O hospital Beneficência Portuguesa de Rio Preto começou a coletar sangue de homens curados da Covid-19 para hemoterapia com plasma convalescente em pacientes que testaram positivo para o coronavírus. O objetivo é estocar o material com anticorpos contra a doença e apresentar a possibilidade de tratamento para médicos e hospitais da cidade. O tratamento alternativo é mais uma aposta no combate a doença - pesquisa mostra que pode reduzir em até 50% a taxa de mortalidade e o tempo de internação de pacientes infectados.
A busca dos doadores em potencial está sendo realizada pelo banco de sangue da Beneficência. "Se você é do sexo masculino, teve Covid-19 e já se recuperou há 30 dias, precisamos da sua doação!", afirma o comunicado compartilhado nas redes sociais do hospital. "Podemos salvar vidas de pacientes que estão em tratamento Covid-19. Nos ajude nesse momento difícil. Faça sua parte!".
O médico hemoterapeuta responsável pela iniciativa, Manoel Cavalcanti, explica que a hemoterapia com plasma de pacientes curados que apresentam anticorpos da doença é um tratamento antigo, já utilizado pela ciência contra outros vírus e doenças graves e fatais, como a febre hemorrágica ebola, uma das doenças mais importantes na África subsaariana. "Não é algo milagroso, mas é uma outra alternativa num momento em que buscam uma cura para a Covid", afirma.
Segundo Cavalcanti, a hemoterapia não deve ser usada em pacientes com quadro clínico leve ou grave. "Só para casos moderados. Para esses pacientes, estudos mostram redução de até 50% na taxa de mortalidade, redução de 50% na taxa do vírus no organismo e também diminui em 50% o tempo de internação do paciente", afirmou. Se encaixam como pacientes moderados aqueles que precisaram de internação em enfermaria, por exemplo.
Para a coleta do plasma, o banco de sangue do hospital coleta o sangue de pacientes homens, entre 18 e 70 anos, que tiveram Covid-19 e estão curados há pelo menos 30 dias. O paciente precisa ter o exame positivo da doença e seguir os critérios da doação de sangue.
Depois de coletado, o material passará por todos os exames de rotina de um banco de sangue para descartar HIV, Chagas, entre outras doenças, e constatar que tem anticorpos contra o coronavírus. "Estamos com as coletas há dez dias, já tivemos alguns doadores, mas nem todo mundo que doa tem o plasma bom para o tratamento. Quatro unidades eu consegui aproveitar até aqui", afirmou o médico.
O plasma das mulheres não será usado. O hemoterapeuta explica que, pelo fato delas poderem ter tido um aborto ou uma gravidez, podem ter anticorpos contra glóbulos branco, o que na transfusão do plasma poderia gerar lesão pulmonar aguda associada à transfusão (do inglês, transfusion-related acute lung injury, Trali). Isso porque, quando a mulher engravida, pelo menos metade da carga genética do bebê é do pai, o que leva a mãe a desenvolver os anticorpos. "Essa reação transfusional grave pode ocorrer em qualquer paciente, então a gente evita para qualquer doença e não só para Covid, uma vez que essa lesão é como se fosse deixar o pulmão encharcado de líquido", detalhou Cavalcanti.
O plasma coletado pode ficar até um ano armazenado, desde que dentro das normas corretas. A expectativa do banco de sangue da Beneficência é estocar até 15 bolsas e começar a disponibilização. "Estamos iniciando o projeto. Depois vamos apresentar e ficará a cargo dos médicos assistentes optar pelo tratamento. Estamos nos adiantando em relação ao estoque", finalizou o médico.