ARTIGO

O Método Socrático na Gestão Industrial

O Método Socrático na Gestão Industrial

Por Pablo Dávalos

Por Pablo Dávalos

Publicada há 3 anos

Todo sistema de produção possui dois indicadores relevantes: Takt Time e Lead Time. Especificamente quando falamos do primeiro indicador, podemos classifica-lo em dois tipos: Takt time escrito com a letra K, proveniente da palavra alemã Taktzeit, exemplificando a combinação de compasso e ritmo necessários dentro do contexto marketing e mercado para determinar a frequência de vendas e atendimento aos clientes dentro de uma linha de produção. Já o Tact Time com a letra C, pondera com maior afinco a capacidade de produção. Para calcular ambos, utilizamos como numerador a jornada, o objetivo. Mas a diferença acontece exatamente no denominador: no primeiro utilizamos a demanda e no segundo utilizamos a capacidade produtiva. Tact ou Takt são importantes para determinar o ritmo de trabalho e a folga de tempo disponível para atendimento à demanda, os dois indicadores são importantes para avaliar o número de setups máximos disponíveis para oferecer pontualidade aos clientes.

Há alguns anos, a General Motors enfrentou graves problemas globais e quase beirou a falência em suas operações. Somente não chegou ao abismo graças à intervenção e socorro do Governo Americano. Naquele tempo, a empresa possuía pequenos Tact times, e grande vantagem em Market Share nos Estados Unidos, mas quando os analistas avaliaram com perícia o Lead Time da empresa, ou seja o tempo de atravessamento no ciclo produtivo, o tempo de produção de cada carro, todos se depararam com operações pesadas, com uma GM passando por dificuldade de se adaptar à demanda, engessamento produtivo. A GM superou a crise e tirou boas lições de suas dificuldades nas operações globais, passou por uma renovação agressiva na Gestão e renovação do seu portfolio, apoiando-se em tecnologia de ponta para ter dado a volta por cima. A GM é um exemplo de empresa que foi Rica e Doente, mas hoje em dia é Rica e Saudável. Vejo muitas empresas que são Pobres e Doentes, e quando digo que são Pobres e Doentes me refiro a todas aquelas que possuem longos e demorados Tact times e infinitos Lead times em suas manufaturas. Existem também aquelas empresas que são Pobres, mas com Saúde, porque quando olhamos aquele Lead “timezinho” do produto dela, vemos que é rápido e com baixo custo, mas em contrapartida o volume de vendas deixa a desejar e possuem um Takt time com a letra K, longo demais. O objetivo do jogo é ser Rico e com Saúde, e para isso as empresas devem trabalhar em busca de pequenos Takt e Tact times e Lead Times menores, tudo ao mesmo tempo, tudo bem enxuto. A resposta irá aparecer em um indicador chamado Giro de Estoque, capaz de avaliar tempo de entrada e saída de produtos dentro das industrias, é por isso que ele é tão importante e notável.

Inúmeros indicadores e ferramentas de Gestão ou Liderança dependem primordialmente da inteligência. O que é inteligência? Inteligência é a capacidade que temos de resolver problemas. Temos então que determinar os limites de inteligência artificial e aquela natural, propriamente do ser humano. A diferença se demonstra novamente na solução de problemas, ou seja, quanto mais definidos são os problemas, quanto melhores estruturados são os padrões da existência dos problemas, quanto mais os conhecemos e menos nos escondemos deles, maior chance temos de resolve-los utilizando o intelecto, mas neste caso, a inteligência artificial passa a ser protagonista e a natural sai de evidência. Nenhum ser humano consegue vencer mais um robô que jogue xadrez, pois como explicamos, neste caso a inteligência artificial do robô sincronizou os milhares de padrões existentes em cada jogada inferiorizando a inteligência natural, que é incapaz de fazer o mesmo processamento de tantos dados assim em pouco tempo. O desafio então é determinar se nos próximos anos irá existir a consciência artificial, mas o que é consciência? É algo do qual somos dotados e que não deixa de ser também um algoritmo, que todos nós possuímos e que em micro milésimos de segundos (se existe essa unidade tão pequena) gera na gente um sentimento, gera uma intuição, e geralmente é a melhor resposta para problemas muito complexos. É aqui que se encontra a Inteligência humana, a perfeição e grandeza do que somos e como resolvemos tudo aquilo que é complexo.

Gestão as vezes é algo muito complexo, porque não temos que olhar somente uma máquina, não é somente olhar o balanceamento de capacidade, não é olhar somente o setup. Gestão é mais que isso, é olhar gente, olhar pessoas, é olhar que cada turno é um grupo de pessoas e que cada uma delas possui uma vida e limitações, Gestão é coração. É também olhar dinheiro, mas acima de tudo é olhar olho no olho e entender a capacidade de cada mão-de-obra disponível e respeitá-los como obra prima de Deus. Sinceramente temos evoluído bastante, desde o tear, a máquina a vapor presente na primeira revolução industrial, a eletricidade, a eletrônica, a conectividade da qual fazemos uso atualmente, a internet das coisas, o avanço científico, até os famosos big datas capazes de armazenar milhões de banco de dados, mas eu duvido que algo tecnológico vá substituir ou seja capaz de olhar todos os componentes da boa Gestão como nós seres humanos fazemos, pelo simples fato de termos o que nada científico tem: a consciência. Portanto, um dos papeis da inteligência natural deve ser potencializar a intuição e a consciência, aquela mesma intuição que fez com que o notável Einstein descobrisse a teoria da relatividade.

 A investigação filosófica feita em forma de dialogo consiste no Gestor conduzir ao colaborador a um processo de reflexão e descoberta de suas próprias capacidades, valores e objetivos. Com o uso de perguntas simples, dotadas de ingenuidade e humildade, podemos fazer a equipe revelar contradições presentas na forma de realizar processos em sistemas produtivos, e ajudar a todos então a uma tarefa de reengenharia, aprendendo a pensar por si mesmos. Este é o método socrático, no qual nunca dizemos o que tem que ser feito, ao invés disso fazemos apenas uma pergunta que leva a uma reflexão, e provoca a melhor resposta ou solução correta.



Pablo Dávalos

Engenheiro de Produção

Coordenador Técnico de Produção

Master of Business Administration MBA em Gestão Industrial pela FGV (em andamento)

Green Belt e Black Belt Six Sigma


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