"Tudo o que acontece de ruim é para melhorar!", diz o verso da música de Paulinho Moska, que faz parte da trilha sonora da novela “Êta Mundo Bom”, em reprise na televisão, e que também é o mote de um dos personagens da trama.
Se o verso pode ser aplicado à pandemia que vive o mundo, como uma profecia, eu não sei, só sei que entre as coisas profícuas que me trouxeram esse randevu da ziquizira de coroa, foi ter conhecido a Dra. Natália Pasternak.
Ela é PhD com pós-doutorado em Microbiologia pela USP, autora do livro Ciência no Cotidiano e, atualmente, pesquisadora colaboradora do ICB-USP, no Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas (LDV), e também fundadora e diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência (www.iqc.org.br), o primeiro Instituto brasileiro para promoção de pensamento crítico e racional, e políticas públicas baseadas em evidências científicas, dentre outras atividades e estudos registrados em seu currículo. Todos verídicos, para o caso de nomeação a algum ministério.
Quando digo “ter conhecido”, quero dizer pela televisão, quando ela dava entrevistas ou participava em programas de notícias e debates, como ocorreu na última segunda-feira, no Programa Roda Viva, da TV Cultura, onde foi sabatinada por jornalistas de vários meios de comunicação.
Com base nos comentários feitos por ela durante o programa, imagino que possa acrescentar em seu currículo que é “comunista”, “esquerdista” e “inimiga da indústria farmacêutica”, caso ainda não tivesse tais especialidades nacionais contemporâneas registradas em seu curriculum vitae.
O fato é que ela não fala por meias palavras e, como era de se esperar, em razão de seu currículo, tem um discurso elucidador, sincero e embasado, que foi capaz não só de esclarecer todos os fatos sobre a propagação do coronavírus (Sars-Cov-2) como também de desmistificar os aclamados tratamentos e métodos de prevenção contra a Covid-19, tanto no Brasil quanto em outros países.
Algumas de suas respostas aos questionamentos levantados pelas jornalistas, todas mulheres, importante observar, poderiam soar raivosas aos desatentos, contudo, na verdade, era em tom de firmeza, de quem tem convicção sobre o que está falando.
Sua maneira de se expressar, apesar do vigor de algumas palavras, foi bastante leve, simples, mas não simplista, e informal, ao mesmo tempo em que era teórica e detalhada. Não é por mesmo, já que Pasternak organizou o primeiro curso de especialização em comunicação pública da ciência na cidade de São Paulo, com a finalidade de formar jornalistas e outros profissionais de comunicação sobre a popularização da ciência.
A Dra. Natália tem atacado, e o fez no programa, ao que ela se refere como pseudociência, ou seja, qualquer sistema de crenças ou metodologia que tenta ganhar legitimidade usando as armadilhas da ciência, porém, sem qualquer base ou comprovação científica.
A simplicidade e modéstia da Dra. Natália não deve ser confundida com fragilidade, muito, muito, bastante pelo contrário, ela fala como uma mãe que quer apresentar da melhor forma sua filha, a ciência, aos colegas da escola para que, compreendo-a um pouco mais, possam conviver em harmonia, quem sabe até brincar no recreio.
Ela deixou claro isso ao afirmar que surgirão novos vírus e, possivelmente, novas pandemias, em razão da modificação e destruição do meio ambiente no planeta, de modo geral, aproximando o homem dos animais, dentre outros fatores negativo.
Mas não fez somente críticas aos alarmistas, pseudocientistas e governantes, também explicou os motivos pelos quais há tanta confusão de informações, mesmo no meio científico.
A justificativa é a pressão vinda de todos os lados para se descobrir, principalmente, uma vacina que combata a Covid-19. Há cientistas acelerando o processo protocolar de pesquisa, ou para obter os louros da publicação, ou, em maior número, achar a cura da doença, colocando fim à pandemia.
O pandemônio que tomou conta do nosso país é grande, confundindo tudo e todos, sem resultar em qualquer solução. É um balaio de gatos onde estão misturadas questões políticas, econômicas, sociais e de saúde pública, alardeadas por panacionalistas, pancomunistas, panazistas, panesquerdistas, pansonaros e tantos outros pans, convertendo-se numa verdadeira pantomima.
A Dra. Natália ainda lembrou bem outros fatores e contradições encontrados nos discursos e atitudes que tomaram conta do país, falando do peso da cobrança colocada sobre os pesquisadores, professores e alunos das universidades e centros de pesquisas, para que produzam remédios e, claro, descubram uma vacina eficaz para a Covid-19, em contrapartida aos recentes ataques rotulando as universidades brasileiras como local de balburdia.
Enquanto nossos cientistas dentro e fora do país são reconhecidos e respeitados pela comunidade científica internacional e governos de inúmeros países, agora, depois do deboche e desprezo estatal, como também de muitos filhos da pátria de segunda natureza, se portando como ecos numa caverna escura, querem que a balbúrdia solucione o problema urgentemente.
Uma notícia falsa viralizou nas redes sociais, atribuindo a uma bióloga espanhola o seguinte pronunciamento: “Vocês pagam um milhão de euros por mês para um jogador de futebol e mil e oitocentos euros para um pesquisador em biologia. Agora vocês querem um tratamento. Vão perguntar ao Cristiano Ronaldo ou ao Messi se eles vão encontrar a cura para vocês”.
Apesar de boato, de uma fake news corriqueira, serve muito bem para reflexão em relação aquilo que o mundo moderno tem acatado como exemplo de valor, enaltecendo demais o superficial e, opostamente, rebaixando com intensidade o necessário e essencial.
Serve também como resposta àqueles que colocam suas esperanças em figuras mitológicas, imaginando que exista de fato um Olimpo e que para lá serão conduzidos na condição de semideuses, desprezando os demais habitantes da sua casa e cuspindo no prato em que comeram.
Se a frase da fake news fosse verdadeira, sua autora mereceria o Nobel da sinceridade e coragem, como merecem outras mulheres brasileiras da ciência, como a Dra. Natália Pasternak, juntamente com o milhão que acompanha o prêmio.
Diante de tudo que ouvi no programa, e aconselho você a assisti-lo, como por exemplo o motivo de ainda não haver uma vacina para a dengue, espero, sinceramente, que todo pandemônio que acontece seja para revolucionar.
Sérgio Piva