Para Pedro Olavo dos Santos,
amigo que, como eu, conhece a sede das águas
Sede grande
não é a soma de sedes pequenas.
É oceano de fogo, batendo
atrás de uma porta trancada.
É adaga de vento, no meio da noite,
eriçando crespas palavras de espanto
numa boca de pedra.
(Já não sei o amor.
Sequestrei o silêncio e a voz.
Descasquei-me em camadas de medo.)
Sede grande
dispensa presença de olhos.
Basta o vazio,
o sem-gesto das mãos,
a implacável nudez do desejo.
Sede grande — mudo oásis deserto —
incrustado no peito.
30/09/2009