Esperar não é um dos meus passatempos favoritos. E também não deve ser para qualquer pessoa cujo tempo tem insistido em parecer cada vez mais escasso por culpa da vida moderna, que nos impõe obrigações outrora consideradas irrelevantes, ou por nossa própria responsabilidade, quando caímos na armadilha de acharmos que ocupação excessiva é sinônimo de produtividade. Produção e Produtividade nunca serão sinônimas.
De qualquer forma, o que me esperava naquele dia seria a espera. Precisava resolver questões burocráticas em um escritório habitualmente movimentado. Assim, preparei-me física e psicologicamente.
Psicologicamente, fazendo-me consciente da espera que estava por vir. Fisicamente, munindo-me do equipamento de “esperamento”: material de leitura. Quase sempre tive o costume de enfrentar filas e salas de espera com uma revista ou um livro em mãos. A leitura tem o poder de acelerar o relógio.
Hoje, com a tecnologia facilitando e atrapalhando nossa vida, a leitura parece ter-se tornado recurso utilizado por quase todo mundo contra a espera. Invariavelmente, vejo pessoas nas filas de bancos e nas salas de consultórios com os olhos grudados no celular. Não precisa ser vidente para saber que estão no WhatsApp ou Facebook.
Essa é razão de ter atribuído aquelas duas caraterísticas à tecnologia, a de facilitar e a de atrapalhar. Facilita porque coloca na palma de nossa mão toda a possiblidade de leituras com poucos movimentos dos nossos dedos. Atrapalha porque desvia a atenção para leituras nem sempre instrutivas.
Entendo que a leitura pode ser utilizada apenas como passatempo, sem a rígida obrigação de ser producente. Mas, se há possibilidade de unir as duas coisas ao mesmo tempo, servir de passatempo e ser produtiva, tanto melhor para o leitor e, quem sabe, para o resto da humanidade.
É claro que todo ato de leitura não garante a construção do bem, haja vista as interpretações múltiplas, e algumas errôneas, de livros chamados sagrados como a Bíblia e o Corão.
Mas ela constrói muitíssimo mais do que destrói, porque leva à reflexão. Raramente não se extrai ao menos um aprendizado de uma boa leitura. Não vou tentar definir “boa leitura”, já que os gostos pessoais com relação aos tipos de textos a serem lidos são diversos, assim como a crítica particular acerca do significado de “boa”.
Ainda assim, dificilmente a leitura deixa de produzir conhecimento e, consequentemente, o crescimento intelectual. Apesar de parecer obvio seus significados, acho importante rever a semântica dessas expressões: produzir conhecimento e crescimento intelectual.
Segundo o Dicionário Houaiss, produzir significa “dar origem, gerar, fornecer”, conhecimento é “o ato ou a atividade de conhecer, ato ou efeito de aprender intelectualmente, de perceber um fato ou uma verdade, estado ou condição de compreender, entendimento”. Crescimento constitui-se em “multiplicação, ampliação, expansão, desenvolvimento”, e intelectual é “relativo ao intelecto, mental, espiritual, cerebral, racional”.
Em suma, a leitura é capaz de gerar o entendimento, ampliando a mente, o espírito e a razão. No entanto, quem possui a capacidade de iniciar esse processo é a pessoa, ela é quem tem o poder do agir e também da escolha.
Por isso, retiremos a culpa atribuída totalmente à tecnologia. Cabe a pessoa decidir o que ler, dentre as infinitas possibilidades de leitura disponibilizadas por meio dos modernos equipamentos e, ainda, pelo “antigo” papel que, mesmo a despeito das pessimistas previsões anunciando seu fim, continua vivo produzindo livros, revistas, jornais e conhecimento.
Escolha o meio que mais lhe agrade para acessar a escrita e crie o hábito da leitura. Não espere. Se tiver que esperar, aguarde na companhia de um bom livro, revista, jornal, site ou blog.
A propósito, caro leitor, comecei a contar uma história no início do texto, mas a mente, sagaz como sempre, conduziu a escrita para um caminho perpendicular. Caso queira conhecê-la, precisará esperar por um novo texto e fazer outra leitura.
Sérgio Piva
s.piva@hotmail.com