HISTÓRIAS DO T

Lembra dos natais de antigamente?

Lembra dos natais de antigamente?

Por Claudinei Cabreira

Por Claudinei Cabreira

Publicada há 6 anos

Ganhar de presente o LP de Natal de 1968, “O Inimitável” de Roberto Carlos, era o sonho da maioria das mocinhas daqueles tempos incríveis e maravilhosos



O tempo passa, o tempo voa e aqui estamos nós diante de mais um final de ano. E que tal nesta véspera de Natal, um caprichado mergulho no “Túnel do Tempo”? Será que você ainda se lembra dos Natais de antigamente? Eram muito divertidos e bem diferentes dos que vivemos e vemos nos dias atuais.


Recuando no tempo, me lembro da véspera do Natal de 1959, e vejo meu pai ainda moço, chegando em casa carregando duas sacolas de pano, daquelas antigas, que o pessoal usava para fazer compra nas mercearias e casas de secos e molhados. Naquela época ainda não existiam os mercados e muito menos os supermercados. Eram tempos bicudos.


E nas duas sacolas, ele trazia a tão esperada compra de Natal: meia dúzia de garrafas de guaraná, duas ou três garrafas de cerveja, que vinham empalhadas. Uma delas era a sagrada Malzibier, para minha mãe. Havia a lenda que mulher precisava tomar cerveja preta, para ter mais leite e poder amamentar melhor os pequenos. E ainda naquelas sacolas, ele trazia um garrafão de vinho “Sangue de Boi”,latas de goiabada “Cascão”, balas e outras miudezas. Era um acontecimento! Para nós, aquilo sim era uma baita festa! Nunca vou me esquecer desse tempo. Essas cenas estão gravadas para sempre na minha retina.


Ele nunca comprava macarrão, porque o macarrão caseiro era uma delícia, feito com capricho pela minha mãe com a farinha “Sol Levante”, a mesma farinha que ela usava para fazer um imenso saco de bolachas de “salmonico”. O frango do almoço de Natal, claro, era caipira, criado na larga, no quintal de casa. Nessa época, agente morava na chácara do Compadre Cecílio, no famoso “Morro do Piolho”,  hoje bairro Corinto.


Lembro que o Natal, para nós,sempre foi e até hoje é uma data sagrada. Os pais passavam para os filhos, a história do “Menino Jesus” de uma forma bastante singela. A narrativa sempre era feita com calma, durante a montagem dos pequenos presépios caseiros e das nossas simples árvores natalinas. Acredite se puder, mas Ceia de Natal, só acontecia nas residências das famílias mais abastadas. No geral, antigamente, comemorava-se o Natal com grandes e memoráveis almoços com a família toda reunida em torno da mesa do almoço.


As crianças aguardavam o Natal contando os dias nas folhinhas de páginas destacáveis e nos dedos das mãos. E quanto mais se aproximava a data, maior era a nossa expectativa. Lembro que era preciso caprichar na “cartinha que a gente escrevia para o Papai Noel”. As mães, claro, “ajudavam” para que os presentes não ficassem caros, porque senão, outras crianças poderiam ficar sem brinquedos. E criativas, contavam que na “fábrica de presentes do Papai Noel”, até Branca de Neve e os Sete Anões, trabalhavam duro, o ano inteiro, montando os brinquedos para as crianças do mundo todo. E é lógico, a gente levava tudo isso à sério!

Era preciso engraxar os sapatos, que tinham que ficar brilhando e enchê-los com capim para alimentar as “renas” que puxavam o trenó do bom velhinho. Depois era preciso colocar a cartinha e por os sapatos na janela. Pegar no sono na noite da véspera era um problema. Mas nossas mães, muito sábias, diziam que se a gente não dormisse, o Papai Noel “pulava” a nossa casa. Acho que foi nessa época que prá pegar no sono, aprendi “contar carneirinhos”...


Na manhã seguinte, a gente acordava bem cedinho e corria direto, até sem lavar o rosto, para ver os nossos presentes. Nunca falhava: lá estava o nosso brinquedo... e a grama que havia nos sapatos, as “renas” haviam “comido”, não deixando nenhum fiapo. Eram tempos inocentes!


O Natal era o dia mais alegre do ano. A criançada feliz da vida, todo mundo com brinquedo novo. Os meninos ganhavam carrinhos ou bolas de futebol e as meninas exibiam suas bonecas, joguinhos de panelas e cozinha. Tudo muito simples. Tudo de plástico. Lembro até as marcas: Atma, Trol, Gulliver e Estrela.

Dez, doze anos depois, já na mocidade, nas vésperas de Natal, os grupos se reuniam e a ceia era feita sempre na casa de alguém da turma, onde acontecia a troca de presentes de “amigo secreto” e também entre os casais de namorados. Sempre com muita música e dança. Eram os tempos do yê-yê-yêe da Jovem guarda. Ganhar o “LP de Natal” do Roberto Carlos, em 1968, o disco “O Inimitável”, era o sonho da maioria das mocinhas daqueles tempos incríveis e maravilhosos.

E nessas festinhas entre amigos, tudo era na base do “racha” e bem organizado. Elas providenciavam os pratos da ceia, as frutas e o ponche. Os rapazes ficavam encarregados de providenciar o som e as bebidas: Martini, Cinzano, cuba-libre, vinho, e é claro, o champanhe... Sidra Cerezer! E depois, bem animados, lá íamos nós para a via-sacra, pelas outras festas, emendando a noite em memoráveis serestas, alguns de nós, “três coqueirinhos prá lá de Bagdá!”. E quesaudade das memoráveis serenatas! Elas sempre eram esperadas pelas mocinhas, como momentos mágicos, de sonhos. E todas as serestas, com o repertório natalino escolhido a dedo!


Bons tempos aqueles! Hoje, Feliz Natal e um ótimo Ano Novo, prá você e toda sua família.  E como a gente costumava dizer: muito dinheiro no bolso, saúde prá dar e vender. Semana que vem tem mais, Até lá!

últimas