Por Josiane Branco
Padre Miguel, do núcleo São Bernardo
O domingo de Páscoa celebra a passagem da morte para a vida por meio da ressurreição de Jesus Cristo. Para a maior parte dos cristãos, a festa religiosa é sinônimo de transformação e nova chance, ou seja, é hora de refletir sobre a vida e fazer o bem para o próximo. Entretanto, a data ainda deixa muitas pessoas em dúvida. Pessoas que não compreendem de onde ela surgiu e o seu real significado. Com a forte apelação do comércio as pessoas confundem-se ainda mais e não é raro vermos pessoas respondendo que os símbolos da Páscoa são ovos de chocolate, ou que trata-se de um feriado católico, sem conhecimento.
Ordenado ao Ministério Sacerdotal há seis anos, Pe. Miguel Donizete Garcia, 42 anos,
sempre muito carismático e querido pelos fieis é hoje nosso entrevistado especial.
Ele fala com detalhes sobre o verdadeiro significado da Semana Santa e da Páscoa.
EXTRA: O que as pessoas comemoram na Páscoa? Em sua opinião, a humanidade é consciente da importância dessa data?
PE. MIGUEL: Depois de intensa preparação durante os quarenta dias da Quaresma, (período que vai da quarta-feira de cinzas á quinta-feira Santa, que é um tempo de Oração, Jejum e Caridade) é chegado o grande momento em que toda a Igreja se reúne para celebrar a Páscoa, festa onde se revive a Paixão, Morte, e Ressurreição de Jesus.
Páscoa é a festividade mais importante para nós católicos e cristãos. Páscoa significa passagem e tem origem no termo hebraico “Pessach”. O “Domingo de Páscoa” celebra a Ressurreição de Jesus Cristo. A data é comemorada após a primeira lua cheia que ocorre no início da primavera, no hemisfério Norte. A data é sempre entre os dias 22 de março e 25 de abril.
Durante a Quaresma, os cristãos se dedicam à penitência para lembrar os 40 dias passados por Jesus no deserto e os sofrimentos que ele suportou na cruz. A Semana Santa começa com o Domingo de Ramos, que lembra a entrada de Jesus em Jerusalém - ocasião em que as pessoas cobriam a estrada com folhas da palmeira, para comemorar sua chegada. A Sexta Feira Santa é o dia em que os cristãos celebram a morte de Jesus na cruz. O Domingo de Páscoa celebra a Ressurreição de Jesus e sua primeira aparição entre seus discípulos.
A Páscoa já era comemorada antes da época de Jesus Cristo. Tratava-se da comemoração do povo judeu por terem sido libertados da escravidão no Egito, que durou cerca de 400 anos. Segundo a Bíblia o próprio Jesus participou de várias celebrações “pascoais”.Sem nenhuma dúvida, os cristãos católicos têm consciência desta grande festa, basta olhar para as celebrações que preenchem essa semana, conhecida como Semana Maior ou Semana Santa, onde todas as celebrações as Igrejas sempre repletas de pessoas. Desde o Domingo de Ramos, quando se inicia a Semana Santa, revivendo a entrada triunfante em Jerusalém, as procissões do encontro de Nosso Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores, Via-Sacras, Missa da Santa Ceia e Lava Pés celebrando a despedida de Jesus na última Ceia, (quinta-feira) no sábado santo, Vigilia Pascal, considerada como Celebração Mãe de todas as Celebrações, e no domingo onde celebramos a Páscoa de Jesus, onde a Vida vence a Morte.
EXTRA: O que representa a Páscoa e a Semana Santa para a Igreja Católica?
PE. MIGUEL: Os dias da Semana Santa - Domingo de Ramos abre solenemente a Semana Santa, com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Ele é recebido como um rei, mas os mesmos que o receberam com festa o condenaram à morte. Jesus é recebido com ramos de palmeiras. Nesse dia, são comuns procissões em que os fieis levam consigo ramos de oliveira ou palmeira, o que originou o nome da celebração. Segundo os evangelhos, Jesus foi para Jerusalém para celebrar a Páscoa Judaica com os discípulos e entrou na cidade como um rei, mas sentado num jumentinho (o símbolo da humildade) e foi aclamado pela população como o Messias, o rei de Israel.
Segunda-feira Santa - É o segundo dia que vem depois de Domingo de Ramos onde se recorda a prisão de Jesus Cristo.
Terça-feira Santa - Em nossa Diocese de Jales, por motivos pastorais, é Celebrada a Missa dos Santos Óleos. O bispo se reúne com o seu clero para celebrar a Missado Crisma, na qual são abençoados os óleos que serão usados na administração dos sacramentos do Batismo, Crisma e Unção dos Enfermos. Também temos a renovação das promessas sacerdotais.
Quarta-feira Santa - É o quarto dia da Semana Santa. Em algumas igrejas celebra-se neste dia a piedosa procissão do encontro de Nosso Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores. Ainda há igrejas que neste dia celebram o Ofício das Trevas, lembrando que o mundo já está em trevas devido à proximidade da morte de Jesus.
Quinta-feira Santa - É o quinto dia da Semana Santa e, na manhã deste dia, nas catedrais das dioceses, o bispo se reúne com o seu clero para celebrar a Celebração do Crisma, (nossa diocese por questões pastorais celebra-se na terça-feira santa) na qual são abençoados os óleos que serão usados na administração dos sacramentos do Batismo, Crisma e Unção dos Enfermos. Com essa celebração se encerra a Quaresma.
Neste mesmo dia, à noite, são relembrados os três gestos de Jesus durante a Última Ceia: a Instituição da Eucaristia, o exemplo do Lava-pés, com a instituição de um novo mandamento (ou “ordenança”).E é nesta noite em que Jesus é preso, interrogado e, no amanhecer da sexta-feira, açoitado e condenado.
A igreja fica em vigília ao Santíssimo, relembrando os sofrimentos de Jesus, que tiveram início nesta noite. A igreja já se reveste de luto e tristeza, desnudando os altares (quando são retirados todos os enfeites, toalhas, flores e velas), tudo para simbolizar que Jesus já está preso e consciente do que vai acontecer.
Sexta-feira Santa - É quando a Igreja recorda a morte de Jesus. É celebrada a Solene Ação Litúrgica, Paixão e a Adoração da Cruz. A recordação da morte de Jesus consiste em quatro momentos: A Liturgia da Palavra, Oração Universal, Adoração da Cruz e Rito da Comunhão. Presidida por presbítero ou bispo, os paramentos para a celebração são de cor vermelha.
Sábado Santo - É o dia da espera. Os cristãos junto ao sepulcro de Jesus aguardam sua ressurreição. No final deste dia é celebrada a Solene Vigília Pascal, a mãe de todas as vigílias, como disse Santo Agostinho, que se inicia com a Bênção do Fogo Novo e também do Círio Pascal; proclama-se a Páscoa através do canto do Exultet e faz-se a leitura de 8 passagens da Bíblia (4 leituras e 4 salmos) percorrendo-se toda história da salvação, desde Adão até o relato dos primeiros cristãos. Há também o batismo daqueles adultos que se prepararam durante toda a quaresma. A celebração se encerra com a Liturgia Eucarística, o ápice de todas as missas.
Domingo de Páscoa- É o dia mais importante para a fé cristã, pois Jesus vence a morte para mostrar o valor da vida. Esse dia é estendido por mais cinquenta dias até o Domingo de Pentecostes.
EXTRA: Por que as pessoas fazem jejum de carne nesta época do ano?
PE. MIGUEL: A abstinência e o jejum são formas de penitência interior. O Catecismo da Igreja Católica define penitência interior como sendo “Uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus de todo nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal e repugnância às más obras que cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo e a resolução de mudar de vida com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda de sua graça. Esta conversão do coração vem acompanhada de uma dor e de uma tristeza salutares chamadas pelos Padres de “animi cruciatus” (aflição do espírito, “compunctiocordis” (arrependimento do coração).” (CIC 1431).
Por aí percebe-se a importância da penitência interior que, dentre suas várias formas, inclui as citadas. Para mensurar mais precisamente a sua relevância, o jejum e abstinência de carne são o tema do Quarto Mandamento da Lei da Igreja: “Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja”.
A CNBB afirma que o fiel católico brasileiro pode substituir a abstinência de carne por uma obra de caridade, um ato de piedade ou comutar a carne por um outro alimento. Portanto, o quarto mandamento da Lei da Igreja está plenamente em vigor, a maioria dos católicos é obrigada a cumprir esse preceito, que não deve ser encarado como uma imposição, um sacrífico, mas sim, como meio de seguro de responder a apelo de Jesus à conversão do coração. É necessário que os cristãos se convertam, vivam intensamente a Quaresma a fim de converter esta sociedade que a passos largos, foge do Ressuscitado e cada dia mais se distancia do Reino de Deus.
EXTRA: Na sua visão, o comércio de chocolates faz com que as pessoas percam o foco do verdadeiro significado da Páscoa? Por que há esse costume de trocar ovos?
PE. MIGUEL: O ovo da Páscoa é um ovo feito de chocolate normalmente recheado com surpresas. É um símbolo de nascimento e vida e está relacionado com a Páscoa comemorada. Ovos da Páscoa pelos cristãos, pela representação da Ressurreição de Jesus Cristo, com a esperança de uma nova vida.
Presentear as pessoas com ovos é um costume antigo, comum entre os povos que habitavam a região do Mediterrâneo, do Leste Europeu e do Oriente. Durante as festividades realizadas com a chegada da Primavera, depois do Inverno, os ovos eram cozidos e pintados com desenhos lembrando as plantações que tinham início nesse período. A esperança de fertilidade do solo e de abundantes colheitas, eram representadas com a troca de ovos coloridos.
Atualmente, muitas pessoas têm o costume de colorir ovos da páscoa e oferecê-los a pessoas importantes.
Assim como a figura do coelho, por sua grande fecundidade, o coelho tornou-se o símbolo mais popular da Páscoa. É que ele simboliza a Igreja que, pelo poder de Cristo, é fecunda em sua missão de propagar a palavra de Deus a todos os povos.
EXTRA: Defina com suas palavras o que é “a passagem da morte para a vida”, segundo a Páscoa.
MIGUEL: A Páscoa no Segundo ou Novo Testamento é a passagem da morte para a vida – é a Ressurreição de Jesus de Nazaré, que havia sido morto na cruz. É a vitória de Deus sobre tudo o que fere e mata a vida. Jesus faz a sua passagem da morte para a vida plena, a partir da Ressurreição de Jesus temos o convite de Deus para participar da vida eterna. A sua Ressurreição toma agora o significado de libertação da morte para a vida eterna, está descrita nos evangelhos: Mt 28,1-8; Mc 16,1-8; Lc 24 e Jo 20.
Para nós cristãos, a Páscoa tem este significado, a Ressurreição de Jesus, a ressurreição para a vida plena, para a vida eterna, para uma nova vida de amor com Deus. A Páscoa tem exatamente esse significado pra nós: significa a passagem da “morte para a vida”, das “trevas para a luz”. Por isso a Páscoa é a festa mais importante para a Igreja Católica, pois nela se celebra o mistério da salvação. Onde os cristãos celebram a Ressurreição, após a morte e crucificação, de Jesus Cristo, que é a esperança de um dia também estarmos participando dessa Glória, na Ressurreição da carne, na vida eterna.