ARTIGO

A FÉ EM TEMPOS DE COVID-19

A FÉ EM TEMPOS DE COVID-19

Por Dr. Washington Henrique da Conceição, Seminarista da Diocese de Jales e Médico

Por Dr. Washington Henrique da Conceição, Seminarista da Diocese de Jales e Médico

Publicada há 4 anos

Em meio às trevas e ao medo do momento atual, causados pela COVID-19, cujos infectados e mortos crescem a cada dia, ressoa em nossos corações o canto do “Exultet”, anunciando a alegria da Páscoa. Em Cristo Ressuscitado, o amor venceu o ódio, a vida venceu a morte, a luz afugentou as trevas! Mas, por que o mal ainda nos aflige? Por que ainda sofremos? Onde está nisso o Ressuscitado?

Para iluminar nossa reflexão sobre a existência do mal e o suposto “silêncio de Deus”, é necessário, primeiro, afirmar que o sofrimento não é, simplesmente um problema, mas um grande mistério. Não estamos diante de um enigma a ser decifrado, mas diante de um mistério de fé. Qual interpretação nos sugere a fé cristã? Tomemos como referência central a pessoa de Jesus Cristo. 

“Na sua atividade messiânica no meio de Israel, Cristo tornou-se incessantemente próximo do mundo do sofrimento humano. Curava os doentes, consolava os aflitos, dava de comer aos famintos, libertava os homens da surdez, da cegueira, da lepra, do demónio e de diversas deficiências físicas; por três vezes, restituiu mesmo a vida aos mortos” (cf. Carta Apostólica de São João Paulo II, Salvifici Doloris).

O Evangelho nos mostra que Jesus não fez apologia do sofrimento e nem o desejou. Ele sequer veio a este mundo para morrer pela humanidade, senão para dar-lhe vida, salvar-lhe. “Ele passou fazendo o bem” (At 10,38). Concluímos que a COVID-19, além de não ser doença chinesa, sendo antiético assim conceituá-la, não é também castigo de Deus. 

Não podemos esquecer que o Deus, a quem fazemos a pergunta sobre o sofrimento, nos responde desde a cruz, do meio do seu próprio sofrimento, com expressões de misericórdia. Ele não explicou o motivo do sofrimento, sequer indiretamente, mas o viveu, transfigurando-o, tomando sobre si nossas dores e aflições. No sofrimento da cruz revela-se a plenitude do amor de Deus. 

No sim do Filho de Deus, a “antiga desobediência” a Deus foi vencida. A cruz tornou-se em Cristo, salvação e glória. O sofrimento tornou-se sinal de amor. Onde, então, está o Ressuscitado em tempos de COVID-19? Ele está nos que são vítimas, bem como nos médicos e agentes de saúde que os atendem. Está nos cientistas que pesquisam vacinas. Está em todos os que ajudam a amenizar os sofrimentos. Está, também, nos que oram uns pelos outros e difundem esperança.

Por isso, o que de melhor podemos fazer neste momento senão inspirarmo-nos nos conselhos da tradição cristã e da ciência? Resistamos ao pânico! Os motivos para nos preocuparmos são muitos, contudo, o pânico não vem de Deus, a calma e a esperança sim. Somos responsáveis por nosso destino comum. Por isso, cuidemos uns dos outros, sobretudo dos doentes. 

Embora os templos estejam fechados por prudência e testemunho de amor, estejamos agora, mais ainda unidos em oração. Por fim, sigamos o sábio conselho de quem ama a vida como dom Deus: Cuide bem de si, de sua família e de todos! Fique em casa, ajude quem não tem casa e seja solidário com os que não podem retornar à casa por estarem nos hospitais salvando a vida dos demais!


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