ARTIGO

JOVENS QUE REAGEM E SE LEVANTAM

JOVENS QUE REAGEM E SE LEVANTAM

Por Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales

Por Dom Reginaldo Andrietta, Bispo Diocesano de Jales

Publicada há 4 anos

O que os 40 milhões de jovens de 18 a 29 anos, do Brasil atual, têm em comum? Vivem na incerteza e adiam seus sonhos. Uma pesquisa de maio deste ano, feita pelo Conselho Nacional da Juventude, em parceria com entidades de renome como a UNESCO, demonstra que uma das principais preocupações de nossa juventude, hoje, é a economia, o emprego e a renda. 50% dos jovens entre 19 e 24 já estavam desempregados antes da crise atual. Segundo o IBGE, o desemprego de jovens era de 27% em janeiro deste ano. Agora, é mais.

A maioria dos jovens brasileiros não tem muito a comemorar. Por isso, o Dia Nacional da Juventude (DNJ), realizado pela Igreja desde 1985, no quarto domingo de outubro, é celebrado este ano com reflexões acerca do maior desafio atual da juventude, que é sobreviver. Este 25 de outubro é, portanto, oportuno para os jovens de todos os rincões do Brasil intercambiarem seus dramas e se animarem com o lema do DNJ, inspirado no companheirismo de Jesus aos discípulos de Emaús: “Ouviu e junto com eles caminhou” (Lc 24,15-17).

Os discípulos de Emaús retornavam para casa tristes. A morte de Jesus frustrou seus sonhos libertadores. Jesus, no entanto, se pôs a caminhar com eles e puxou conversa, sem que eles percebessem quem era. Seus corações se aqueceram com o diálogo amigo inspirado na Sagrada Escritura. Finalmente, o reconheceram no aconchego do lar e no pão abençoado e partilhado. Jesus, então, desapareceu. Regressando imediatamente a Jerusalém, eles testemunharam aos discípulos de Jesus, o maravilhoso encontro com o ressuscitado. 

O que a atitude de Jesus junto aos discípulos de Emaús nos ensina sobre a forma de exercermos nossa missão, especialmente junto aos jovens de hoje, sem rumo e frustrados em suas expectativas de viver com dignidade? Evidentemente, necessitamos nos colocar a caminho com eles, fazer-nos próximos, conviver da forma que eles gostam, ouvir-lhes, saber colocar-lhes questões significativas, dialogar sobre o que realmente lhes faz sentido e nos deixar interpelar por suas necessidades, seus problemas e seus questionamentos.

Em 2019, um quarto dos jovens brasileiros nem trabalhavam, nem estudavam. Esses “nem-nem” enfrentam mais obstáculos ainda com a pandemia que se alonga, mostrando-se vulneráveis, também, do ponto de vista psicoemocional e espiritual: desanimam, esvaziam-se, envolvem-se com drogas e criminalidade, e até desistem de viver. Por isso, a sociedade precisa ser também “acompanhada” e transformada segundo critérios evangelizadores, para poder oferecer aos jovens as oportunidades que necessitam e têm direito. 

Outubro é, para a Igreja, o Mês Missionário, tempo para reavivarmos nossa missão, especialmente com os jovens, prioridade pastoral, esta, afirmada pelo Sínodo de 2018 e nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Trata-se, enfim, de evangelizar os jovens, mostrando-lhes por gestos de amor o quanto eles são amados por Deus e o quanto Deus quer contar com seus corações permeados de idealismo e entusiasmo, e com suas ações criativas, transformadoras da realidade e geradoras de vida.

Pesa sobre a juventude de hoje, um sistema que lhe massacra, lhe mantém na incerteza e lhe força a adiar seus sonhos. Cumpre-nos, portanto, em meio a tantas situações que impedem os jovens de desenvolver e expressar seu potencial de vida, transmitir-lhes a energia vital de Jesus, conforme ele o fez ao filho da viúva de Naim, já morto: “Jovem, eu te digo, levanta-te!” (Lc 7,14). Reavivemos essa missão de ajudar cada jovem caído pelo caminho a reagir e levantar-se, afiançando-lhe: “Tua fé te salvou!” (Mc 10,52). 

Jales, 21 de outubro de 2020.

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