ARTIGO

Nem conservador, nem progressista: O totalitarismo é entregue pelos Correios

Nem conservador, nem progressista: O totalitarismo é entregue pelos Correios

Por Gabriel Goes

Por Gabriel Goes

Publicada há 3 anos

Tendo uma formação em Ciências Humanas, me acostumei a ouvir sobre política dentro da ótica de “esquerda x direita” ou “capitalismo x socialismo”. Percebo hoje, no entanto, que os donos do mundo ultrapassam essa simples dicotomia.

As grandes corporações de tecnologia efetivamente controlam nossa vida hoje, com uma assustadora e paradoxal imparcialidade. O interesse desses conglomerados é o lucro e a capacidade de gerar influência em nossas vidas, acima de qualquer ideologia que possam vir a defender - e estas serão defendidas, conforme o momento pedir e o horizonte de lucros possíveis apontar.

Se você vende livros, e deseja ter um público maior do que apenas sua própria vizinhança, precisa da Amazon. Logo, caso esta discorde da sua visão de mundo, você é impedido de negociar nos vastos domínios de Jeff Bezos, e vê sua carreira enormemente prejudicada.

Caso você venda cursos ou ainda outros serviços pela internet, precisa inevitavelmente de processadores de pagamento. Em uma situação na qual estas empresas não gostem de você, simplesmente te chutam de lá e sua renda cai sensivelmente.

Inúmeros exemplos abundam. Logo chegará o momento em que sujeitos terão suas contas bancárias canceladas e seus planos de saúde negados porque ofendem a sensibilidade liberal-cosmopolita.

 Sua participação no labirinto de emoções e fenômenos que é a sociedade Contemporânea depende da sua habilidade de ter acesso a tais recursos tecnológicos. Logo, estar impedido de acessar a tecnologia, é estar fora de uma sociedade cada vez mais inserida no vórtice tecno-cientifico. Por corolário, para estas organizações te expulsar da sociedade não é nada difícil.

Dizem que totalitarismo é a submissão da vida privada ao interesse do Estado. Pergunto: temos vida privada hoje, além de raros momentos e lugares em que o celular “não dá sinal”? Como o personagem de 1984, de Orwell, devemos considerar que estamos sempre vigiados. Porque estamos.

A tecnologia acabou com a vida privada e instituiu uma espécie de “totalitarismo terceirizado”, em que os agentes do regime totalitário vem por encomenda, parcelados em várias vezes, em belas caixas coloridas, com o intuito de “facilitar nossas vidas”.

É um totalitarismo mais refinado, em que o tapa é dado com luva de pelica. Sem gulags ou fuzilamentos, afinal estes não combinam com o modus operandi dos nossos novos senhores, o castigo é o ostracismo econômico que te afasta da sociedade.  

O Estado apenas vê tudo isso passivamente, visto que cada vez mais suas funções se direcionam justamente para a iniciativa privada. Portanto, discutir política dentro dessa ótica monocrômica de conservadores contra progressistas é ter uma visão apenas parcial da realidade. 

A moda, hoje, é que as empresas defendam um lado do espectro político. Mas amanhã, defenderão outro, se assim a relação de controle mercadológica pedir.

 Devemos passar a discutir o mais rápido possível a relação desses novos impérios – que superam em poder o romano – com as nossas vidas, porque não está distante uma realidade em que seremos obrigados a compactuar com essa superestrutura já protegida pelo Estado, pressupondo a aquisição de seus valores, ou no mínimo a não rejeição, pois quem se recusar, será proibido de comprar ou vender. De maneira quase bliblicamente profética.

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