Toda vocação pressupõe uma missão. Toda a realização pessoal dá-se no serviço e na entrega aos demais. Deus chama para construir comunidade, para fazer a cada pessoa “irmão” com outros irmãos, para seguir construindo um mundo que seja a “casa de todos”, onde todos possam viver com dignidade.
O projeto pessoal de vida (PPV) é um convite a tomar a vida nas próprias mãos e a descobrir a grandeza de decidir sobre a própria existência de um modo autônomo e comprometido, e por isso mesmo, pessoal e comunitariamente plenificante. Somente pode ser vivido quando a pessoa supera a atitude egocêntrica e descobre um amor que liberta, que salva, que dá plenitude. A ausência de projeto leva a uma vida alienada, onde os outros decidem por mim.
Os jovens têm uma inata aspiração para serem felizes e viver em plenitude. Vivem esta aspiração com muita força, desejo e entusiasmo. A vida aparece para eles cheia de “possibilidades” e potencialidades. Sentem uma exigência interior de enchê-la de sentido e de significatividade, de “realizar-se na vida”.
Construir um projeto de vida exige um acompanhamento. Aqui ressalto a importância de uma equipe para ajudar no processo. Sozinho, ninguém realiza com êxito o trabalho. Nos últimos anos, dedicado no acompanhamento do trabalho vocacional, é nítido que a Igreja tem demonstrado atenção especial, principalmente no período de formação inicial, o discernimento e desenvolvimento. Na realidade, falar de projeto de vida é falar de uma necessidade cada vez mais presente na vida dos jovens.
Na cultura neoliberal e pós-moderna que vivemos, faz-se cada vez mais necessário promover e impulsionar explicitamente, nos jovens, esta atitude de buscar discernir e realizar seu próprio projeto de vida. Com efeito, são muitas as pessoas que passam pelo mundo sem sentir a necessidade de dar uma direção e um sentido a sua existência, de pro-jetar, de “olhar para adiante”.
Um dos momentos mais luminosos da vida é aquele em que se descobrem valores que se apresentam com incondicionais. Por exemplo, trabalhar pela justiça, pela solidariedade, pelos pobres. Estes valores se descobrem através de determinadas relações interpessoais, de serviços, de compromissos, algo inerente nos jovens. Se antes, tudo girava em torno de si mesmo, agora há um valor que desperta o coração e compromete a liberdade. São experiências que mostram que a vida só pode fazer-se projeto a partir de um valor que comprometa o melhor da pessoa.
Falar de projeto de vida é dar uma resposta ao caráter presentista da cultura atual. Mas é também uma resposta a muitas propostas de trabalho com jovens que não tem um “fio condutor”, que não estabelecem etapas e que estão ligadas muito mais a eventos que a processos. Afinal, o “Ontem foi embora. Amanhã ainda não veio. Temos somente hoje, comecemos! Qualquer ato de amor, por menor que seja, é um trabalho pela paz”?
Padre Miguel Donizete Garcia – Reitor do Seminário Diocesano
Administrador da Paróquia São Bernardo – Fernandópolis/SP
Fernandópolis, 20 de agosto de 2020.