita TV com tela grande e  também se organizou  e  providenciou refrigerantes para as crianças, cervejas para os adultos e churrasco prá todo mundo. Beleza pura.


Se faltar gelo, carvão, mesas ou cadeiras, isso é café pequeno, basta discar nos serv-festas que o pessoal providencia tudo rapidinho. Hoje em dia tudo é muito mais fácil, confortável e agradável. Virou moleza fazer festa e torcer para o Brasil numa Copa do Mundo. Muitos problemas da vida moderna se resolvem num piscar de olhos, numa mensagem enviada via smartphone ou redes sociais. A tecnologia faz milagres num simples toque mágico. É só apertar botõezinhos e pronto. É vapt-vup!


Por que estou dizendo tudo isso? Simples, meu caro amigo leitor. Basta pular aqui no banco da nossa máquina do tempo, botar o capacete, viajar no tempo e voltar aí uns 48 anos. Na minha cabeça, parece que foi ontem. Vamos aterrissar em junho de 1970 no Estádio Jalisco, em Guadalajara, na Copa do México. Quem tem menos de cinquenta e alguns janeiros, claro,não vai se lembrar direito, mas quem tem mais de sessenta, jamais vai se esquecer.


Até hoje digo que aquela foi a melhor seleção que vi jogar. Jogava prá frente, jogava bonito, jogava por música. A defesa não era lá essas coisas. Felix no gol não comprometeu, Carlos Alberto, o capitão, era prá lá de ótimo, mas Brito na zaga central, causava arrepios. Brito, o xerifão da defesa, nos deixava de cabelos em pé. Para ele, da medalhinha do pescoço prá baixo, tudo era canela. Perto dele, Felipe Melo é um anjo.


Mas daí prá frente, tudo ficava mais fácil, porque Piazza era o pensador, “o cabeça” do time, além de jogar muita bola, era poliglota, falava só quatro idiomas, sem nunca ter jogado fora do Brasil. Na lateral esquerda, o Everaldo era um  paredão. No meio de campo, Gerson, o papagaio, também ganhou o apelido de o “Terror da Copa” devido seus lançamentos precisos e surpreendentes. Gerson era um técnico dentro do campo, por isso ganhou o apelido de “Papagaio”. Como diz o Tite,“falava muito”. Riva, o Rivelino, conhecido como o Reizinho do Parque São Jorge, foi o “canhão da Copa” com seus chutes violentos e precisos. Clodoaldo era o maestro do meio de campo, dosava o jogo. Pensava, cadenciava, mudava o ritmo, retinha a bola quando era necessário.


Aí amigo, tinha o ataque. O mais mortal de todas as Copas. Começava com Jairzinho pela ponta direita, que cansou de entortar beques e fazer gols. Fez gols em todos os jogos e o mais importante deles, contra a Inglaterra de Gordon Banks e Bob Charlton e Bob Moore. A crônica esportiva da época apelidou Jairzinho de “o Furacão da Copa”. Duvida do que estou falando? Então, vai lá noDr. Google e no Youtube e confira.


E aí tinha o Tostão. Um centroavante mineiro, prá variar, de poucas palavras, mas que sabia jogar sem a bola. Não aparecia para a torcida, mas era peça fundamental naquele time. O que ele fez contra o Englhish Team, nunca será esquecido. Tostão levava sempre dois ou três marcadores com ele e aí abria espaços para Jairzinho, Gerson, Rivelino e Pelé finalizarem.


E lá na frente com a camisa 10, Ele, o consagrado “Rei do Futebol”, Pelé. Falar do jogador Pelé é chover no molhado, mas na Copa de 70, o “crioulo” chamou para si o jogo e a responsabilidade. Além de ter sido decisivo em várias partidas, em outros jogos,“o negão” (como gostava de ser chamado) abusou. Do meio de campo, quase fez um gol antológico tentando encobrir o goleiro Viktor da antiga Techkoloswakia. Depois, no jogo seguinte, arriscou um surpreendente chute do meio de campo que o goleiro uruguaio Mazurkiewiski segurou firme, Pelé não se abateu e em seguida, deu o drible mais famoso do mundo, sem bola no próprio Marzukiewiski , o melhor goleiro daquela Copa. Os incríveis gols que Pelé não fez, acho que fizerammais história do que os gols que marcou. E a decisão contra a Itália, sem comentários.

Naquela época na casa do nosso saudoso vizinho Zé Lopes, sentados nos sofás, cadeiras e banquinhos improvisados, e a molecadinha sentada no chão da sala, e muita gente no alpendre ou olhando pelas janelas de madeira de duas folhas, formamos uma animada torcida em todos os jogos daquela Copa. E melhor, maravilhadosdiante de uma “moderna televisão” Colorado RQ, em preto e branco, tela de 17 polegadas, cheia de chuviscos e chiados na transmissão, que melhorava a imagem com a colocação de tufos de Bombril espetados na antena interna, e virava e mexia, alguém tinha que subir no telhado da casa para ajustar a antena.

A imagem melhorava e todo mundo vibrava como se fosse mais um gol do Brasil. Enquanto isso, alheia ao jogo, mas atenta a todo mundo, a generosa Dona Ana Lopes providenciava baciadas e baciadas de pipocas para animar a torcida. Foi lá que assisti a primeira Copa do Mundo transmitida ao vivo pela TV em preto e branco. E até hoje,eu e meus amigos somos eternamente gratos ao “seo” Zé Lopes e Dona Ana que abriram as portas e janelas de sua casa acolhendo os amigos e vizinhança com muito carinho. Graças a Deus! Afinal ,o “seo” Zé Lopes era o único vizinho que tinha televisão no meu bairro. Não dá pra esquecer. Semana que vem tem mais. Até lá.

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