Recentemente, na última semana, comemoramos o feriado nacional do 7 de setembro, dia no qual encontramos nos livros didáticos e aprendemos na escola a ideia de que nos tornamos independentes.
Em primeiro lugar, é imperioso que saibamos que a nossa independência em relação ao Reino de Portugal foi um processo, com avanços e retrocessos, e não um único evento solto na teia de relações sociais.
Desde 1815 nossa condição colonial havia sido trocada pela de “reino unido” a Portugal e Algarve, como consequência direta da categórica fuga da Corte portuguesa pelo oceano Atlântico, até chegar às nossas portas, no ano de 1808.
Surge em Portugal, durante 1820, um processo revolucionário para os lusitanos, mas curiosamente reacionário em sua visão do Brasil, pois objetivava nosso retorno à condição de colônia.
Em viagem à São Paulo para lidar com as desmedidas exigências das Cortes de Lisboa que haviam se formado a partir da citada revolução, Dom Pedro recebeu de sua esposa, a importante Dona Leopoldina, auxiliada pela interessante figura de José Bonifácio, uma carta indicando a gravidade da situação.
Às margens do Rio Ipiranga, talvez com ímpeto renovado pela ideia de legar ao Brasil um novo patamar político, Dom Pedro faz soar o ilustre grito do Ipiranga. Desde o “Dia do fico”, em 9 de janeiro de 1822, nossa situação política já havia se radicalizado muito, e estávamos em combate contra as tropas portuguesas.
Mesmo depois de proclamada a independência no sétimo dia de setembro, as dificuldades se mantiveram vivas, pois não se conquista a real autonomia e consolidação de um novo Império por meio de meros reconhecimentos diplomáticos ou pagamento de indenização – como vergonhosamente tivemos que fazer.
A liberdade precisa ser estabelecida de fato, com um Estado e seu governo que faça representar de maneira fielmente e poderosa a cultura e o imaginário da população brasileira, protegendo-a de intervenções e interesses estrangeiros.
A partir desta perspectiva, comemorar o 7 de setembro é perder tempo e cometer um erro contra a própria nação, pois é evidente que lutamos ainda hoje contra os poderes tentaculares liberais, que tem conseguido nos aprisionar à realidade do imperialismo.
Não temos motivos para comemorar, pois a luta ainda não foi ganha, e da mesma maneira que resistimos às Cortes no início do século XIX precisamos, outra vez, resistir: é preciso que atualizemos dia a dia a obstinação de deixar a Pátria verdadeiramente livre.
Estamos como escravos, aprisionados em correntes que nos ligam a metrópoles noutros continentes, parasitando nossa energia – recursos materiais – enquanto nos impõem, com a ajuda de nossas elites nacionais, sejam elas vermelhas ou verde e amarelo, todo um conjunto de instituições e ideias que contrariam o real caráter da célula primária brasileira, tentando alterar de maneira forçada a mentalidade de nosso povo.
Quantos presidentes elegemos, de 1889 para cá? Quantos colocaram-se contra os desígnios e influências negativas vindas do estrangeiro?
A batalha pela real independência – que quando finalmente conquistada deverá ser, sim, comemorada em louvor – ainda não foi completada, sendo dura e repleta de episódios tristes.
Como interpretar o incêndio no Museu Nacional da UFRJ, ocorrido há dois anos, senão como uma vitória simbólica daqueles que tentam ainda nos oprimir? O edifício que outrora foi a residência de Imperadores teve suas imagens veiculadas por todo o mundo não pela grandeza da nação no qual está localizado, e sim como sinal de que estamos tombando e nos tornando cinzas.
No teatro da História, vemos as chamas consumirem tudo que temos e o que somos.
O Grito do Ipiranga não deve ser lembrado apenas entre as aulas de História ou em um único dia do ano, mas sim professado continuamente, até que tenhamos, em verdade, o que comemorar.