A Primavera no hemisfério sul começou oficialmente na última terça-feira, 22 de setembro, exatamente às 10h31, apresentando um raro fenômeno chamado equinócio de primavera: o dia e a noite tiveram o mesmo tempo de duração.
Minha percepção da Estação das Flores, vista da minha janela, resume-se a uma ou duas árvores floridas e um vaso, bem abaixo do beiral, onde costumo escorar-me com os braços cruzados, que abriga um espécime chamado rosa do deserto, cujo florescimento ocorre na primavera, com possibilidade de sucessivas florações no verão e outono, oportuno ao longo período de seca que enfrentamos recentemente, quando ficou perceptivo a ausência de flores na cidade.
Há que se levar em conta também a ideia que nos é passada com relação à visão norte americana das estações do ano, influenciada pela literatura e, em grande parte, pelos filmes, os quais retratam com fidelidade os aspectos da natureza em cada uma das divisões das épocas nas mudanças do clima, bem definidas no hemisfério norte.
Assim, para encontrarmos a Estação das Flores, em toda sua plenitude, ou viajamos para um país do norte, ou para cidades brasileiras como Holambra, onde podemos ver todo o esplendor da primavera revelado na infinidade de cores nas mais diversas espécies de flores e arbustos.
A palavra primavera tem origem no Latim prima vera, pois para os Romanos existiam somente duas estações: uma de longa duração, composta pela soma do que chamamos primavera, verão e outono, enquanto a estação mais breve era o hibernun tempus.
A estação mais longa se chamava ver, veris, palavra que deu origem a Verão, porém, em determinado momento, o começo da estação se chamou primo vere (primeiro verão) e mais tarde, prima vera. Por isso, a primavera é associada à ideia de “início”, “mudança”, a estação onde há uma transformação na natureza.
A própria palavra “transformar” traz em si esse significado, trans + formar, ou seja, mudar de forma, que por sua vez teve origem no vocábulo grego metamorphosis, “transformação, alteração”, formada por meta-, “além”, mais morpho, “forma, aspecto”, como faz a natureza na primavera: muda de forma. A vegetação que parecia morta no inverno se transforma em coisa viva, um galho qualquer, imperceptível, toma a forma de uma flor com beleza indescritível.
Mesmo que não percebamos de imediato a primavera, ela está acontecendo no mundo natural. Nesse exato momento, há uma vida mudando de forma, tomando um aspecto diferente do que era antes. Isso acontece porque chegou a época, faz parte do ciclo da natureza.
Temos a oportunidade, no meio da correria do mundo, quem sabe no final de semana, ou andando pela rua um pouco menos acelerados, de observarmos esse acontecimento exuberante.
Podemos fazer mais. Podemos observar nossas mudanças, a transformação de nossa natureza humana. Fazer mais ainda: propor a nossa própria metamorfose, a mudança da forma do meu “eu”, fazer florescer a imagem que encante a mim mesmo em primeiro lugar e que possa ser admirada, ser capaz até de exalar nova fragrância.
Se assim quiser, sua meta deve ser a de conseguir uma nova morfose. Para tanto, precisa determinar quando quer começar sua primavera.
Sérgio Piva
s.piva@hotmail.com