PREOCUPAÇÃO
Tensão entre Irã e EUA preocupa exportadores da região
Tensão entre Irã e EUA preocupa exportadores da região
Nos últimos dez anos, 17 cidades da região exportaram 514 milhões de dólares em itens como carne e fruta para o país islâmico
Nos últimos dez anos, 17 cidades da região exportaram 514 milhões de dólares em itens como carne e fruta para o país islâmico
Carne é o principal item exportado pela região para o mercado iraniano
Da Redação
O clima de tensão instalado no Irã após a morte do general iraniano Qassem Soleimani, na semana passada durante ataque feito pelos Estados Unidos no Iraque, é acompanhado de muita expectativa pela economia da região Rio Preto. Nos últimos dez anos, 17 cidades da região exportaram 514 milhões de dólares em carne bovina, frutas, sumo de fruta e açúcar ao país islâmico.
Os dados são do Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Só em 2010, ano inicial do levantamento, foram US$ 47,7 milhões (dólares) de carne bovina negociada entre o Irã e os municípios de José Bonifácio, Barretos, Estrela D'Oeste, Santa Fé do Sul e Fernandópolis.
No mesmo ano, a região também exportou US$ 90,1 milhões em açúcar de cana-de-açúcar ou beterraba e sacarose produzidas em Orindiúva, Ouroeste, Ariranha, Catanduva, Novo Horizonte, Sebastianópolis do Sul, Meridiano, Tanabi, Guaraci e Olímpia. Outras exportações como frutas e sumos de frutas também foram negociadas.
De lá para cá, os produtos classificados no mercado exterior como commodities continuaram sendo negociados, ainda que em desaceleração. De janeiro a dezembro de 2019, as exportações ao mercado iraniano fechou em 2,6 milhões relacionadas à venda de carne bovina produzida por frigorífico de José Bonifácio. O valor representou 2,1% das exportações do município no ano.
Este é o principal setor da economia brasileira refém da tensão do mercado exterior nesse momento, segundo análise de Tarak Sarut, graduado em comércio exterior e especialista em trader (negociador) com o Oriente Médio. "A última informação que tivemos é que são 21 frigoríficos fazendo abate para o Irã", disse.
Segundo o Ministério da Economia, em 2019, o Brasil exportou um volume total de mercadorias avaliadas em US$ 2,1 bilhões ao Irã. O saldo das negociações foi de cerca de R$ 2 bilhões positivo para a balança comercial do Brasil, ou seja, o País vendeu muito mais do que comprou dos iranianos.
Oriente Médio
Além do Irã, tanto o Brasil como a região de Rio Preto negociam também com outros dos 22 países do Oriente Médio. Para se ter uma ideia, 3,7% das exportações de José Bonifácio em 2019 foram para o Líbano, 2,2% a Jordânia, 1,6% a Arábia Saudita, 0,4% à Arábia Saudita e outro 0,3% ao Iraque.
Diante deste cenário atrativo economicamente, Sarut defende que o Brasil mantenha-se neutro no atual embate entre Washington e a terra dos aiatolás. Ele explica que esta é uma tradição do Itamaraty em momentos assim para evitar qualquer retaliação que possam prejudicar as relações comerciais brasileiras. "Em matéria comercial é importante ser neutro para continuar comprando e vendendo para todos", disse.
A diretora da MultiWays Despacho Aduaneiro, de Rio Preto, Yvanna Garcia, acrescenta que nesse momento as entidades que representam os empresários do setor carro chefe (carne) das negociações ao Oriente também são importantes nas articulações. "As entidades acabam tendo também um papel fundamental para dirimir estes conflitos, pois é um mercado bem específico."
Por fim, o economista José Mauro aposta que a região não terá prejuízos, uma vez que a carne exportada ao Oriente Médio passa por um ritual de abate e cortes já aprovados para muçulmanos, além do açúcar bruto. "Dessa forma pouco impacto ocorrerá para a nossa região", analisa.
A preocupação do comércio exterior brasileiro, segundo Sarut, também leva em conta negociações com nações que estão do outro lado da tensão, como Estados Unidos e aliados, uma vez que o Brasil também negocia com essas nações, mesmo que de forma deficitária (compra mais do que vende). "O Brasil compra muita coisa de Israel, por exemplo. Mas basta ser neutro que não terá problema."
IMPACTO NO AGRONEGÓCIO
A tensão entre Estados Unidos e Irã também tem reflexos nos preços do petróleo e derivados. Com o reajuste, os preços do óleo usado no campo e os valores dos fertilizantes sobem na mesma proporção. Este pode ser o principal impacto no agronegócio, segundo afirmação do analista Cláudio Correia.
Segundo o analista o momento é de cautela. "Até isso acontecer a gente tinha um panorama mais tranquilo porque hoje o maior gargalo do campo são os custos", afirmou. "Se o preço está estável tudo tranquilo. Com esse advento sobe o petróleo e os derivados, o produtor vai ter que esforçar ainda mais para administrar ainda mais os custos para equilibrar."
De acordo com Correia, o reajuste nas principais fontes de produção do agronegócio é um reflexo sob a perspectiva da cadeia produtiva, o que pode ter impacto em todo País, independentemente da região. "É ficar mais atento. Por exemplo, a produção de milho que vinha crescendo para boas expectativas para 2020, pode sofrer um gargalo agora", disse.
Por outro lado, o analista aponta o cenário como uma oportunidade para o setor sucroalcooleiro, representado por cidades da região de Rio Preto. "O setor vinha passando por dificuldade grande. O açúcar vinha sofrendo com os subsídios da Índia, e com isso muitas usinas passaram para o etanol, agora certamente o etanol será mais rentável", finalizou.
Exportações para o Irã (de 2010 a 2019)
Exportações da região para os Estados Unidos (de 2010 a 2019)
Exportações da região para o Oriente Médio (de 2010 a 2019)
Por município
José Bonifácio:
Importação
Fonte: Diário da Região