ARTIGO

O reflexo da reciprocidade

O reflexo da reciprocidade

Por Pablo Dávalos

Por Pablo Dávalos

Publicada há 3 anos

Independente de religião, acredito com veemência que existe um mistério muito maior que a sabedoria humana dentro das páginas da Bíblia. Uma de minhas passagens preferidas encontra-se no evangelho segundo Lucas, especificamente no capitulo 18, versículos 24 e 25. Neles, jesus exemplifica de maneira clara e objetiva a insignificância do dinheiro, do materialismo terrestre, da ilusão e afirmação de que um pedaço de papel timbrado e colorido chamado dinheiro possui tanta importância. “É muito mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um milionário entrar no reino de Deus”. O problema começa quando a maioria das pessoas, por não compreendê-lo totalmente, permite que o poder do dinheiro exerça controle sobre suas vidas, emoções, racionalidade e senso do bem ou mal.

São tempos difíceis os que a humanidade tem enfrentado desde o começo dessa pandemia mortal, porém ao invés de nos unirmos, de dividir o pão, de estender a mão amiga, de juntar forças e ajudarmos uns aos outros, ao invés de sermos fraternos, temos entrado em uma competição egoísta para “garantir somente o nosso” a qualquer custo e sem pensar nas consequências de nossos atos, sem mostrar piedade com a perda do próximo e ignorando os desdobramentos da cadeia de ações que tomamos inconscientemente com a preocupação de resolver somente nossos problemas.

Quando ligo a televisão, tenho ficado chocado ao perceber o quanto estamos perdidos como seres humanos dotados de emoção e compaixão. As disparidades vão desde o abuso de um desembargador ao colocar em risco a saúde das demais pessoas, até a humilhação de pessoas simples, como o mais recente caso do motoboy vítima de racismo por um ser infeliz. É claro que todos somos um pouco falhos em alguns momentos, mas ultimamente temos sido campeões. Muitas vezes é necessário um pouco de radicalismo para não permitir que más notícias, energias ruins e proliferação de desastres afetem nosso estado de espírito e animo, obrigando a nos restringir de ligar o aparelho de televisão, mas fatos como os últimos nos levam a entrar em um estado de alerta de que algo necessita ser feito. Penso que em qualquer situação de injustiça, seja no trabalho, no transito, no curso, no supermercado, em qualquer lugar que vivenciemos, quando o resto do mundo tem medo de agir, aquelas poucas pessoas que decidem ir contra o silêncio e puxam o gatilho contra a arbitrariedade, acabam sendo as mais recompensadas.

Se o mundo é um espelho da humanidade, estamos com tanto medo de olhar para nosso próprio reflexo que deixamos de notar o quão deselegantes estamos vestidos para o evento chamado vida. É claro que diante de tudo, alguma ocorrência sobrenatural deveria surgir para nos mostrar as nossas insignificâncias forças e soberbas. Dificilmente a vida nos dará uma aula com palavras, mas sim no melhor estilo: batendo em nós muito forte. Algumas pessoas simplesmente apanham sem se importar pois estão acostumadas, outras preferem descontar as amarguras em seus familiares, pessoas próximas, subordinados, chefes. Mas existem poucas pessoas que frequentemente aprendem a lição divina e absorvem bem as pancadas da vida, pois cada uma delas representa aprendizado diferente e surpreendente. Acredito que em determinadas situações da vida, a raiva e frustração, combinada com amor e determinação, é capaz de motivar a paixão, aquela paixão por superar, e a superação é um componente essencial de qualquer aprendizado. Creio que, independentemente de religião, este mundo possui poderes muito mais fortes do que nós somos habilitados a compreender. Muitas vezes, podemos chegar ao nosso objetivo com nosso esforço, mas com certeza chegaremos muito mais rápido com o auxílio desses poderes. Tudo o que precisamos fazer é ser generosos e bons com os demais ao nosso redor. De um jeito que não consigo explicar, todos esses poderes superiores e especiais serão generosos conosco. O universo é aquele misterioso amigo que uma vez nos contou seu maior segredo: a Lei da reciprocidade. 


Pablo Dávalos

Engenheiro de Produção e Analista de Planejamento e Controle de Produção Master of Business Administration – MBA pela FGV em Gestão Industrial. Em andamento

Green Belt e Black Belt Six Sigma


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