Se no paraíso existissem escolas, com certeza seriam de excelente qualidade e todas as crianças e jovens teriam acesso, gratuitamente. Não haveria aulas chatas, enfadonhas, com carga enorme de conteúdo, cuja assimilação fosse baseada no “decoreba”. Não haveria a aplicação excessiva de provas e a exigência de intermináveis tarefas de casa. Seus alunos iriam figurar nas primeiras colocações dos mais importantes exames de avaliação escolar. Essas escolas não preparariam os jovens apenas para exercer uma profissão, mas também para a vida. Seus professores seriam preparados, bem remunerados e gozariam de respeito e reconhecimento da “sociedade celestial”.
Pois bem! Não precisa ir ao paraíso para ter acesso a uma escola com essas características, pois ela já existe, e fica aqui no mundo dos vivos – são as escolas de Ensino Fundamental e Médio da Finlândia, consideradas as melhores do mundo.
De acordo com reportagem publicada no dia 18 de setembro de 2018 no site da BBC Brasil, na internet, o chamado “Milagre Finlandês”, iniciado na década de 1970 e turbinado na década de 1990, transformou, em um espaço de apenas 30 anos, um sistema educacional que amargava índices medíocres em uma grande incubadora de talentos que estimulou o surgimento de uma sociedade sofisticada, rica e altamente industrializada.
Para o leitor ter uma ideia de como o investimento sério e correto em Educação surte efeitos positivos, a hoje rica Finlândia era, até pouco tempo atrás, um país pobre e baseado em uma economia essencialmente agrária. Os finlandeses só conheceram o asfalto na década de 1920 e seus primeiros 14 quilômetros de rodovia foram inaugurados em 1963. Atualmente, possui algumas empresas transnacionais do porte da Nokia, fabricante de celulares, e sua população ostenta uma excelente qualidade de vida, com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre os melhores do mundo.
Mas qual o segredo desse milagre? De acordo com Pasi Sahlberg, um dos idealizadores da reforma educacional na Finlândia na década de 1990, a estratégia se baseou justamente no contrário do que o resto do mundo pratica em matéria de táticas pedagógicas: redução do número de horas de aulas, limitação dos deveres de casa e das provas escolares. Além disso, uma novidade inusitada: “o investimento no Estado de bem-estar social, que desempenha papel crucial no sucesso do modelo, ao garantir a todas as crianças oportunidades iguais para um aprendizado gratuito e de qualidade”.
Em uma típica escola finlandesa, um professor ministra 4 horas de aula por dia. "Dar seis horas de aula por dia é uma tarefa árdua, que deixa os professores cansados demais para se dedicar a outras tarefas importantes no trabalho de um educador, como planejar, reciclar-se e dar assistência cuidadosa ao aluno", diz Sahlberg. Será que os professores brasileiros possuem tempo suficiente para se aperfeiçoarem, constantemente? Na Finlândia, a preocupação não é atingir recordes de desempenho escolar, mas de formar indivíduos capazes de viver vidas felizes, dentro e fora do trabalho.
Eles acreditam que o aumento da carga de trabalho em casa para o estudante não leva, necessariamente, a uma melhora no aprendizado. "Os alunos aprendem o que necessitam saber na sala de aula, e muitos fazem o dever de casa aqui mesmo, na própria escola. Assim, eles têm tempo para conviver com os amigos e se dedicar às coisas que gostam de fazer fora dela, o que também é importante", disse o professor Martti Mery da escola Viikki, localizada em Helsinque, capital do país.
O sistema educacional finlandês não acredita que a aplicação excessiva de provas e exames garante sucesso na vida escolar. A filosofia finlandesa é de que “os professores devem ajudar os alunos a aprender sem ansiedade, a criar e a desenvolver a curiosidade natural, e não simplesmente passar em provas”. Relatórios do PISA (sigla inglesa que significa Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes) – principal programa mundial de avaliação da qualidade do Ensino Básico – indicam que apenas 7% dos estudantes finlandeses sentem-se ansiosos ao estudar Matemática. Já no exigente sistema educacional japonês, que ostenta altos níveis de desempenho escolar, mas também altas taxas de suicídio, esse índice chega a 52%.
Mas o segredo não está apenas em táticas pedagógicas, também reside na redução da desigualdade social. Lá, o filho do operário e do empresário rico estudam lado a lado, na mesma escola, sempre gratuita - não existem mensalidades escolares na Finlândia. É comum as instituições de ensino disporem de um amplo refeitório, nos quais são servidas refeições fartas e saudáveis. Todo material escolar é gratuito. Serviços médicos e odontológicos são disponibilizados, gratuitamente, aos estudantes. Equipes de psicólogos e pedagogos acompanham aqueles discentes que apresentam problemas, como dislexia e outras dificuldades de aprendizagem, fornecendo apoio imediato.
Pasi Sahlberg enfatizou que “o impacto da redução na desigualdade social teve um papel fundamental no êxito do sistema educacional finlandês: saúde, educação e moradia para todos, generosas licenças-maternidade para cuidar das crianças e creches altamente subsidiadas ou até gratuitas, além de uma vasta e solidária rede universal de proteção aos cidadãos. O contrário, desigualdade social, pobreza infantil e ausência de serviços básicos, tem um forte impacto negativo no desempenho do sistema educacional de um país”.
Outro detalhe que faço questão de enfatizar! Na Finlândia, os professores são muito bem remunerados, valorizados e prestigiados na sociedade. O país investiu em programas de formação de excelência no magistério e nas universidades, criou notáveis condições de trabalho e proporcionou, aos professores, ampla autonomia decisória nas escolas. Naquele país, a carreira de professor possui mais prestígio do que Medicina, Direito ou Arquitetura. Somente os melhores universitários conseguem se tornar professores e apenas 10% dos candidatos são aprovados para cursar o obrigatório curso de Mestrado. Isso mesmo! Obter o mestrado é requisito obrigatório para se tornar professor nas escolas finlandesas, inclusive na Educação Infantil.
Baseado na experiência finlandesa que transformou suas escolas básicas nas melhores do mundo, destaco que o melhor investimento de um país em seu futuro é cuidar bem da formação educacional de suas crianças e jovens.
Termino esse artigo, que foi um dos mais importantes que escrevi, com dizeres que resumem o pensamento finlandês sobre a educação pública de qualidade de seu idealizador, Pasi Sahlberg: “É uma obrigação moral, pois o bem-estar e, em última análise, a felicidade de um indivíduo dependem do conhecimento, das aptidões e das visões de mundo que são proporcionadas por uma educação de qualidade. É também um imperativo econômico, uma vez que a riqueza das nações depende cada vez mais de know-how e conhecimento".
O leitor que desejar ler a matéria completa no site da BBC deve acessar o seguinte endereço na internet: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-45489669